POEMA NUBLADO
POEMA NUBLADO
Nublou agora pouco
Como nublou na minha infância
No momento em que não me soube
mais menino
E percebi que a dor do
crescimento
É dolorida, jamais alento
Tinha receios e muitos medos
E nada sabia sobre inocência do
amor
E suas adagas pontiagudas
No entanto já exalava
sofrimento
E me inebriava com um certo
cheiro de canela
Os anos passaram e a musa
perfumada perdeu o viço
Perdida entre imorredouras
mágoas
Olhando velhas cartas amarradas
com fitas vermelhas
Não tenho como segurar o
passado entre meus dedos
E sei que as cartas enfim
morrerão
Pois foram escritas para não
serem lidas
Eu as seguro nas mãos,
titubeante, pois nelas vou me encontrar comigo mesmo
e , lentamente, volto ao que nublou o começo do poema...
na verdade são o correr dos anos
são as ameaças à saúde
e as utopias resistentes que brotam de novo
e , lentamente, volto ao que nublou o começo do poema...
na verdade são o correr dos anos
são as ameaças à saúde
e as utopias resistentes que brotam de novo
emergindo de uma brisa que
ficou entre dunas
e entra por janelas abertas
Daí me escondo pois
e entra por janelas abertas
Daí me escondo pois
o que antes me refrescava agora
me adoece
Envelheço e ponto.
Nublo a narrativa
Pois estou tonto
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