BASTA DE BUGIGANGAS

 

BASTA DE BUGIGANGAS

 

Agora, quando vou embora dos lugares, eu levo só lembranças. Nada de souvenires, colares, camisetas, cerâmicas ou artesanatos. Pois que as lembranças atulham memórias mas não nossos espaços físicos, nossas salas, cozinhas, armários e estantes.        Levar só lembranças é uma espécie de despojamento, um despir-se das  bugigangas que carregamos durante nossas vidas , às vezes por falsas obrigações que criamos.

            Estou longe dos meus cacarecos mas vendo-os distantes penso em me desfazer de alguns posto que muitas vezes cacarecos lembram pessoas e há pessoas que queremos , definitivamente, esquecer. Tenho um juiz que agora sai de mim. De dentro para fora. E cada vez mais ele me absolve de não ter culpa de ficar me livrando daquilo que não mais preciso.

            Olho ao redor do quarto de hotel que habitei por 12 dias e me regozijo. Os objetos que trouxe são os que levo de volta nada acrescentando à bagagem de viajante veterano. Pinta aqui uma espécie de tolo orgulho de ser menos acumulador. Agora, quando vou embora dos lugares, levo só lembranças. E mesmo elas, as que são más , acabo por descartar . Porque a vida é isso. Ir se descartando até sermos definitivamente descartados.

Ricardo Soares é escritor, roteirista, jornalista e documentarista . Publicou 9 livros, dirigiu 12 documentários. Fala sobre livros em 1 minuto no Instagram @naredecomsede


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