votando e lamentando ausência de senso de humor...
Nem sempre política é sinônimo de consciência, cidadania, conhecimento (ou não) dos destinos do país. Política pode ser as vezes e lamentavelmente ausência total de senso de humor, de "savor affaire", de jogo de cintura como é visível nos gestos, palavras e posturas dos dois postulantes à presidência tão dotados de ginga quanto o padre Marcelo Rossi.
Entre as muitas mazelas e sequelas dessa disputa de segundo turno o que pessoalmente mais me incomoda não é nem um adversário enfiar o dedo no olho do outro ou o oportunismo calhorda de trazer assuntos tabus e pessoais ( como aborto e religião) para o centro do debate mas a total caretice e falta de riso e senso de humor a ponto de quase terem conseguido com que os humoristas fossem impedidos de fazer chistes com os políticos.
Sem preconceitos , apenas pura constatação : como podem ser impedidos os humoristas de fazerem humor com a categoria que mais inspira sátira, ironia e comentários caustícos ? A atividade política com seus rituais, mesuras, liturgias, hipocrisias, formalismos falsos e pronomes de tratamento inócuos talvez seja a atividade mais rídícula e risível do ser humano. Como não rir de um fanfarrão como Chavez, do narigudão pedante do Sarkozy, das bravatas de Rafael Correa ou do discurso ultra-direira de um Uribe ? como não rir dos nossos deputados, senadores, ministros e governantes que discursam uma coisa e praticam outra ?
Pois foi justamente a falta de riso e muito siso que me incomodou nesse segundo turno careta, sisudo e pouco risonho. Todo mundo, da mídia aos debatedores internéticos, se curvou à postura robótica e dura de uma Dilma ou do falso sorriso carola de Serra. Eu sempre desconfio de gente que não ri. Me preocupa. Disse isso um vez ao ex- deputado e líder sindical Jair Meneguelli numa entrevista ao vivo. E ele me respondeu como era de se esperar "que a classe trabalhadora não tinha motivos pra rir". Ok, sucede que eu acho as vezes que eles, políticos, riem de nós. Óbvio. Podem até rir mas não podem fazer com que nos tirem o direito de rir deles. Sinal desses tempos tristes é a ausência total de tablóides e jornais com cunho irônico e humoristico salvo algumas exceções virtuais e toscas como o tal "Kibe Loco". Não temos nada parecido com "Pasquim", "Enfim" ou mesmo o "Folhetim" de tempos idos. Muito menos as deliciosas ironias de um Barão de Itararé. Portanto o que mais me preocupa além das baixarias da campanha que se encerra são esses tempos sisudos onde até os ridículos se levam a sério.
Comentários
Este segundo revelou muitas coisas interessantes (ou não) deste país, desta imprensa e de vários colunistas que tentavam disfarçar certas preferências políticas/religiosas/ideológicas. E tudo com essa característica que você notou bem: a falta de humor.
Abs
Mas...olha aí um espaço que precisa ser preenchido por gente competente, mais comunica-ação, menos ausencia de atitudes para um espaço sério de humor.
Difícil crer que os humoristas aceitaram não fazer humor...Com quais argumentos foram intimidados? Quais ameaças os calaram? ou foram coniventes com quais interêsses?
Gostei muito da Crônica. Retrata exatamente o que estamos vivendo...
Como diz um amigo meu em uma música que ele fez "Temos que acabar com essa tal corrupção, para que a ordem e o progresso dominem a nação"
Parabéns.
Como diz uma música feita por um amigo meu:
"Temos que acabar com essa tal corrupção, para que a ordem e o progresso dominem a nação!"
Genial texto, aliás como tudo o que sai desta cabecinha para o papel!
Bj
Helô