Diário da meia idade 2- Os reveillons das nossas existências
E
então um sol se põe atrás de umas montanhas mineiras e você enxerga a foto
recente de um reveillon animado do qual não participou e fica pensando nessa
animação toda na qual a maioria mergulha com força para saudar um ano novo que
chega. Quando ele chega , na micro fração de segundo que separa um ano do outro
, a gente se enche de esperança de que tudo poderá ser diferente , que nossos
irmãos humanos poderão se tornar menos desumanos. Mas qual o que...
Aí
você enxerga, rapidinho, alguns reveillons de sua existência, com muita ou
pouca gente, com muita ou pouca esperança, e vê passar diante de si cidades e
lugares como Montevidéu, Serra da Bocaina, uma praia do sul da Bahia,
Bauru, Macapá, Brasília , Cajuru ,
Conselheiro Lafaiete, Vale do Matutu, Serra do Roncador. Tenta se lembrar das
pessoas queridas que estiveram do seu lado naquele momento. Tenta se lembrar
das pessoas que por circunstâncias estavam do seu lado nesses momentos. E,lógico
, não lembra de todas. Umas passaram , tantas outras ficaram, muitas minguaram.
Lembra
que numa virada de ano você deixou de fumar para sempre , lembra de um frio
vento uruguaio a iluminar o sorriso de seu filho ainda pequeno, lembra da
virada do século ao lado de um forte na distante Macapá, lembra daquela
calorosa sensação de ano novo que mingua já na primeira semana de janeiro.
Não
é verdade dizer que na meia idade os reveillons vão se embolando, misturando,
se tornando um mix da vida que vai passando. Mas o que eles deixam de residual
é esse desejo de ficar dentro da gente a tal sensação de ano novo que dura tão
pouco tempo. Nesse ano novo que se inicia com as pessoas de matando por
religião mundo afora , e sobretudo em Paris, fica o desejo de que a sensação de
ano novo poderia ao menos, pra começar, durar uma semaninha. Embora eu esteja
vivendo dias bucólicos e tranqüilos queria mesmo que o ano não fosse tão
difícil quanto parece que será. A nave parece mesmo estar muito a deriva.
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