FÁBULAS DE PINDORAMA 1- DO TIETÊ A CONSOLAÇÃO

 

pintura de Eduardo Marques de Jesus

Antes que morressem todos de velhos, felizes e faceiros, eles se encontraram , depois de um dilúvio , num enorme congestionamento na marginal do Rio Tietê na cidade de São Paulo de Piratininga.

Naquele tempo haviam estranhas caixas metálicas e retangulares que se moviam com combustíveis fósseis

a que chamavam automóveis e muitos seres neles  ficavam retidos para , antes ou depois do enclausuramento, correrem atrás do sustento que no mais das vezes era o roto explorando o esfarrapado.

Aquele Planalto, o de Piratininga, cortado por rios imundos e gente interesseira, já havia sido habitado por criaturas como Anhanguera, Tabatinguera e as aventuras de Tibicuera , o filho do Boitatá Rastaquera.

Muito sangue ali já havia corrido, ao redor do prédio da Federação das Indústrias,muito embora não mais se achasse rastro de onça ou javaporco e muito menos de pacas e cotias vegetarianas emborcadas no leito do córrego do Saracura.

A gente que se conheceu no congestionamento e padeceu de erisipela e  frieira fez fama e fortuna com fabricação de óleo de peroba e diluição de cápsulas de café a partir de borra suja.

Entre espadas e fadas essa gente bravia e altaneira desfraldou sacra bandeira de "Deus, família e trincheira" e , aos poucos, antes de virar gado, copiou tranças de Rapunzel , escopetas de militares, bambus que não rangiam e sucuris na brasa.

Eia que, sem maiores perturbações, se reproduziram às escancaras, eternizaram a vilania e hoje após morrerem alegres e torresmos perpetuaram em pedra os seus bustos e seios com farta ostentação no cemitério da Consolação


RS - 30/01/2023

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