O PAÍS DOS PEQUENOS BOLSONAROS
Cada segmento tem o Jair Bolsonaro que merece. Na mídia e no jornalismo atual, eles pululam sem a menor vergonha de mostrar seus caninos raivosos sedentos de golpes, impeachments, terceiros turnos. O ano mal começou e a chapa está mais do que quente. Noves fora o calor paranormal que nos transporta ao inferno climático com poucas chuvas para ocultar a incompetência dos governantes para com o abastecimento digamos que os corações e mentes parecem estar fundamentalmente alterados, propensos a temperaturas e humores de derreter termômetros. Tolerância zero entre contrários, falta de educação no trato virtual e real. Estamos mesmo em tempos de circo romano onde a patuléia quer mais é sangue correndo e onde idéias não se discutem, se digladiam.
Brasília continua a desandar em onda quente de violência e corrupção, o Rio derrete cadáveres nas vielas dos morros, a polícia paulista esgrime sua truculência desmedida e incontida e ônibus ardem nas ruas, pessoas se engalfinham em brigas de trânsito Brasil afora e se estapeiam virtualmente por suas preferências políticas numa virulência que deixa longe o conceito do “brasileiro cordial”.Não é só pelo calor, mas parece que estamos a respirar um ar mais do que pesado. Chumbo grosso. Mormaço sem refresco. Sensação de sufocamento onde se afogam as boas idéias, a racionalidade, o equilíbrio. Tanto que nem causa a espécie que deveria causar a confusão entre liberdade de opinião e pensamento com incitação à barbárie e violência que é apregoada por gente desqualificada que faz uso irresponsável de uma liberdade de expressão que jamais lutou pra conquistar. Repetem as estultices que encontram eco e são comentadas país afora, revelando a falta de conhecimento histórico tanto desses “articulistas” como de seus desinformados leitores. A mídia ergue seu estandarte de outono nas figuras abjetas de uma plêiade de golpistas.
A tolerância zero, o rancor exposto como um nervo de dente ecoa fácil, solto pelo país afora, e solapa ainda mais nossa civilidade já há muito solapada. Infratores espancados e amarrados a postes, reencarnações de pelourinhos passados não são vistos como aberrações mas aceitos com aplausos pela boa e velha "gente de bem" que sempre usa a desculpa da falência do Estado para justificar o linchamento, o assassinato sumário, a extinção da Justiça. Os argumentos são tão toscos que dá até preguiça de aqui enumerá-los. Sem paranoia, algo e muito sólido parece estar se formando no ar. Como uma imensa pedra no rim. Urge bombardeá-la antes que fique tão espessa que leve à falência dos múltiplos órgãos que regulamentam a democracia. (Publicado originalmente no portal DOM TOTAL .(CLIQUE AQUI)
*Ricardo Soares é diretor de TV, escritor, roteirista e jornalista. Foi cronista dos jornais "O Estado de S.Paulo", "Jornal da Tarde" , "Diário do Grande ABC" e da revista "Rolling Stone". Autor do romance "Cinevertigem", editora Record, 2005.
Comentários
Queria te pedir um favor: você saberia me dizer qual o nome da música (sinfonia?) que tocava na primeira abertura do Metrópolis? Que orquestra a executava?
Eu achava que fosse Mozart, mas parece que não é bem por aí.
Eu adorava (e adoro) aquela abertura. Tinha no You Tube, mas não tem mais. Não sei se você tem um canal no You Tube e tem algum programa com você e poderia colocar lá. Enfim, eu mandei um e-mail pra Cultura na página do programa e nunca me responderam. Você é um pouco minha última esperança.
Obrigado e um abraço.
https://www.youtube.com/watch?v=bmtXh7AZgvE&index=5&list=PLK4x8sw2Aerb_yUvTgWLC68_EKtm08Rta
Meu anonimato é discrição somente. Eu o uso para o bem.
Fiquei pensando se é sampler de outrem essa música do Art of Noise, enfim... Gosto muito.
Obrigado pelo Metropolis, pela novela angolana e por tanta coisa que não dá tempo de ficar enumerando!
Abraço.
e mesmo anonimamente grato pelo reconhecimento