OS ESCRITORES NOS SALVAM
Os escritores nos salvam
Sou um escritor embora sempre
tenha tido dificuldade em assumir a denominação seja porque sou minúsculo diante
de tantos escribas, seja porque a literatura nunca tenha sido a minha principal
fonte de renda, seja porque muitos não me reconheçam assim. Mas isso é um problema
meu e não dos outros muito embora aos 60 anos as circunstâncias de confinamento- não só pelo
vírus maldito – me façam cada vez mais deixar a vergonha de lado e assumir :
sou escritor . Sempre fui. Desde os primeiros textos que publiquei como
cronista – e não como jornalista – no finado “Metrô News” aos 17 anos até hoje
quando escrevo duas crônicas por semana para o portal DOM TOTAL.
Sou escritor e apesar de achar
que a categoria (tempos afora) é uma raça difícil e muitas vezes inviável de
conviver devo dizer que devo aos escritores -elas e eles – a minha salvação não
só nesses dias difíceis, mas em toda a minha vida. Encontro neles, inclusive hoje,
explicação e alento para os maus bocados que passamos em títulos como “Diário do
ano da peste” do magistral Daniel Defoe (aquele do “Robinson Crusoé”) até o
Albert Camus de “A Peste” e o Gabriel Garcia Marquéz de “O amor nos tempos da
cólera”.
Não vou fazer aqui um panegirico
sobre os benefícios da leitura ainda mais para essa nação de analfabetos
funcionais onde um débil mental que nos desgoverna diz que os livros estão
muito cheios de letras ou palavras ou o que quer que seja que esse imbecil
tenha dito. O imbecil acha que quem escreve é antes de tudo um elemento a se
temer. Porque supostamente escrevemos para esclarecer, dar nossa visão de mundo
e, modestamente, iluminar o nosso caminho. Tudo o que o imbecil não quer.
Sou um escritor muito mais de relaxos
do que caprichos para usar aqui imagens do notável poeta Paulo Leminski. Tive
uma carreira até aqui bissexta e irregular e mesmo alguns amigos, elegantes,
preferem não comentar o que cometi reservando parcos elogios à minha produção
infanto-juvenil que até hoje vende modestamente bem. Afagos críticos já recebi
especialmente em relação ao romance “Cinevertigem”. Mas hoje lhes digo que
sinceramente esses afagos só me interessam se fossem pra reverter em boas
vendas. E isso não tem nada a ver. Tanto é que Paulo Coelho, o autor brasileiro
mais esculachado pela crítica é o mais lido. É o nosso “bem amado” do mundo
literário enquanto as caravanas de pseudo-intelectuais passam anônimas.
Sou um escritor e apesar de
entre a classe ter poucos bons amigos e alguns confidentes eu amo meu ofício e
quanto mais velho fico mais o pratico, mais o cometo, mais o considero redentor
e salvador. Os escritores nos salvam. E aí, modéstia mesmo às favas, fico feliz
por receber meu modesto quinhão. Ao longo da bissexta vida literária – onde atuei
muito mais como divulgador do que produtor de boa literatura – tenho uma
pequena malta que me acompanha e incentiva.
Que me levanta e revigora. E que diz, gentil, que muitas vezes eu lhes
salvo o dia com meus escritos. Percebo assim que a vaidade, noves fora, é zero.
Estou me lixando se não frequento mais as páginas elegantes de nossa mídia. Mas
fico feliz, nesse relato de um ano de peste, que se tantos escritores me
salvaram e salvam eu também possa ter atuado como salvador. Se não da pátria ao
menos das vossas crenças de que é possível ver o mundo com lindos olhos. Os
olhos da literatura.
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