A PRESUNÇÃO DOS TELEDRAMATURGOS
Sei
lá o motivo mas estava cá com meus botões pensando em telenovelas, esse detrito
cósmico elevado à condição de arte, quando me dei conta que durante minha vida
profissional entrevistei muitos autores de novela e partilhei da amizade de alguns
deles. Todos adoráveis ao seu estilo.
Independente de talento, grau de
escolaridade, simpatia (ou não) descobri que o traço comum entre todos eles (e
elas) é a vaidade extrema e a firme convicção de que fazem um produto de
primeira necessidade sem o qual nós pereceríamos . Os autores de novela se dão
uma importância impressionante e acreditam que são responsáveis inclusive pela
mudança das marés e os destinos das bolsas de valores. Vai ver foram instados a
isso devido a importância que a mídia nativa dá às tramas toscas e
folhetinescas que inventam. São hipervalorizados.
Quando me dou conta disso não é pra emitir
juízo de valor até porque creio não ser apto a julgar o que é uma boa ou má
telenovela pois além de ter visto tão pouco confesso que o gênero me provoca bocejos profundos e
fecundos dado seu grau de repetição de núcleos pobres e ricos e demais lesco-lescos
insossos. Não me comovem as interpretações e acho bizarro o quanto se perde
tempo em discutir os destinos desses personagens inclusive nas redes sociais
onde matutos e matutas elogiam as interpretações de atores ruins confundindo
histeria e gritaria com carga dramática.
Disse que não ia emitir juízo de valor
sobre o gênero mas já o fiz. Fazer o que... não resisti à tentação. Mas o que queria dizer mesmo é sobre esse
sentimento que povoa a alma dos criadores de telenovelas que se consideram a
reserva criativa da nação levando-se a sério em graus quase patológicos. Talvez
se levassem a faina com mais leveza produzissem algo menos entediante. Mas não.
Tratam as tramas, as entranhas dos seus textos como coisas dificílimas de se
elaborar e não raro fazem aquele ar de intelectual muito ocupado que está
a conceber criaturas tão fundamentais
quanto um Otelo de Shakespeare ou um Dom Quixote de Cervantes.
Evidente que a história vai tratar de
engavetar toda essa robusta presunção, condená-la ao esquecimento. Mas enquanto
a eternidade não chega é duro ficar lendo e ouvindo teledramaturgos que
produzem telelixo darem entrevistas pseudo-emblemáticas onde incorporam
esfinges neomodernas como se estivessem a nos desafiar para que os decifremos. Do contrário eles nos
devoram. A mim não violão que não sou pasto pra gado ruim.
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um abraço.