Mariposa entre as luzes da mídia

publicado originalmente no DOM TOTAL...(clique aqui)
Andando por uma praia de Cabo Frio, vento agradável contra o rosto, sensação de estar segurando a mão do meu falecido pai , me dei conta que estou com a mesma idade que ele estava quando seu universo entrou em completo desencanto. Aí segurei mais  forte a sua mão imaginária  para não soçobrar porque não quero ser derrotado onde ele se dobrou , ainda não estou na fase do “o que era doce se acabou”.
Essa caminhada matinal me trouxe à mente que justo nesse mês de junho de 2018 completo exatos 40 anos de atividades profissionais ao redor e dentro da mídia. Muita estrada na imprensa escrita, na televisão, em rádio, em veículos múltiplos , em lindas empreitadas e enormes roubadas. Se contar o ano de 1977 são 41 anos mas na verdade entrei  como repórter de verdade, com salário de repórter e tudo mais , em uma redação de uma revista da editora Abril nas remotas instalações da rua do Curtume na Lapa de Baixo, São Paulo, em junho de 1978.
Faróis retrovisores ativados não quero tomar o trem da melancolia até porque amigos queridos que comigo partilharam aqueles momentos estão em outras dimensões, talvez mais felizes do que a nossa.  O que me causa real estupefação é o tempo que voou veloz. Quando vi se passaram 40 anos e não me sinto nem um pouco preparado pra pendurar as chuteiras embora as configurações do jornalismo que conheci e pratiquei estejam completamente desfiguradas. O que se faz hoje não é jornalismo na maioria dos casos mas uma subespécie de ativismo patronal. Os jornalistas moldados pelos rostos disformes do mercado corroborando teses defendidas pelos seus empregadores que antes utilizavam os editoriais de seus veículos para defenderem suas causas mas hoje disseminam parcialidade e preconceito por todos os espaços de seus veículos  numa prova cabal de que o melhor jornalismo que se vê  hoje no Brasil é praticado por veículos de fora que retratam nosso país daqui para o exterior. Exemplos : El País Brasil , BBC Brasil, Deutsche Welle. 
Me recuso a crer que vivo no ocaso profissional. Ou  no ocaso geracional já que muitos dos companheiros de geração andam por aí vagando melancolias e chorando pitangas.  Mesmo sabendo que não prezam muito a experiência acumulada, de que nos consideram uma espécie analógica , que não se preze muito o conhecimento e a leitura eu sigo de certa forma lépido e solto gostando de escrever, de perguntar, de questionar, de tentar criar dentro de uma profissão que tornou-se insipida, inodora, anódina.
Da  praia em Cabo Frio vejo dunas. Atrás delas todos os anos passados numa carreira múltipla. Um homem velho se exercita ao lado de um cachorro  de frente para o mar. Poderia ser meu pai mas não  é . Meu querido pai não aprovava minha profissão. Me preferia engenheiro. Mas esse velho passageiro que se exercita olha pra trás, me vê e sorri em sinal de aprovação. Parece dizer : “vai lá e reinventa a roda”. Afinal, agora, reinventar é o verbo da moda.

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