TERRA DOS ÍNDIOS
Sem muito alarde a Tv Brasil exibiu na madrugada passada o documentário "Terra dos Índios". Realizado em 1978 e com a direção de Zelito Viana não entrarei nos méritos estéticos do documentário ( que tem um tom geral monocórdico e tedioso) mas quero me ater ao fato de que 30 anos após ser realizado a triste realidade ali denunciada continua inalterada e está muito, muito pior. Zelito mostra inúmeras comunidades indígenas Brasil afora que tiveram suas terras roubadas com os indios tendo seus direitos vilependiados. A barbárie de sempre. Ontem ,por coincidência, o jornal "O Globo" teve como manchete " Governo terceiriza a Ongs política indigenista do país" o que , em tese, dá razão ao que diz o general Augusto Heleno, comandante militar da Amazônia, que diz ser caótica a nossa política indigenista. O ex-presidente da Funai , Marcos Pereira Gomes, dá razão ao general . Pelas estatísticas oficiais hoje teríamos 740 mil índios no Brasil distribuidos em reservas que ocupam 12% do território nacional como a polêmica reserva Raposa Serra do Sol em Roraima cujos limites não são respeitados por belicosos plantadores de arroz que vieram do sul do Brasil. No imbroglio os militares argumentam que a reserva fica em estratégica área de fronteira . O governo diz que há uma faixa que é reserva policiada pelo exército que não teria o que temer em relação aos limites das fronteiras indígenas. Enfim, passaram-se cinco séculos, os índios são nossos elementos fundadores e até hoje os direitos deles não são minimante respeitados embora muitos digam o contrário e protestem com veemência em relação à demarcação das fronteiras indígenas. Simplório ou não eu mesmo não estaria digitando essas mal traçadas linhas não fosse em passado remoto meu bisavô tropeiro ter roubado de uma tribo a bisavó Lúcia , formosa e brejeira flor nativa, que ficava no caminho dele entre o Mato Grosso e o extremo oeste do estado de São Paulo.
Comentários
E parecida com da minha avó, que estava de casamento marcado com um loiro de olhos azuis, super bom partido (como diriam os mais antigos).... e fugiu com meu avô, mulato e capataz da fazenda do pai dela.... rs
bjs
Mara
Que história interessante do teu bisavô e sua bisavó? mas ela fugiu porque queria ir com ele, não?
Bjs
Exemplos de índios aculturados é o que mais existe por aí, mesmo os "defendidos" legalmente.
Basta dar um pulinho ali em Parati e ver aqueles mendigos travestidos de índios, visão deprimente de um povo que já foi orgulhoso.
Ou um pouco mais longe, em Porto Seguro e arredores: bandos de camelôs-índios perfeitamente conscientes de "valores de mercado", até balbuciando um inglês pra gringo entender uma barganha sobre colares e brincos. Crianças na lida. Pedágio na aldeia.
O triste é que o mal já foi feito, há séculos vem sendo urdido, está no cerne da questão humana, não há volta.
Índio x capital, uma mistura terrível, mas inevitável.
Ouro, meus caros: esse é o ponto.
Não mais acredito no índio como o último exemplo do "homem bom". No máximo, um homem comum, com outras tradições, sim, com outras regras, talvez. Mas já corrompido pelo vírus "mercado".
Ou alguém acha que uma reserva valio$a dessas vai servir como uma Xangrila contemporânea?
Tenho pena.
De todos nós.
Tenho uma história interessante também para colocar na roda: o primeiro antepassado de meu pai que aportou aqui no Patropi veio fugido lá de Portugal após sequestrar uma...freira!
Infelizmente, não se tem notícia da dita cuja.
Mas gosto de imaginar que ela ficou desolada com o desfecho do embróglio romântico... rsrsrs
Abraços
Abraços
Sortudas nossas avós... rs
E agora ler o post e todos os comentários é muito interessante...
Contar como eles chegaram às Minas Gerais vai ser longo, e o pior, triste.
Mas vamos a alguns recados/observações:
Àqueles que questionaram a política de mercado "adquirida" pelos indígenas - o governo dá a eles (em todas as casas) sinal de TV à cabo, a nossa janela de consumo. Acho que já é uma primeira reflexão.
Os espaços, ainda hoje, são tomados à revelia. Como exemplo não divulgado na mídia - na Bahia os Pataxó que ainda restam estão sendo sorrateiramente retirados para a construção de um porto. Os planos megalomaníacos são de retirada do marco de descobrimento do Brasil (Cabrália) e o local se transformará em um dos principais portos do país. A nossa porta de consumo...
Então mais uma vez Ricardo, parabéns em levantar questões que são sérias e vão além do nosso mundinho que não mudou.
"Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem.
Porém o melhor fruto, que nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar".
(Trecho - A Carta de Pero Vaz de Caminha).
Desculpe o tamanho do comentário, mas não resisti.
esse porto a que você se refere, tenho a impressão que deve ser o de Barra Grande, uma maravilha de "cidade", província, município, naõ sei bem, na Península de Maraú, pertinho de Itacaré, paraíso dos surfistas.
É o maior porto natural (profundidade das águas) do Brasil, onde já existem até fundações abandonadas da época do Juscelino.
O lugar é uma pérola da natureza, uma delícia onde repousa a Ilha do Sapinho e outras pequenas praias ainda preservadas que estão fadadas ao desaparecimento: imagina o que um porto para escoamento de minério vai trazer à região!
Mas ali não existem mais índios de nenhuma tribo. Os sobreviventes Pataxós estão bem abaixo, ali pelas águas de Porto Seguro.
E, ouso dizer, uma tribo já exterminada, aculturada, pobre, bêbada, infeliz, deprimente mesmo.
Tão deprimente quanto o suicídio meio "haraquiri" que nos conta Maria Sem Vergonha. Quer saber? Acho que aqui, nesse caso, os índios já "foram suicidados"(lembrei-me agora de Artaud em "O suicídio é uma solução?").
Se Caminha queria "salvar essa gente", seu desejo naufragou há muito.
Não tenho a menor pretensão de trazer nenhuma solução, até porque acho que não há soluções para a raça humana, a não ser o extermínio. Parece brincadeira, mas cada vez mais me convenço disso: somos um câncer na Natureza.
Os índios, pobres coitados, desaparecerão tal como os "sonhamos". A não ser que os discos voadores venham para nos resgatar, como preconizava Nina Hagen (lembram da bruxinha pop dos anos 80?).
Desculpem se estou meio bêbada nessa véspera de feriado.
E desculpe, Ricardo, por utilizar assim esse seu espaço cibernético.
Mas foi você que provocou o tumulto...E, lembra?: "Celacanto provoca maremoto!"
Suicidados? Todos estamos, mas vivas ao "otimismo delirante"!
E não era salvação e sim danação...
Beijos a todos
Nadia