Entre o fascismo e o napoleonismo

Hieronymus Bosch
Republicação da crônica do DOM TOTAL .(clique aqui)
Por Ricardo Soares*
Lá vinha eu ,viaduto do Chá acima, há mais de 40 anos, a gritar palavras de ordem contra a ditadura militar misturado a uma patuléia que mesclava estudantes, trabalhadores, pobres, lumpens e opositores do regime. O mote era contra todos eles, os milicos, que ainda em 1977 afrontavam a democracia e exerciam a censura , esmagando inclusive a estudantada com a famigerada lei 477.
Não escrevo isso pra dizer que fui herói de resistência alguma. Não fui preso, não fui torturado, fiz pouco para derrubar aquela joça toda além de levar umas borrachadas e ter sido processado com base numa tal lei de nacional de moral e civismo por ter ganho um concurso de contos com uma história chamada " A filha do delegado" que assustou a fascistada então presente.
Se faço este relato é apenas para corroborar que sim meninos e meninas houve uma tremenda "ditabruta" entre nós e não uma "ditabranda" como sugerem alguns canalhas. Esse regime matou, prendeu, torturou centenas de pessoas, tolheu liberdades, aboliu Congresso , fez o que bem entendeu. Para esses homicidas não houve penas e hoje somos obrigados a suportar que um nazista como Bolsonaro teça loas a homicidas torturadores.
A pueril crônica que agora vocês lêem tem apenas e tão somente o objetivo de lamentar a perda da memória coletiva, nosso total desconhecimento da história que reverbera  inclusive na disputa eleitoral que se avizinha em outubro onde um inominável capitão do exército arrebanha ignorantes com seu discurso belicoso e de outro lado uma esquerda desorientada vê um Napoleão de hospício como Ciro Gomes como alternativa sendo ele filhote da mesma ditadura que alguns poucos lamentam.
Só tanta "desmemória" para tocar adiante a falácia de que Geisel foi o primeiro general bonzinho que começou a "abrir" o regime militar conforme pintou Elio Gaspari o festejado biógrafo oficial do período. Geisel foi mau como todos os seus antecessores  conforme agora revela a CIA  . Mas num país que crê em ditadores bonzinhos e outros ruinzinhos é bom mesmo  estar atento. A "desmemória" nos faz cometer erros que depois levamos décadas para consertar.

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