Plágio, clichê e domingão de Brasília
Se a vida não é
clichê ela é plágio não diria Roberto Baggio, preocupado com sua trancinha na
final da Copa 94 ao não defender os interesses da Itália. Uso a metáfora do
planeta futebol porque o mundo e o Brasil só fala nisso nesses dias de
Copa e não há mal nisso. Faça futebol
não faça a guerra. Invada a área, bata escanteio, reclame por pênaltis mas não
agrida, não morda, não grite.
Hoje
pela manhã pedalei por Brasília mais uma vez. Não levei a máquina fotográfica
com preguiça de carregar o estorvo pendurado no pescoço mas depois me
arrependi. Deixaram o Eixão aberto porque o ciclista é sempre o último a ser
visto ainda mais quando tem jogo ali no Mané Garrincha. Prioridade para os
carros é a lógica. Assim procurei caminhos alternativos , ali perto do Lago
Sul, setor de embaixadas e a abandonada retaguarda da Esplanada dos Ministérios
onde nada acontece no fim de semana. Estacionamentos vazios, vigias vadios a
falarem estultices ao telefone. Pela distração deles eu poderia colocar
cinqüenta bombas em cinqüenta lugares diferentes e ninguém veria. Isso posto
vamos para a alegria.
Há
15 dias eu ainda flanava em Paris e confesso que como sempre me encanta aquela
multidão de gente do mundo todo a se deslumbrar diante das belezas com gestos e
atitudes infantis, mesmo com todos os exageros. Tenho esperanças no ser humano
quando vejo que se transformam em meninos e meninas que dão risadas altas
diante das belezas. Tenho esperança nesses momentos e fico a acreditar que ainda temos saída.
Essa
sensação parisiense experimentei fugazmente essa manhã ali ao lado da Catedral
de Brasília onde principalmente suíços e equatorianos sorriam e se fotografavam
em total harmonia deslumbrados diante da beleza criada por Niemeyer, comprando
alegremente réplicas da obra vendidas por camelôs igualmente sorridentes.
Apareceram por ali também alguns chilenos, uns mauricinhos bobalhões pedalando
fantasiados de atletas e repetindo “hei véio, hei véio” e uma trupe de
pernambucanos embrulhados na bandeira do estado carregando bumbo, triângulo e
sanfona.
Diante
da diversidade, do bom humor ,do alumbramento, diante da beleza, mesmo com o
dia ameno e nublado ( brasiliense confunde nublado com frio, igual a carioca)
acredito assim que o ser humano não é só esse exército devoto ao consumo e ao
“subir na vida”. Pedalei satisfeito de volta pra casa e resolvi não ir até a
porta do Mané Garrincha com medo de ver cenas que me tirassem do encantamento.
Assistirei Equador e Suiça deitado no sofá vermelho repetindo mais um clichê ,
esse musical : “toda maneira de amor vale a pena”.
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