Dei de venerar meus dedos
DEI DE VENERAR MEUS DEDOS
Estes mesmos que ajudaram
a escrever tantas tolices
E também, sem pressa,
dei de olhar para o céu
Sem me redimir dos
meus pecados
Dei para gostar de
sentir
o cheiro de lenha
molhada
que precede a
fogueira
e que ainda verde
vira fumaça a se somar a esse céu com nuvens
Onde menino supus que
meus avós mortos se escondiam
Dei de esquecer o que são versos de pé quebrado
E as lições de
francês que aprendi no passado
Dei de esquecer que
escrevi bilhetes antigos
E que peguei
resfriado por andar sem agasalho
Quando minha mãe
clamava pelo contrário
Dei de esquecer que
esqueci caminhos de ouro em Minas Gerais
Caminhos em curvas na
estrada de Santos
Caminhos acidentados
na Transamazônica
E compridos, retos e
quentíssimos caminhos
na Belém Brasília
Dei de esquecer o
esquecimento
Os antigos jogos do
Santos
Os impedimentos nos
jogos de várzea
Os poemas sujos
feitos na ditadura
As declarações de
amor feitas a musas
As rapaduras da
amargura
Os vinhos doces em
garrafão barato
As batatas doces
assadas nas brasas
Os quentões de
estourar cabeças
As dores de ouvido,
de dente, do peito
Dei de esquecer
inclusive
Do arrebatamento
de andar com as
emoções cansadas
Exausto de repetir os
mesmos erros
E de cometer poemas
para o esquecimento...
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