DOMINGO, ROMANCE E SCARLET MOON

 



DOMINGO, ROMANCE E SCARLET MOON

Saiu no meio da pandemia. Achei que ela ia acabar, mas não. Por isso não teve lançamento, não teve divulgação até porque perdi a mão dessa vibe de autopromoção com o perdão da rima de ocasião. Assim, algumas vezes fico achando que lancei uma garrafa a esmo no oceano dos livros publicados. Relapso com a cria não sou mal agradecido e sim grato aos que leram, aos poucos que escreveram sobre e se ainda interessar possa a alguém deixo aqui a transcriçao do capítulo 112 onde aparece no radar a esfuziante e finada Scarlet Moon de Chevalier... e a quem interessar possa o link de compra do livro é esse : https://www.editorapenalux.com.br/.../devo-a-eles-um-romance
112
É para citar ? então vamos lá! Clarice Lispector dizia “eu sou uma pergunta”. E eu, mortal efêmero, digo que não tenho respostas. Jamais as terei. Nem hoje, nem naqueles idos , nem no século adiante . E, quer saber ? cansei também dessas procuras transcendentais, desses salvadores de moléculas, desses vendedores de soluções prontas e de cafés solúveis. Cada experiência artística- ou não- se encerra em si mesma e o que valeu para uns não haverá de valer para outros. Mas admito sim que sou um perdedor. Mas um perdedor muito terno.
O que acho apenas muito curioso, louco, inesperado a essa altura da vida, é a inversão total das prioridades. Naqueles começos nossa vida tinha que ter poesia e ser poesia. Hoje o assunto é um pano de chão, sequer um retrato colocado na parede, sequer um santinho desbotado esquecido na gaveta de um velho aparador. Me ressinto disso mas vamos em frente.
Antes de terminar esse ano espero estar de posse de novos procedimentos visto que o tempo parece mesmo escapar entre os dedos. Quando vimos já foi . E começa a virar costume achar normal uma certa vista turva, uns pés inchados, um cansaço que há poucos anos não existia. Aí você se dá conta que um dia,de maneira tão trivial quanto tomar uma cerveja gelada na praia, houve um encontro com Scarlet Moon de Chevalier que lhe apresentou de chofre e sem tempo para reflexão suas “Areias Escaldantes- Inventário de uma praia”, um simpático livrinho de capa colorida que contava coisas do mesmo período do fim dos 70 ,começo dos 80, do qual trata de certa forma esse livro que vos fala.
Espiando o livro de Scarlet Moon de Chevalier tenho a nítida impressão de que somos da mesma época mas habitávamos planetas diferentes. O planeta Rio entre Copacabana e Ipanema que ela habitou naquele período foi a versão que ficou do Brasil do período. Ok , foi tudo isso. Mas também não foi nada disso. Muita coisa rolou além das areias escaldantes no meio das quais ficavam as pedras do Arpoador.
Mas o que fazer se apesar de fazer biquinho para a autopromoção de um único inventário eu adoro Scarlet Moon de Chevalier e sua voz rouca de fumante doida, sua declamação sentida de poemas belos, seu derramamento, seu deslumbrado e deslumbrante encantamento ? não atirarei jamais pedras em Scarlet Moon de Chevalier nem aos seus retratados nas areias escaldantes que vão das carimbadas figuras de Cazuza, Caetano, Lulu Santos, Gabeira, Evandro Mesquita , Miguel Falabella e, óbvio, gigantesco elenco. Não lembro quem me disse que esse livro era de “futilidade pública”. Precisa e deliciosa definição que serve direitinho em tudo aquilo que gravitava ao redor do Posto 9 naqueles idos e vividos antes da ruptura virar uma tradição e a tradição da contradição virar uma caretice.
Scarlet Moon de Chevalier me deu um beijo na bochecha , autografou seu livro pra mim e me fez entender que muito além da minha praia havia a dela. Mais leve com certeza. Tirou a areia dos seus óculos escuros em 7 de julho de 1999 e me disse que o novo século traria para todos nós “conquistas incríveis” . Retirou-se muito cedo de cena alguns anos depois . Ainda não decifrei quais foram todas as “conquistas incríveis” que Scarlet Moon de Chevalier mencionou mas com certeza ela pincelou de maresia e bons fluídos toda a minha percepção daquele período. Com uma sustentável leveza que jamais experimentei no meu muitas vezes “solene” grupo de poesia. Faltou areia nos nossos calções ou sungas como sempre preferiu o dialeto carioca.

Comentários

Postagens mais visitadas