São Paulo, a primeira latitude (uma poesia de 30 anos)
Por mais que falem mal - e por mais que eu repita o óbvio - as redes sociais são , também, uma formidável maneira de compartilhar conhecimento e memória. Mesmo que fragmentada, mesmo que fugidia, mesmo que fugaz. Me explico : nessa manhã dei de cara com um pedaço de um muito antigo poema meu (São Paulo, a primeira latitude) escrito há 30 anos e publicado no meu remoto livro de poesias chamado "A Invenção da Surpresa" publicado pelo falecido editor Massao Ohno em co-edição com o Poetasia, o grupo de poesias do qual eu fazia parte em fins dos anos 70 .
O poema me chegou a esmo via Facebook pelas mãos de um antigo companheiro daquelas jornadas poéticas, o poeta Luis Avelima que tomava parte do grupo Sanguinovo que junto com o Poetasia e o Pindaíba agitavam a cena alternativa poética em Sp naqueles tempos idos e vividos muito embora a história literária oficial do período não registre isso como se só os concretistas existissem . Mas a história maçante da preferência pelos concretos não pretendo abordar aqui.
Luis Avelima vem fazendo pelo Facebook um curioso e bem vindo trabalho de resgate iconográfico daquela era e achou essa revista "Agora São Paulo" que tinha alguns poemas sobre a cidade, inclusive o trecho desse meu poema de juventude quando ainda estava enamorado dessa megalópole tão devastada de hoje em dia e assinava meus escritos como Ricardo F. Soares. Eu respirava São Paulo, amava São Paulo, percorria suas entranhas e nem pensava em sair daqui. O poema é dessa época... curioso que quando vi um tequinho dele no Facebook achei que a revista que o publicara tinha saído agora. Tolinho eu. Avelima me esclarece que ela saiu em 1985 ou 1986, época em que a informação não corria com a velocidade atual. Assim sendo nunca fiquei sabendo dessa publicação que agora reparto com vocês, logo abaixo assim como o poema que pode não ser grande coisa mas reflete quem fui um dia. Se é que isso interessa...
SÃO PAULO, A PRIMEIRA LATITUDE
Juramos solenemente declarar amor ao teu passado
e até que se prove o contrário
contrairemos doenças de pele sob teu ar
Iremos com a cara cheia de socos
pelos caminhos que conduzem aos teus bares
Nos amaremos, agrediremos, choraremos, vomitaremos em tuas calçadas
E até que se prove o contrário não limparemos sequer
uma imundície
antes de termos desvendado esse teu rosto
14/12/81
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