FICÇÃO COLOMBIANA DO LE MONDE DIPLOMATIQUE
centro de bogotá
Desde 2001 por conta da realização de um documentário para a Tv Cultura tenho ido a Bogotá com frequência. Isso me permite, modestamente, dizer que trata-se de um grande equívoco retratar a capital colombiana como uma cidade que ficou livre de seus mais agudos problemas como pode parecer ao leitor que tiver nas mãos a primeira edição brasileira do LE MONDE diplomatique que acabou de ser lançada entre nós. Não que o periódico distorça Bogotá para seus leitores. Mas inadvertidamente José Tadeu Arantes, editor da edição brasileira, dá duas bem fornidas páginas ao ex- prefeito de Bogotá, Antanas Mockus, que tenta passar a impressão de que após dois mandatos (1995-1997 e 2001 -2003) revolucionou a cidade e a transformou em um modelo de excelência o que não é verdade.
O pecado do bem intencionado Arantes foi dar voz a Mockus sem ter visitado Bogotá pra comprovar "in loco" que pouco do que diz o ex -prefeito bogotano é real. O politico foi entrevistado "em uma fria manhã paulistana" como diz seu entrevistador. E talvez inspirado pelo friozinho teceu uma porção de fantasias quentinhas sobre sua gestão. Fico feliz que LE MONDE diplomatique esteja entre nós. Mas lamento o fato de em seu primeiro número ter dado espaço a um politico que adora factoídes e inventa toda sorte de artificios pra se manter na mídia . Mockus, matemático e filósofo, filho de lituanos não é levado a sério na Colômbia e sequer tem relevância politica depois de seus dois mandatos como prefeito de Bogotá. Tanto isso é verdade que quando se candidatou a presidente da república nas eleições de 2006 obteve apenas 1,47% dos votos. É tido como um clown , uma caricatura de si próprio. Surpreendente é dizer que sim, Bogotá é mais bonita e hoje tem melhor qualidade de vida que São Paulo . Mas daí a dizer que é hoje um paraíso na terra a partir da gestão de Antanas Mockus é verdadeiramente absurdo.
Comentários
Abraço
Carolina (sobrinha Alfredo)
Rogerio Ribas
Blog peda 2007, valeu mesmo.
Genivaldo- Eunápolis- Bahia
Infelizmente o debate de ontem não abriu para a participação da platéia e selecionou as perguntas. Por isso, gostaria de fazer uns comentários:
1 - Sobre a violência no país, acho importante marcar que a violência política realmente está presente desde muito tempo. Isso aparece de forma muito forte em Cem Anos de Solidão e os conflitos descritos entre liberais e conservadores no século XIX. A Elite colombiana sempre usou da eliminação física de seus adversários como seu principal instrumento político.
2 - O principal ponto que gostaria de tocar no debate era a legalização das drogas. Infelizmente minha pergunta foi deixada de lado. Parece-me que hoje o tráfico é tão importante para a economia da Colômbia e do mundo, que não há interesse por parte do capitalismo em acabar com ele. É só pretexto para justificar outros interesses como a militarização do planeta.
3 - O termo terrorismo atualmente é utilizado pela grande mídia para estigmatizar a resistência armada no mundo inteiro. Os terroristas são sempre as FARC ou o Hamas, mas nunca o Estado de Israel ou a CIA. Aliás, os EUA sempre financiaram terrorismo quando lhes interessou. Irã e Nicarágua são apenas dois exemplos. Na minha opinião, as FARC são tão terroristas quanto a resistência antifascista na França ou os Vietcongs. Nunca podemos deixar de separar a violência do oprimido da do opressor. A autodefesa é legitima de quem foi agredido historicamente, que no caso da Colômbia é o povo pobre, na maioria das vezes indígenas.
4 - Considero que seu vídeo termina de forma pessimista. Realmente a situação é dramática, mas poderia apontar mais para a solução negociada do conflito. Coisa que estava em um estágio bem mais avançado antes do Uribe chegar à presidência. Apesar de ser simpático às FARC, que tem muitos problemas, mas é uma reação legítima do povo colombiano às suas elites, quero acreditar que seja possível uma saída negociada para o conflito.
5 - Por último, gostaria de saber se você tem algumas dicas para realização de documentários na área de história e América Latina. Principalmente na captação de recursos. Junto com três amigos jornalistas estou querendo produzir nessa área. Boa sorte na produção do documentário e espero que possa ter contribuído no tema.
Se conseguir um tempinho escreva-me no rcvalente@yahoo.com.br. Um abraço,
Rodrigo
Se possível relate no blog mais fatos interessantes sobre sua viagem e como o povo daquele país sobrevive em meio a tanta turbulência.
Picutta.c