NÃO SOMOS BRANCOS E NEGACIONISTAS


NÃO SOMOS MOTOCICLISTAS BRANCOS E NEGACIONISTAS

( republicação aqui da crônica para o Quarentena news)


São Paulo, desde sempre, colaborou com atos antidemocráticos contundentes sendo o mais recente o que nos levou ao destino abjeto atual que foi o golpe contra Dilma em 2016 em cujo protagonismo está o vampiresco pária político Michel Temer, aquele que se tem em alta conta. São Paulo que sempre se debruçou com orgulho em slogans risíveis como “locomotiva da nação” e outras tolices supremacistas difundiu a falácia que aqui tudo se pode quando se trabalha com muito suor e muita honestidade.
Sim , São Paulo não é um rincão igualitário ou humanista. Tem uma elite perversa, escravagista , saudosa dos tratamentos de “sinhá” e “sinhô” mas no que tange a esse ato de propaganda política e eleitoral , a tal “motociata” fascista de Bozonazi e seus militantes pagos, vamos absolver a capital dos paulistas de ser o epicentro da ideologia da morte que propaga o nosso (des) presidente. Sim, porque só os mais tolos dos integrantes do seu gado devem ainda estar acreditando que os manifestantes que infestarem marginais, avenidas e estradas que dão acesso a capital correram para lá espontaneamente. Foi tudo minuciosamente orquestrado com as já manjadas redes de ódio bozonazistas que distribuíram camisetas, marmitas, mimos e trocados para acompanhar a besta no seu passeio de moto.
O ato em si não me assusta pela inexpressiva participação dos motociclistas ou motoqueiros, como queiram. O que me impressiona, sim, é a desfaçatez com que cada vez mais essa malta desprezível prega golpe a céu aberto em linda manhã de sábado, desrespeita a vida alheia, ri dos mortos e propaga a imbecilidade ostentação. O número deles é risível se comparado às recentes manifestações antiBozo que aconteceram na Avenida Paulista e que devem se repetir no próximo dia 19 de junho.
O que me assusta, apavora, estarrece, é que cada vez mais se normatiza a barbárie consentida que teve que ser financiada, no caso, pelo dinheiro dos nossos impostos para viabilizar o aparato de segurança dessa “motociata” dos fascistas, inclusive com a interdição para tráfego normal da rodovia dos Bandeirantes, um dos principais e mais rápidos acessos ao interior do Estado. Ou seja , o direito de ir e vir de muita gente foi tolhido para dar espaço a uma horda de imbecis negacionistas, espalhando vírus por onde passaram.
Assim sendo, cometo aqui esse pequeno e inócuo libelo para defender a cidade e o Estado onde nasci, o que aliás é muito raro. Não nos tomem como uma multidão de parvos a aplaudir um néscio. Os parvos são minoria a essa altura e mesmo muitos daqueles que cometeram o desatino de votar no pior presidente de nossa história já reviram seus conceitos e parecem dispostos a mudar o voto, nem que seja para votar em Dória que, mal ou bem, acabou por se comportar de maneira aceitável diante de tanta iniquidade.
São Paulo renunciou desde sua acelerada industrialização nos idos dos anos 40 e 50 do século passado a um sonho feliz de cidade. Nossa realidade é dura, feia, suja , poluída e injusta. Mas , por favor, não coloquem na nossa conta um apoio majoritário a essa triste e odiosa peregrinação motociclística do último sábado. Estamos muito mais afinados com aqueles que gritaram “Bolsonaro genocida” dentro daquele avião no Espírito Santo do que com os biltres e abutres que gritaram “mito” na motociata que ficará para sempre como uma página nefasta de nossa memória antidemocrática.
*Ricardo Soares é escritor, jornalista, roteirista e diretor de tv. Publicou 9 livros, dirigiu 12 documentários

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