Direto do Festival Internacional de Cinema do Rio
por Tania Celidônio
Hoje vi dois filmes que me deixaram perplexa: SILENCIOSA LUZ (foto acima), que ganhou o prêmio do juri em Cannes este ano e HUMILHAÇÃO, uma produção japonesa de 2005.Os dois são filmes em que o desespero humano é mostrado e contado quase que contemplativamente. No primeiro filme (diretor mexicano e produção mexicana, francesa e holandesa), um homem que vive numa comunidade de menonitas no norte do México (uma seita de anabatistas fundada no século 16) se apaixona por uma outra mulher que não é a sua. A luz, no filme, é um personagem. O som da natureza.....outro personagem. O silêncio entre as pessoas é algo quase insuportável. E quando você acha que não vai mais aguentar alguém fala uma frase tipo definitiva, saca? O final é supreendente.
Do outro filme, HUMILHAÇÃO, saí embasbacada. Confesso que acho fascinante as diferenças entre as mais variadas culturas existentes neste nosso planeta. Mas no Japão o bicho realmente pega. Uma jovem que trabalhou como voluntária de causas humanistas no conflito do Oriente Médio e que chegou a ser refém de alguma fação em Amã, na Jordânia, volta para o Japão e é simplesmente execrada pelos habitantes da pequena cidade onde mora com seus pais. Até o namorado a culpa e a acusa de egoísmo por ter abandonado o país em vez de ficar e cuidar da cidade onde nasceu!!! Ela perde o emprego de arrumadeira num hotel, o pai é praticamente obrigado a se demitir por conta desse "deslize vergonhoso" da filha e a vida da família se transforma num inferno.O filme é baseado em fatos reais - não vou contar mais para não ser desmancha prazer - e eu queria muito entender por que uma comunidade inteira se volta contra uma jovem de vinte e poucos anos que resolve passar pela experiência fundamental de levar a sua solidariedade e o seu trabalho para um canto do mundo onde o sofrimento e a perda são cotidianos. Será que alguém pode me explicar?
Comentários
simples assim, uau!
li o blog de ponta a ponta... e eu te digo...
da forma mais simples possível...
UAU!
Já linkei vc lá no meu chá, lógico! É sempre um prazer vir aqui!
Bom, eu amo cinema e ainda mais filmes que mostram as várias faces dos sentimentos e relacionamentos humanos...o conflito de culturas, relatado no segundo é sempre muito interessante. O que pra eles é normal, olhando daqui parece mto radical...acho fascinante!Vou anotar o nome desses 2 pra ver assim que puder.
Pena que aqui onde moro é uma cidade pequena de SC e não tem cinema...é o q sinto mais falta aqui, o resto é perfeito!
Bjos pra vc e nos "vemos" em breve!
tem msn?
me add
sacrboroughfair_1920@hotmail.com
bom domingo também, espero que o seu seja mais animado que o meu! Mãe e pai vendo Qual é a música, amigos dormindo pós balada, falta de apetite, e ressaca já viu!
Nunca parei de pensar numa equivalência literária para Marlon Brando, mas vou pensar e ver se descubro alguém.
No mais, obrigada pela visita e de hj não passa, vou te linkar sem falta!
Alias, apesar de morar no RJ, não fui ao Festival do RJ, somente uma vez e adorei. Moro longe da maioria das salas e não tenho a sorte de ter amigos que gostem desse tipo de filme, digamos assim para se aventurarem a ir até lá. Uma pena :(
bjimm
Andrea
O convite para voltar fica aqui,
um beijo e boa noite deste lado do Atlântico
Não é Tubarão minha cidade. Moro perto de Chapecó, é bem na ponta oeste de SC. Se tropeçar aqui eu caio na Argentina...kakaka
Pena que não caio direto em Bariloche...=P
Bjos, querido!
Um casal de classe média francês abraça a causa da libertação chilena e do aborto em plena campanha (vitoriosa) de Salvador Allende.
Julie, a diretora, consegue uma coisa incrível, pelo menos foi assim que aconteceu comigo: de repente você volta pra sua infância e revê aquele filminho maluco de quando ouvia discussões, acusações e ponderações vindas diretamente do mundo dos adultos,lembra? Toda uma série de "ões" que não faziam o menor sentido e que nos deixavam profundamente inseguros. Pois é esse processo de contato com a dura realidade dos adultos - que em muitas circunstâncias não conseguem proteger seus filhos porque ser gente grande pode ser também muito difícil - que Julie administra e dirige com maestria. Somos jogados num turbilhão de sensações vividas por Ana que tenta desesperadamente entender o que está mudando na vida dos seus pais e no mundo. E sentimos a angústia que ela sente quando se dá conta de que o Chile, a América Latina, o aborto e depois o fim do sonho alteraram para sempre o fluxo, até então tranquilo, de sua infância. Mas Ana não perde completamente a inocência e uma brincadeira de roda pode fazê-la esquecer, por alguns distantes, a tristeza de ver os pais arrasados com o assassinato do presidente chileno.Sensacional.
Nem ia comentar o outro filme pra nào escrever demais mas acho que vale a pena sublinhar, aqui, que MUNDO LIVRE OU IT'S A FREE WORLD, de Ken Loach, só me faz admirar cada vez mais esse militante do cinema político e engajado. Uso engajado aqui de forma elogiosa, ok?
Loach foi buscar nas profundezas da mesquinharia globalizada o tema para o seu filme mais recente: os imigrantes ilegais que chegam aos montes à Inglaterra da rainha Elizabeth e da princesa Diana. Todos em busca de uma vida melhor. E mostra como o tal mundo livre perdeu completamente a compostura. Ou seja, fica difícil encontrar traços de humanidade em seres humanos acostumados com o desrespeito no dia-a-dia. E estou descrevendo aqui uma inglesa de 33 anos que de tanto ser assediada e desrespeitada no trabalho passa a acreditar no "vale tudo por dinheiro e danem-se todos desde que eu me dê bem".
Um filme que você começa a assistir sem achar que a barra vai pesar. E quando pesa faz com que o espectador cruze e descruze as pernas com desconforto, inúmeras vezes.
Acho muito interessante que o Loach tenha ido buscar no pai da inglesa de 33 anos algum resquício de solidariedade com a galera indesejada pero necessária do terceiro mundo que, neste filme, engloba (uops) de Brasil à Polônia, passando pelo Irã. Mas a distância entre o mundo do pai, que está no mesmo emprego há 30 anos, e o da filha, que já passou por 30 empregos diferentes em poucos anos, é instransponível. E la nave va. Obrigatório, minha gente!