PARIS PARA ESQUERDA, DIREITA E CENTRO CAVIAR
PARIS
PARA ESQUERDA, DIREITA E CENTRO CAVIAR
Paul Theroux, talvez o mais criativo,
desenvolto, desencanado e melhor escritor
de viagens que já li tem um desprezo solene por turistas em geral. Em suas viagens mundo afora não cai em
armadilhas para turistas e mantém distância oceânica deles e suas
generalizações, banalizações da cultura local e desejos consumistas imediatos.
O turista para Theroux é antes de tudo um chato.
Não
vou aproveitar o mote de Theroux para dizer que se ele acha que turistas são
chatos é porque nunca viu ou acompanhou hordas de turistas brasileiros exterior
afora. Nem vou dedicar linhas ao tema para não dar impressão de presunção. Só
digo que em Paris ou em qualquer lugar é sempre um alívio estar longe dos
turistas de nosso país. Salvo as exceções de praxe, é lógico. Gente que não vem
para mergulhar no delírio das compras das galerias Lafayette e tirar uns 2339
selfies em qualquer ponto turístico sem sequer saberem onde estão. O mundo
virou uma pastelaria de imagens e os retratistas sequer tem noção do que estão
retratando.
Paris
é uma festa eterna, perene, imutável. Faça o que fizer qualquer mujahedin aqui
as esperanças se renovam e até as melancolias se traduzem em arte. Sou suspeito
para falar. Estou aqui não de férias mas me dando uma, duas , três tréguas .
Uma por mês . Tentando me curar de emoções fortes sofridas em recentes tempos
profissionais onde abracei causas e fui abraçado pelos ursos traiçoeiros da
burocracia e da burrice. Jamais convivi com tanta gente talentosa e guerreira que vivia em paralelo sempre tentando superar as cascas de banana jogada por
cretinos do corporativismo e da mediocridade. Enfim um bruto paradoxo que agora
parece um esmaecido fantasma do passado. Paris apaga tudo.
Antes
que digam que o deslumbramento com a cidade é coisa de “esquerda caviar” eu vos
digo : é coisa de esquerda, direita e centro . Caviar ou não. Porque Paris é
tão caprichosa que tem muitos donos. São muitas Paris em uma só com o perdão do
óbvio gritante.
Sempre
acho curioso nas redes sociais algumas pessoas que escrevem sobre a capital da
França como se proprietário dela fossem. Gente que por ter vivido , passado a
juventude ou estudado por aqui considera-se mais “conhecedor”de Paris que os
outros. Como se as dicas deles valessem mais, como se a apreciação de suas
papilas gustativas fossem mais “gourmets” que a de outros. Geralmente são dicas
caras, manjadas,apinhadas dos tais turistas chatos. Ou dicas com a presunção de
serem “discoladas”, capice ? Preguiça
maior do que essa só sinto daqueles que vêm a Paris ver e viver em torno dos
desfiles de alta costura. Para esses dá-lhe Paul Theroux na veia. Mas ,
besteira, na verdade parte dessa gente
vê o mundo com a retina de João Dória. Esqueçamos e deixemos eles serem
felizes também. Paris também é para eles. Paris é para todos.
Comentários