REFLEXÕES AO REDOR DE ABBEY ROAD
OU EM BUSCA DE TEMPOS MAIS SIMPLES
A propósito de escrever ( domingo na revista dominical de O GLOBO) sobre os 40 anos do derradeiro e melhor disco dos Beatles, “Abbey Road” , Felipe Taborda ( que até então eu não conhecia) levanta uma questão para lá de interessante ainda mais se lida e refletida após um lindo dia de sol passado na praia do Leme em ótima companhia. Diz Felipe que “tudo era mais simples há não muito tempo atrás” e confessa ter saudade dessa simplicidade. Tô com ele . Não vivo de nostalgia mas da saudade de tempos onde as coisas eram mais simples. Citando o antológico “Abbey Road” ele destrincha o seu exemplo de simplicidade. A foto da capa do disco que foi reproduzida em outros tantos discos, capas de revistas e tudo que é objeto gráfico pelo mundo afora foi feita de maneira simples. Uma foto escolhida entre seis tirada pelo fotógrafo Iain MacMillan na tarde de 8 de agosto de 1969 num intervaldo de gravações do disco histórico. Felipe projeta a mesma operação para os dias de hoje o que envolveria um batalhão de “profissionais”. Vejamos : “No dia, hora e local escolhidos , além do fotógrafo,seus assistentes (..) teríamos também maquiadores, estilistas, cenógrafos, jornalistas, Tvs, etc., a entourage particular de cada um dos integrantes da banda : assistentes diretos, namoradas, namorados, amigos, confidentes, mães, gurus, nutricionistas pessoais, etc.” E por aí vai o Felipe citando a parafernália para fazer a mesma foto nos dias de hoje o que incluiria ainda trailers, equipe de filmagem da MTV, catering servive para alimentar todo mundo, enorme aparato policial para interditar a rua por horas enquanto seriam batidas inúmeras e inúmeras fotos com atrasos motivados pelos estrelismos típicos que está embutido em todo integrante de banda de grosso calibre de marketing. Depois de tudo isso as fotos escolhidas passariam por minucioso tratamento de Photoshop e mesmo assim o Felipe aposta que ela não ficaria tão boa como ficou essa foto histórica de um álbum histórico dos Beatles. O “exagero cosmético” como diz ele só serve pra expor o grande vazio de conteúdo dos produtos e ídolos atuais. Felipe mirou em um alvo e acertou em outro quando tenta definir seu conceito de simples. Mas ao expor as vísceras da simplicidade de “Abbey Road” no que tange ao disco e à foto foi duplamente feliz . De onde se conclui que está faltando mesmo é simplificar muita coisa. Simplificar de um tudo pois tanta maquiagem não esconde a ausência de expressões. Viva o conceito “Abbey Road” de simplicidade.
Comentários
"Eu não vivo de passado, o passado que vive em mim" como disse Paulinho da Viola, hoje que banda ( ou bunda ?) existe com talento parecido, em que bastava atravessar a rua para fazer história.
Simplicidade só combina com talento, basta ter talento ( no caso imenso ) para não ser preciso nenhuma fofoca para promover um factóide, hoje as "celebridades" dão autógrafos por não saberem cantar, nem tocar, nem jamais terem lido um livro, mesmo sem agregar nada viram "história", ainda bem que por 15 minutos.
abraço
Mesmo porque não acredito que os Beatles sejam o maior exemplo dessa simplicidade que você descreveu. A capa do álbum sim. Mas as produções dos trabalhos dos Beatles eram meio complicadas por aquilo que vc disse: muita mediação, muita gente envolvida.
Mas gostei do post. Falta muito disso hoje em dia. Os Beatles, na minha opinião, não eram tão simples assim. Mas eram muito menos complicados do que a maioria dessa cena pop emergente que contamina as rádios.
é a tal da era MTV. Argh!
"Olha só o elenco andando na rua, simulando uma passeata... Isso foi feito a frio, no meio do movimento normal. Ainda não havia a figura do produtor de locação."
"No intervalo, o pessoal comendo em 'quentinhas'. Veja a Iara Cortes... Hoje, teria buffet, catering e sei lá mais o quê".
Realmente, o mundo era bem mais simples. E, em vários aspectos, eu preferia assim. (LAP)