O TÚNEL REVISITADO
O túnel revisitado
Quando entrei no túnel
Não me assustei, muito embora o túnel
Não fosse aquilo que eu esperava
Garatujas, letras esquisitas, grafites, velhos dentes
Que me lançavam apelos quentes
Quando entrei no túnel não imaginava
Mas vejo que agora quando o cu do poema não é azul
E o rio que o corta não é o Madeira
Que não há afluente para uma vida inteira
A poesia pega atalho e gosta de túneis
Os que vão fundo demais e a poesia espuma
E já não vejo a bruma ou aquilo que eu queria
De tanto que a mente desfocaria
Entrei no túnel desacelerado
Um verborrágico desassossegado
Guardador de rebanho incinerado
O túnel não me assusta
Antes me contraria
Entro nele de noite
Pois não confio na luz do dia
O túnel não me dá meta
Antes me faz curvo
O túnel não me clareia
Antes me faz turvo
Me faz um folclore cascudo
Pendurado num jirau
De onde se tira o charque
Guardado num embornal
O fim do túnel é o começo
Pois no começo a luz entrava
A escuridão que se formava
Sobre o túnel não mais desabava...
Ricardo Soares ( 22
de julho de 2007 – 20 de maio de 2020)
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