Ausência de mídia alternativa e relevante no Brasil
Ausência de mídia alternativa e
relevante no Brasil
Por uma armadilha engendrada por um velho
aparelho de som aqui de casa ( que tem um timer que não consigo desarmar e liga o rádio FM em determinada hora) acabei ouvindo sem querer um trecho de
um “jornal” matinal radiofônico fascista da Jovem Pan onde o inominável Marco Antonio Villa,pseudo-historiador, também
fascista, conseguiu em meros minutinhos que o rádio se manteve ligado babar seu
ódio contra Lula e Dilma de maneira
quase apoplética.
Ao “comentar” investigações sobre
viagens internacionais do ex-presidente ele disse que tudo o que envolve Lula “é
criminoso”. Depois afirmou taxativamente que espera que o impeachment saia logo
para Dilma abandonar definitivamente o cargo para o bem do país. Julgamentos
sumários. Certezas absolutas. Como se Lula e Dilma já tivessem sido julgados
pelo tribunal de Nuremberg nativo e tivessem que ser jogados à fogueira
imediatamente. Não cabem sequer dúvidas. Assim é porque Villa pontua.
Desnecessário falar aqui acerca da
lamentável opção da Jovem Pan e alguns outros veículos à extrema direita . Antes , pelo menos,
mantinham uma hipocrisia democrática de fachada. Não poupemos definições alíás.
Não é extrema direita é fascismo mesmo . Opiniões definitivas destiladas com
ódio incomum como se fatos fossem. A
galeria de tipos que fazem coro a Villa na Jovem Pan ou fora dela é grande e
abjeta. Não citarei nenhum nome além do dele pois eles jogam para outra torcida
que não é a minha. E aviso aos navegantes, pela enésima vez, que se deploro
essa gente que ajudou a enterrar o pouco que restava de jornalismo sério no país
também deploro o que eles definem como “blogs sujos”, aqueles que com a força
da grana que recebem do governo tapam o sol com a peneira e vão buscar “sustentação”
de seu ideário dando vez e voz a oportunistas cafajestes e nomináveis como o
Napoleão de hospício Ciro Ferreira Gomes
que num país sério estaria tomando Rivotril de caneca embalado numa camisa de
força.
Diante desse triste panorama visto de
nossa ponte midiática ruída , recém-chegado da França onde se discerne
claramente uma mídia de esquerda, outra de
direita, outra no muro, mas todas com um minimo de respeito à verdade e ouvindo
todos os lados envolvidos em uma história, eu chego a triste conclusão que está
tudo tristemente dominado pelo que há de pior de direita hidrófoba nos nossos
grandes meios. Conclusão óbvia , diga-se de passagem. O que me intriga é por que nunca se conseguiu consolidar de
verdade uma mídia ( um jornal, uma revista, uma rádio,uma tv) que fosse relevantemente
de esquerda. Ou nem mesmo de esquerda mas progressista, humanista, que
colocasse em pauta cotidianamente temas e pessoas que não estão nas outras
pautas. Uma mídia que antes de estar preocupada com o índice Nasdaq falasse das
pessoas vitimadas pelos Nasdaqs da vida. Uma mídia que provasse que a ONU e
suas opiniões inócuas são tão protocolares quanto enviar votos de pêsames de “estadistas”
a famílias de mortos em tragédias.
Para falar claramente não há nada no
Brasil com a importância ou relevância de um “Libération”, por exemplo, que
além de sua pauta diferenciada em relação a outros veículos prima pela boa
edição, boas ideias,bons textos, grandes fotos. A essa altura pensar em algo
semelhante no Brasil é superlativa utopia , ainda mais agora que o fascismo
vigente desgasta qualquer proposição, digamos, mais progressista. É a época da
desqualificação dos sonhos taxando-os toscamente de “comunistas”, “socialistas”,
“populistas”. É a época dos camisas pretas ( ou verdes do integralismo
ressuscitado) incitarem a massa ignara contra os “vermelhos” num anacronismo
assustador, caricato na medida em que o mundo “maxicapitalista” desembarca em
Cuba pra restabelecer relações. Somos, com méritos nos dias atuais, a vanguarda
do atraso.
O Brasil não tem alternativas ao
massacre midiático diário empreendido pelas “Vejas” “Épocas”, “Globos – (jornal
e tv)” , “Jovens pânicos” e quejandos que varreram a verdade para debaixo dos tapetes
de suas instalações . Elem tem uma causa que nada tem a ver com informação, tem
a ver com apelação, defesa única e simples dos seus interesses. Egoísmo em
estado bruto.
Não se consolida com relevância
proporcional uma alternativa a tudo isso na medida em que “Carta Capital”, “Brasileiros”,
“Caros Amigos” e outras poucas publicações não tem o mesmo calibre da grande mídia, não
consegue chegar a uma parcela significativa de leitores. Isso sem falar das
televisões e rádios. Qual oferece um viés alternativo a tudo que engolimos hoje
em dia ? Por que, por exemplo, já que a EBC é ligada ao governo não usa isso a
seu favor e não contra ? Por que nunca adotou uma pauta alternativa em seu jornalismo, em seu
formato televisivo para ser o contraponto de tudo isso ? Já que sofre o
desgaste de ser associada ao governo por que nunca usou isso a seu favor , não
fazendo “chapa branca” mas dando luz àquilo que precisa de holofote ? Sempre me fiz essa pergunta durante e após
minhas passagens pela EBC e ninguém soube me responder.
No passado tivemos iniciativas alternativa
de mídia que se não atingiram grandes
massas ao menos tinham a relevância que hoje não tem . Falo dos tempos da tal
imprensa alternativa ou “imprensa nanica” , como ficou conhecida, na qual vicejavam “Pasquim”, “Enfim”, “Folhetim”-
que era um suplemento da Folha!- “Movimento”, “Versus”, “Canja” e muitos outros
veículos que inclusive eram censurados e tolhidos na época da ditadura e depois
ainda mantiveram fôlego durante a tal “abertura democrática”. Onde foi parar tudo
isso ? Onde foi parar, inclusive, o senso de humor dos esquerdistas e
progressistas ? O assunto é polêmico, extenso, e não caberia nas mal traçadas
linhas de um despretensioso blog como esse. Mas a pergunta que não quer calar é
essa : se não conseguimos fazer sequer um arremedo de “Libération” vamos
continuar assistindo a essa maçaroca fascista dia a dia nublando a verdade, não
dando o outro lado da noticia e conspirando contra a democracia? Não vamos
fazer nada ou não é possível fazer nada ?
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