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Vinte e nove anos depois de me diplomar jornalista e trinta e um anos depois de me iniciar na profissão sou pego de surpresa hoje, aqui em Aracaju,com a estarrecedora notícia de que nosso Supremo extinguiu a obrigatoriedade do diploma para exercer a profissão, exigência que completava quarenta anos. É impressionante que um Supremo composto por alguns ministros de pouca ou nenhuma credibilidade ( a começar pelo presidente Gilmar Mendes) e que nenhuma familiaridade tenham com os meandros e nuances de nossa profissão possam decidir o destino de milhares de profissionais que estão ativos e outros tantos que são despejados no mercado de trabalho todos os anos. Tantos anos de debates e inócuos encontros acadêmicos que desaguaram em argumentações totalmente falaciosas como a do ministro Ayres Brito que diz que jornalismo é mais literatura que ciência daí poder ser exercido por qualquer um. Ora ministro, jornalismo é jornalismo. Não é nem ciência nem literatura. Só pode achar que é literatura quem de fato nada sabe do dia a dia dessa cada vez mais pragmática e desumanizada profissão. Mas não vou aqui tecer loas sobre assunto tão controverso pois esse não é o tema desse post e sim a minha sensação de ter perdido anos de minha vida em busca de um diploma que agora nada vale porque Gilmar e seus profetas decidiram assim. Triste o país que tem um Gilmar como presidente de seu Supremo. Mas esse também é outro assunto. E dos mais controversos. Fato é que eu e mais milhares de profissionais que fomos obrigados a ter o diploma para exercer a profissão deveriamos entrar com uma ação contra União em busca de nossos tempos perdidos. Soubesse eu que o fim do diploma triunfaria eu teria feito era História mesmo como eu queria. Quem sabe poderia entender melhor como ensinamentos de luminares do passado não chegaram a iluminar nossos juristas obtusos que se curvaram vergonhosamente aos argumentos dos patrões da mídia que durante anos batalharam pelo fim do diploma. Com isso vem o fim do piso salarial, da consciência de classe, de formação especifica para exercer uma profissão. A qualidade da informação já seriamente comprometida pela péssima formação de grande parte dos profissionais agora foi golpeada de morte. Jornalista é uma profissão em extinção ? sem querer parecer pessimista parece que sim.
Ps. não seria o caso de pedir também o fim da faculdade de direito pra se exercer a profissão de advogado ? para decorar leis para gerar obtusidades não é necessária formação juridica e sim noção de decoreba, boa memória. E que tal se quem julgasse isso fosse um conselho de jornalistas ?
Comentários
Impressionante! Inacreditável! Absolutamente surrealista...
Pois é, eu ouvi também estarrecido as palavras destes senhores repletos de empáfia e egos inflados falando as maiores barbaridades sobre uma profissão.
Pobre país que tem um bufão como Gilmar Mendes na instância máxima do Judiciário!
O que fazer agora com o diploma universitário? Uma fogueira de São João, talvez. É frustrante, estou pensando nos estudantes das faculdades de jornalismo neste momento.
E deixa eu parar por aqui senão começo a soltar uns palavrões.
abs!
É infelizmente isso aconteceu no governo que dispensou o ministro da Educação (Cristovam Buarque, ao meu ver um dos maiores educadores desse pais) pq não precisava no governo dele pessoas com títulos, tinha outros vislumbramentos!
O que mais esperar....
Sem noção...
Bjos!!!!!!!!!!
Tudo bem?
Sou estudante do terceiro ano de jornalismo na ECA/USP e neste semestre estou, junto com minha turma, produzindo o Claro!, suplemento mensal do Jornal do Campus. (são jornais impressos, mas que possuem versão on-line)
Em cada edição do Claro! (www.claronline.com.br) escolhemos um tema que será esmiuçado por diversos ângulos e abordagens ao longo de suas 12 páginas (tablóide). O tema da próxima edição, que sairá no final de junho, é "Politicamente Correto".
A minha pauta trata de uma perversão do tema, tratando então do Politicamente _IN_correto. A ideia é explicar para o público a relação entre eleitorado e políticos, determinada não só pelo sistema político eleitoral mas também pela nossa própria cultura. Explorar os critérios éticos que exigimos de nossos políticos em relação à ética que nós mesmos seguimos etc.
Trataremos também dos sucessivos escândalos do Congresso Nacional, tentando entender os motivos dessa reação. (ou da não-reação)
Os colunistas parecem ter uma visão privilegiada sobre o assunto. Sua coluna (e seu blog) na RS mostra uma visão bastante ácida da politicagem nacional, será que poderíamos realizar uma entrevista? Gostaríamos de saber sua visão sobre a questão.
Obrigada!
Se topar, mande-me um e-mail: iana.mutsumi@gmail.com
Abraço!