FORA DO CORPO
FORA DO CORPO
Quando não se está morando dentro da gente tudo que passa em volta vai disperso, sem foco, sem atenção. A gente não mora na gente mas ao redor, ao contrário, ao inverso. Os legumes apodrecem na geladeira, o prazo das comidas vence, o mofo sobe pelas paredes. A gente não mora na gente mas também não está no coração dos outros porque vai tudo vago, tudo pode ser, tudo está por acontecer. E a sensação do alheamento, do não pertencimento, faz com que a gente vá a muitos cantos sem ir na verdade a parte alguma.
O café esfria na caneca, o pôr de sol passou e você nem viu pois estava a conferir as contas que não chegam, os prazos que não se cumprem, corpos que não se fundem porque na verdade estão dispersos não pertencendo a nada ,nem a si mesmos. Nem quando o vento chega,nem quando a noite esfria, nem quando as ondas aumentam e o mar pede que dele se compadeça pois está de ressaca.
Quando não se mora dentro da gente na verdade somos uma bolha fora do corpo. Flutua e volta sendo levada pela correnteza de ocasião. Nem banzo nem aluvião, nem chuva de monção, nem rima que prima pela solução. Cigarros, birita, café, grappa , chuva na janela ? Fora da gente tudo vale quando a intenção não é voltar. Mas se for, vá devagar...
Comentários
adorei. beijos.
Lindo! Amei.
Bjs