METRÓPOLIS, 20 ANOS
Estou no Rio mas acredito ter passado totalmente batido o aniversário de 20 anos do programa Metrópolis da Tv Cultura, um dos poucos sobre artes e espetáculos da televisão brasileira. Não sei se a efeméride deveria ser lembrada ( afinal o que diferem 20 anos de 10 anos ou 15 anos de programa ?) mas dado o estardalhaço que fizeram com os 20 anos do Roda Viva há dois anos achei que Metrópolis pudesse ser lembrado também.
Lógico que tenho motivos sentimentais para lembrar da data. Meu filho tinha acabado de nascer e no dia 4 de abril de 1988 uma câmera subjetiva literalmente abre a porta vermelha do maior estúdio da Tv Cultura e me acha contra um belo painel pintado pelo grupo "Tupi Não Dá". Meio sem saber o que fazia ali após vários anos no jornalismo cultural impresso eu dou boa noite ao telespectadores e inauguro oficialmente o programa que abria gloriosamente com um show da ainda desconhecida Marisa Monte e o grupo Nouvelle Cuisine. Nelson Motta, descobridor dos sete mares de Marisa, era um dos entrevistados e ainda me lembro da alegria nervosa de Maria Amélia Rocha Lopes, Lucia Soares, Delta de Negreiros, Ninho Moraes, Marisa, Marina , Ernesto Hypolito e tantos outros colegas que festejavam a entrada no ar de um programa que hoje se mostra longevo embora nem sombra do que foi.
Não farei comparações entre ontem e hoje pois sou suspeito e há muito tempo não assisto o programa. Os tempos eram outros , não havia tv a cabo e nem internet e chegávamos aos píncaros de 5 a 7 pontos de audiência no horário o que hoje é impensável para os padrões de um ponto de audiência da Tv Cultura. O programa era um grande happening diário de hora e meia com bar, enorme área de circulação e enorme palco fixo de cimento , obra de imenso mau gosto concebida por um dos maiores egos da cenografia brasileira. O programa foi uma criação coletiva e fui alçado da condição de redator do programa a apresentador- iniciando assim minha já longa carreira televisiva- por obra e graça de Roberto de Oliveira que realizou um belo trabalho naquela emissora pelo tempo que lá permaneceu muito embora quem leve a fama por isso seja outro Roberto bem menos brilhante e muito mais vaidoso.
Hoje o programa se limita a ser uma agenda cultural sobre a qual não vou emitir juizo de valor pois ali ainda trabalham pessoas a quem prezo muito e são bastante esforçadas para manter um minimo de padrão de qualidade em meio a tantas deficiências. Nesses anos todos muitos se alternaram na apresentação entre esse que vos fala , Laura Wie, Lala Dehenzelin , Maria Amélia Rocha Lopes, o sempre esquecido Cadão Volpato ( esquecido pois enfrentou um sujeito que se arvora ser o dono do programa até hoje ) e Lorena Calábria que na minha modesta opinião foi a melhor das apresentadoras e hoje substitui a chatérrima Astrid Fontenelle num programa do GNT. Atualmente quem apresenta o programa é o gaúcho Cunha Jr. muito melhor como repórter cultural do que como apresentador.
Se tenho saudades daquele tempo ? sinceramente não sei. Sei apenas que foi muito bom participar da construção de um programa cultural como esse - que de certa forma renovava um outro chamado "Panorama" - que vem se desconstruindo durante todos esses anos. Ou melhor,se diluindo de sua importância e amplitude. Metrópolis teve como colaboradores gente do quilate de Caio Fernando Abreu, Edmar Pereira, Kid Vinil e muitos outros. Está mais do que na hora das tvs públicas brasileiras reinventarem a fórmula em busca de formatos que não enchem a bola apenas das atrações culturais que cortejem o mercado e os patrocinios e que sempre venham a bordo de globetes e enormes estratégias de marketing pra se divulgar. Um pouco de curiosidade ao Metrópolis cairia bem no momento em que completa 20 anos. Afinal ter vinte anos pode ser muito jovem ou muito velho dependendo de quem enxergue ou de quem veja.
Comentários
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