A SUSTENTÁVEL LEVEZA DE BIOGRAFAR

 



           









Motivado pela leitura ligeira e prazerosa da biografia de Tarso de Castro, escrita por Tom Cardoso e reeditada pela editora Casa do Sabão, fui fuçar meus alfarrábios para buscar neles algumas das passagens citadas no livro .
            Apesar de ter um acervo encadernado bem modesto daqueles tempos idos e vividos- muito distante da organização, método e quantidade de um Alberto Villas- entre os guardados estão as primeiras edições do suplemento “Folhetim” ( primeiro número tem na capa o Tom Jobim) e os primeiros exemplares do tabloide “Enfim” ( Brizola voltando do exílio é a capa) , sem falar de alguns exemplares do “Pasquim” todas publicações com final “im” nas quais  o nada ruim Tarso esteve envolvido.
            Já deixei de lado faz tempo os pudores em dizer que “naquele tempo é que era bom” ou que a imprensa e os jornalistas de quando eu era jovem eram infinitamente melhores. Isso é fato, não é dedução diante do que vemos hoje que sequer pode ser chamado de “jornalismo” tal seu grau de venalidade, reacionarismo e vassalagem às grandes corporações. Mas essa é outra prosa.
            Minha cara de pau mesmo era outra naqueles  tempos.  Hoje na encolha rio de minha juvenil pretensão em querer estar ao lado de craques que se reuniam por exemplo ao redor do “Folhetim” como o próprio editor Tarso e outras feras como Luis Carlos Maciel , Roberto Freire, Paulo Francis, Plínio Marcos , Glauber Rocha, ombreando com reportagens feitas pelo finado e esquecido Dirceu Soares e os perfis escritos por Regina Penteado.
            Para não ficar de fora disso tudo na fina flor dos meus 17 anos eu mandava cartas longas para o “Folhetim” nesse ímpeto de escrever aos borbotões que não perdi até hoje. Nas 23 primeiras edições foram publicadas 3 de minhas longas e pretensiosas cartinhas que sempre receberam respostas marotas que pelo estilo lembravam a verve do Tarso ou sob influência dele como vocês podem atestar aí nas reproduções.
            O “Folhetim” e sua diversidade  era a festa não só para jovens corações sonhadores como o meu. Fez alegria de muitos e jogou frescor, vitalidade e a tal fúria mencionada no título da biografia do Tarso. Voltar a falar dele é um alento , sinceramente. É mergulhar no tal “recordar é viver” e lamentar tanta coisa anódina, pentelha , raivosa e pretensiosa que anda por aí e nem chega aos pés daquilo que Tarso ensejou com sua turma. Prefiro pois enxergar o Brasil pela ótica e ética daquela esquerda de Ipanema  - com tentáculos fortes em São Paulo-  do que hoje pelas lentes dos “farialimers” da mídia, anódinos e parciais.
            Pra finalizar acrescento que ao ler a biografia feita pelo Tom tive ainda mais certeza de que ele era o cara certo no lugar certo pra escrever esse livro pois seu texto maroto, saboroso, direto e reto é próximo ao humor do Tarso e deixou longe os penduricalhos das biografias enormes que vem sendo publicadas no país exceções feitas a Fernando Morais e Ruy Castro embora ambos já tenham vivido melhores dias na arte de biografar. O resto é espuma e departamento de divulgação de grandes editoras. Quero mais concisão e alegria ao ler uma biografia como esse que o Tom fez do Tarso e agora emerge novamente.

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