Lembrei de Dina Sfat
Outro dia, a fuçar o facebook aqui em Luanda, dei de cara com a deslumbrante foto acima de Dina Sfat , mulher e atriz que era rara soma de beleza com inteligência o que tanto faz falta hoje em dia na era das celebridades bonitonas e estupidificadas. Essa foto bela que eu desconhecia me levou de volta no tempo como me vem ocorrendo com frequencia não sei se por ter chegado à idade de já ter memórias ou se é o ar da capital de Angola que me inspira isso. Mas sucede que viajei a 1989 quando vi ao vivo pela primeira e derradeira vez Dina Sfat. Ela havia acabado de chegar de uma viagem de trabalho de Moscou e estava deslumbrada com o que tinha feito e visto.Apareceu no "Metrópolis" da Tv Cultura para uma longa entrevista ao vivo quando eu era apresentador do programa. Como o papo era longo tínhamos um intervalo entre dois blocos. Aí a produção me trouxe uma porção de perguntas que os telespectadores faziam a respeito da doença de Dina (câncer) e eu, constrangido, fiquei sem saber se devia ignorar a curiosidade de quem nos assistia ou devia abordar o tema. Como as perguntas eram muito respeitosas e denotavam preocupação com a saúde da atriz resolvi falar ao ouvido dela que as pessoas estavam perguntando sobre a doença. Dina, serena, olhou pra mim e disse :
---Se você não for ficar o resto do programa falando sobre isso pode perguntar ...
Foi então o que fiz na volta do intervalo. Ela respondeu sobre a questão com a maior dignidade,deu notícias do tratamento ao qual se submetia e mudamos de assunto. Estava mais bela do que nunca, nem um pouco abatida. Por isso foi com surpresa , triste surpresa, que pouco menos de um mês depois recebi a notícia da morte da bela e talentosa Dina Sfat. Cada vez que revejo cenas de "Macunaíma" de Joaquim Pedro de Andrade ou de "Tati, a garota" de Bruno Barreto fico pensando como atrizes com o talento e personalidade de Dina fazem falta. Há alguns anos gravei um programa especial sobre Clarice Lispector e por conta disso conheci a atriz Bel Kutner, filha de Dina, que interpretou alguns dos textos da autora de "Laços de Família" em locações no Jardim Botânico carioca. Me surpreendi como ela lembrava a mãe. E me surpreendo por perceber que Dina continua viva e bem disposta na minha memória e na de muita gente que cultuava o belo em todas as suas instâncias.
Comentários
Raridade nas atuais globais.
Abraços além mar.
Edson