MEDO E DELÍRIO EM BRASÍLIA

 

                             foto; Ueslei Marcelino /Reuters

MEDO E DELÍRIO EM BRASILIA

 

Não , não é o famoso podcast que dá título ao texto mas há radioatividade em Brasília. As pessoas caminham normalmente e  no entanto algumas delas perdem  o cabelo. Um senhorzinho  de roupas caretas com bonezinho e calças de veludo marrom , típicos de antiquado militante de esquerda, vai rápido ao encontro de sua companheira ceramista enquanto ali, perto dele, uma grande festa cheia de doces e acepipes é organizada por uma promoter dessas descoladas numa gigantesca galeria que parece o conjunto Nacional em São Paulo.

Há muitas e muitas mesas com arranjos florais  onde se espalham lindos e apetitosos doces e bolos coloridos e entre as quais as pessoas apreensivas começam a fugir. NO meio dessa muvuca toda está uma minha ex-mulher, que trabalhou e viveu na cidade e com quem há anos não converso . Se movimenta com certa aflição e vejo que anda em círculos mas demoro a entender que está me seguindo, tentando me alcançar até que laconicamente toca meu braço e diz , com simplicidade e até ternura algo como : “ a gente podia estar aqui passeando”. Quando me a toca  eu peço licença à colega jornalista Solange Espírito Santo com quem eu vinha caminhando como se avaliasse com ela toda a extensão dos estragos da festa que agora terminava. Solange vestia uma simpática calça e camisa azul claras com serenos tons de branco salpicados e entende minha aflição . Deixa-me a sós com a ex-mulher e ficamos juntos embora a conversa pareça que não prosperou.

Momentos antes eu estava conversando e em seguida me ultrajei com o velho e fraterno amigo Gabriel Priolli que agoniadíssimo para dar atenção e guarida a um grupo de jornalistas hispsters e “discolados” desdenhou de um relato aflito que eu lhe fazia, ansioso por sua opinião .  A situação era a seguinte : um enorme show, um espetáculo com nomes importantes havia acabado de ser cancelado  mas os organizadores ( entre as quais a poeta e cantora Natália Barros) resolveram manter a efeméride com quem estivesse por perto no caso eu e o compositor Ivan Lins que animadíssimo foi correndo tentar se organizar no meio de uma profusão de instrumentos e pedaços de bateria num palco desorganizado. Eu aparvalhado não sabia o que fazer além de ter a certeza junto com o sumido ator Luis Carlos Rossi que deveria encenar uma cena engraçada de minha remota peça “O Olho da Rua” que escrevi com meu amigo Luiz Cabral . Era justamente uma cena que havia feito  muita gente rir e fora originalmente escrita na “Lua Pousada” um recanto que foi paradisíaco e gerenciado por minha amiga Lu Damasceno. No meio de tantas dúvidas acerca do que  afinal fazer naquele show- espetáculo hibrido que dividiria com Ivan Lins-  fui então tentar ouvir ,em vão, a opinião a respeito do meu amigo Prioli que me desdenhou para dedicar sua atenção aos hipsters e “discolados” de plantão me deixando com meu show e meus caminhos alternativos.

            No mais ,agora que tento reconstituir diante do computador esse sonho, ( afinal se não perceberam tá na cara que é um sonho né?) tudo se funde numa enorme barafunda de cenas que se sobrepõe e se colidem numa capital federal radioativa e não consigo mais reter na memória o que foi que de fato aconteceu, como começou e terminou tudo isso nesse meu “medo e delírio em Brasília” que foi um título que me surgiu agora e não no sonho e é copiado do valoroso podcast satírico de mesmo nome feito por Pedro Daltro e Cristiano Botafogo.

            Não sou de ficar escrevendo sobre sonhos ou os narrando mas esse aqui me despertou tão acelerado e com a boca seca que resolvi contar a vosmecês com gosto do suco de tomate temperado que tomei agora pouco pra tentar diminuir a radioatividade que a narrativa-sonho trouxe em seu bojo. Me fiz entender ? Acho que não né ? Mas os sonhos assim são né ? Feitos para tudo , menos pra gente entender . Ou não ?

 

Ricardo Soares-oito da matina , 5 de outubro de 2023

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