Não é desalento nem desencanto
pintura de Jeanne Hebuterne |
O que abaixo se expressará não é desalento nem desencanto... é réquiem para autocensura, autocrítica ou demais formas de sabotagem com as quais nos sabotamos durante a vida. Em terra onde tanto excremento vira literatura e ganha prêmio, depois de adiar em demasia e deixar no armário "coisas" que me eram vitais eis que emergem inusitados problemas de saúde e as inevitáveis refações de velhos conceitos. Isso posto , vamos nessa. Antes, durante e agora depois do acidente de percurso tenho cometido páginas muitas em livros vários que espero de verdade possam um dia vir à tona. O que está disposto abaixo por exemplo foi feito hoje, aqui e agora , e vai para o blog por uma circunstância única : parece "momentoso", parece desabafo até jornalístico mas se pretende ficção . Talvez triste seja o país que inspire isso. Mas assim é se me parece. Perdão. É textão conforme se condena hoje em dia no mundo virtual. Mas é limpinho e é sincero.
"No momento em que escrevo essas mal batucadas linhas chego à prosaica conclusão de que o Brasil de cem anos atrás era uma merda. Não que hoje seja uma maravilha conforme alguns deslumbrados queiram afirmar nos colocando naquela conceito idiota de “primeiro mundo”. Continuamos um lixo , mas um lixo mais cheiroso onde o fedor mais forte, mais acre,mais nauseabundo é nossa execrável classe política.
Mas,
sosseguem. Não vou transformar isso num libelo contra a classe política, contra
deputados e senadores,contra o egrégio e imundo Congresso Nacional. É gastar
muita vela com mau defunto. E um defunto que eu uso como pretexto para execrar
certo comodismo dos meus amigos queridos que mesmo hoje não se abalam com toda
essa escumalha. É como se o que fazem esses meliantes em Brasília não os atingisse.
Essa posição deles, desde sempre acima dos fatos que nos atingem, sempre me
causou uma certa repulsa. Mas sabem-se lá os motivos inconscientes que eu tenho
para tentar colocar defeito nesse meu
passado-presente quando esses amigos estão na verdade cerzidos na minha
própria história .
Só sei
que os anos foram passando ,nossas calvícies, dentes bambos, gordurinhas
viscerais se acumulando e o país foi se deteriorando mais e e mais em valores
éticos e morais muito embora superficialmente a gente pudesse ter a impressão
de que íamos em algum direção mais consistente, mais segura, mais civilizada no
sentido de respeito às leis vigentes. Que grande derrocada viu nossa nação ao
superar o cabo da boa esperança democrática com o fim da ditadura e mergulhar
na camisa de força da corrupção, da usura, das comissões e dos caixa 2 , do
deslumbramento classista, do alpinismo social, das duzentas pragas da vaidade
que singram os mares muitos do poder desde tempos imemoriais.
Ah, meus
amigos...vocês estão preocupados com aposentadoria, patrimônio para os netos,
férias de fim de ano e não olham para o naufrágio do nosso projeto de país.
Quiçá eu devesse entrar na mesma frequência
visto que agora o coração está combalido. Mas é que eu tenho o maior
respeito por essa nossa raça de mestiços, gente hibrida, cafusa e mameluca que
não deveria se deixar abater como gado , tangido como ovelhas na direção da resignação,
da alienação , da estupidez completa dentro desse plano bem sucedido até agora
de imbecilização coletiva urdido pela direita , pelo centro e pela esquerda.
Fodam-se todos eles. E fodam-se os que aqui acharem que aqui estou a fazer
proselitismo panfletário num espaço onde deveria vicejar “boa literatura”. De
rótulos sinceramente já me fartei faz muito tempo".
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