EU AMO A MÃE DE TODOS VOCÊS
EU AMO A MÃE DE
TODOS VOCÊS
“O escritor e
seus fantasmas”. Mais do que um fato em si é o título de um livro do magistral
Ernesto Sábato, autor argentino que morreu com quase 100 anos em 2011. Nesse
livro , uma reunião de artigos, pensatas e mesmo frases curtas sobre a arte de
escrever ( e seus fantasmas) Sábato
afirma, categoricamente , sem fazer média com o leitor, que “em primeiro lugar”
ele escreve para si mesmo “com o intuito de esclarecer vagas intuições sobre o
que faço em minha vida”. Poucas vezes encontrei afirmação menos hipócrita e mais precisa sobre o “escrever”.
Eu poderia dizer ( como Leminski)
que “escrevo porque preciso” . Ou “escrevo para ficar livre de mim mesma” como
disse Clarice Lispector ou ainda afirmar que “publico para ficar livre de
rascunhos” como disse o Borges. Mas nada me parece tão preciso quanto afirmar
que escrevo para mim mesmo em primeiro
lugar. Para tentar dar luz ao eu que escondo, a aquilo que sem querer eu omito
ou desconheço. Lógico que como todos quero ser lido mas, confesso, o “escrever”
sempre teve para mim função terapêutica.
De certa forma é o que faço aqui e
agora nessa despudorada confissão na véspera de publicar mais um livro na minha
vida depois de 10 anos em silêncio. “Amor de mãe” é o resultado de vários
resultados. Talvez da busca que fiz por minha própria mãe dentro de mim, talvez
da busca e achado de tantas mães que se espalham por aí, provando todos os dias
que nada é maior que amor de mãe. Esteja a mãe ou esteja o filho onde estiver.
Quis o destino, a dedicação a outras
causas ( como a comunicação pública) ou a excessiva auto-censura que eu desse
menos atenção a minha própria vida literária , transformada em bissexta, em
regra três da minha existência. Se me arrependo ? Sim. Por outro lado feliz e
pimpão estou sem grandes expectativas a correr atrás do tempo perdido. Tenho
agora oito livros publicados. Um de poesias, remotíssimo, cinco
infanto-juvenis, e um romance curto, “Cinevertigem” , publicado pela Record em
2005. A publicação de “Amor de Mãe”,
escrito entre 2006 e 2007, é quase uma prestação de contas,um reencontro com
aquele que já fui. E, terapeuticamente,
me dá a chance de saber que estou a abrir as comportas de novo. Que no tempo
que me restar, depois de um infarto que foi quase fulminante, não deixarei mais
a literatura ser a qüinquagésima opção de minha vida. Afinal foi por sempre
amá-la e venera-la que entrei para o jornalismo quando ele ainda existia. Era o
único jeito de ganhar a vida escrevendo. Só que aí troquei de amada e deixei a literatura e seus fantasmas na
geladeira.
Relendo Sábato portanto me pergunto:
por que demorei tanto ? não sei, de verdade. Posso dar muitas explicações mas
nenhuma delas seria convincente, inclusive para mim. Só sei que cheguei de
novo,disposto a expor a carcaça na chuva. Na tentativa de me entender, me fazer
entender e compreender esses tempos loucos e difusos em que vivemos. No mais eu
amo a minha mãe e a mãe de todos vocês.
( a propósito, o lançamento de "Amor de Mãe"-editora Patuá- é amanhã, a partir das 19 hs, no Patuscada Bar aqui em São Paulo.Estejam todos convidados.
( a propósito, o lançamento de "Amor de Mãe"-editora Patuá- é amanhã, a partir das 19 hs, no Patuscada Bar aqui em São Paulo.Estejam todos convidados.
Ernesto Sábato que inspirou as mal traçadas linhas acima. |
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