Confissões de um marcador de livros -5
CONFISSÕES
DE UM MARCADOR DE LIVROS -5
(
Caetano Veloso, Bortolotto, Reinaldo Moraes e Mirisola)
“Quem lê tanta notícia ?”, perguntou
certa vez o Caetano Veloso no refrão do
seu “Alegria , Alegria” quando havia “mais pureza, mais carinho, mais calma, mais
alegria”, esse um verso do Peninha cantado também por Veloso
glamouroso.
Fato é que a pergunta “caetanesca” pode
hoje ser facilmente adaptada para “quem lê tanto livro?” e o questionamento
enseja, de cara, um paradoxo. Sim, talvez nunca se tenha lançado tanto livro de
ficção ou de poesia no Brasil, mas nunca se leu tão pouco no Brasil e não só
ficção e poesia. Não se lê quase nada embora pululem nas listas as autoajudas,
coachs, mensageiros de luz que nos tirem das sombras e outros derivados. Livros-pílulas
que evidentemente não precisam ser lidos até o fim e que dão a sensação a seus
leitores de que se pode fazer amigos e influenciar pessoas após terem lido meia
dúzia de parágrafos.
Pois eu não consigo ler sequer um
parágrafo dessas tralhas e não falo isso por soberba. Deveria mesmo tentar
engolir para saber, afinal, o que atrai tanta gente desavisada ou não. Mas, não tenho jeito e às vezes prefiro me
debruçar mais em alguns “feios, sujos e
malvados” como o Mário Bortolotto,
Marcelo Mirisola, Reinaldo Moraes e alguns poucos e poucas mais muito embora
duvide que dessa lista alguns deles
sejam de fato “feios , sujos e malvados”. Alguns até conseguem a peja de
“cults” como o Reinaldinho que recentemente andou nos braços (literários, calma
lá) do Caetano strip&ego show. Sorte do Reinaldinho porque o fato, suponho.
lhe rendeu novos leitores.
Preferências a parte acabo me debruçando
sobre eles porque assim como o Nick (Alta Fidelidade) Hornby eu ando de saco
cheio de romances sobre literatura ou romances sobre romances ou metalinguagem
ou ainda a peja que alguns “pedantecos” pespegam em autores chamando-os de
“escritores de escritores”. Esse papo meu tá qualquer coisa? Então esperem que
vem mais.
Salvo exceções (algumas citadas nesse
texto) me entedia a grande maioria de escritores e escritoras que se levam a
sério pregando que literatura é organização e método, disciplina , estudo e
concentração. A intuição, então, noves fora nada ?
Se criadores como Henry Miller, Kerouac,
Artaud, Baudelaire, Rimbaud, Zé Agripino de Paula, Plinio Marcos e os já
citados nesse texto fossem levar ao pé da letra os conselhos dos “coxinhas” de
plantão onde iria parar o som e a fúria, o impulso , a sofreguidão e sobretudo
a tal intuição?
Ninguém parece querer pisar em campo
minado. Ninguém arrisca , mas também não se petisca . Assim sendo não há atrito
sem movimento. E às vezes parece que nossa literatura fica ao relento. Salvo cada vez mais as tais raras exceções.
Ricardo
Soares
16/02/24
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