Não me levem a mal, não sou Stanislaw

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Ligeiramente editada é republicação do texto do DOM TOTAL . ((original aqui)
Por Ricardo Soares*

Começo dedicando a crônica a um amigo meu, Luca Paiva Mello,realizador audiovisual inserido no mercado, que  me mandou incisivo recado por rede social dizendo : "Pô, Ricardo. Use mais esse humor e menos guerra. Tão mais eficiente e faz bem pra saúde!". Ele se referia ao constante mau humor no qual embebo meus textos tanto pra meu blog como para esse DOM TOTAL.  Pior ( ou melhor) que ele tem razão. E eu juro que tento. No entanto, não me levem a mal, eu não sou o Stanislaw.
O Stanislaw supracitado é o magnífico e imortal Sérgio Porto que usava como pseudônimo o Stanislaw Ponte Preta para assinar os seus "Febeapás" ( Festivais de Besteiras que assolam o país)  que continuam firmes e fortes todos os dias a nos tirar não apenas o sono mas as esperanças.

O recado incisivo do meu amigo do audiovisual é corroborado por uma amiga mineira (e outros queridos  e queridas mais) bailarina e educadora que me conclama também a que eu abrace o meu lado Stanislaw. Juro meus queridos e queridas que eu tento. Faz escuro mas eu tento. Deveria tentar até muito mais na medida em que uma diabetes me persegue e um infarto já ( quase) me derrubou.
Ao escrever mandamos recados, óbvio , e muitas vezes não são exatamente os recados que os destinatários querem receber na medida em que me abraço ao meu rancor e ao rancor alheio para falar de tanta coisa obtusa, errada, da cara de pau deslavada aos desmandos e a justiça seletiva. Muitas vezes podemos sim tratar desses temas com uma sustentável leveza de ser. Mas é que não aprendi direito. Não me levem a mal , não nasci Stanislaw , aquele que conseguiu rir e ironizar das obtusidades nativas nos anos 60 sem perder a classe e compostura. Fora que elegia em suas colunas as mulheres mais saborosas do Brasil com a peja de "as certinhas do Lalau" que também virou concurso de beleza  onde figuravam vedetes de primeira grandeza, como Anilza LeoniDiana MorelRose RondelliMaria PompeoIrma Alvarez e outras .
Dizem que escrever com o fígado como eu faço muitas vezes é ruim para o coração. Em minha defesa posso dizer que apesar disso sobrevivi a um "infartaço" enquanto que o Sérgio Porto (Stanislaw) com sua leveza e tudo mais foi ceifado por um infarto aos 45 anos. É e sempre será insubstituível e é pena que as novas gerações não o conheçam tanto. Pelo menos ele  não viveu para presenciar o nefasto AI-5 em dezembro de 1968 e ( grande honra) em sua memória um grupo de jornalistas e intelectuais fundou o semanário O Pasquim, em 1969 que reunia talentos enormes como o dele.
"Todas as aspirações da carreira de Aécio viraram pó?". Foi essa tola frase de gosto duvidoso de minha autoria que fez meus amigos quererem que eu escreva com mais humor e menos rancor.  Ela não é digna de uma única frase do Stanislaw mas em nome do pai do Febeapá e dos meus amigos juro que vou continuar tentando ser mais da linha do "faça humor não faça a guerra". Mas ,convenhamos, não me levem a mal. Está difícil rir no país do carnaval.
  • *Ricardo Soares é escritor, diretor de tv, roteirista e jornalista. Publicou 8 livros e dirigiu 12 documentários. Autor do blog Toda Prosa em www.todoprosa.blogspot.com

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