24 horas de martírios

 

    Não faço a menor ideia do motivo de estar lembrando disso agora, mas me ocorreu uma recordação profissional de 1986  (ou 87) quando eu era repórter especial do  Estadão e atendi a uma sugestão do Luiz Fernando Emediato ( então editor do caderno 2, recém fundado) para passar 24 hs diante da televisão num final de semana assistindo a tudo o que fosse possível . Sem trégua e sem pausa. Uma ideia tão inovadora quanto simples. Só não poderia imaginar que a "missão" fosse um martírio muito maior do que eu imaginava.

   Lamento não achar entre os meus desorganizados alfarrábios uma cópia dessa reportagem de capa e página inteira do  "caderno 2" onde eu narrava minhas agruras e fico aqui me perguntando porque os novos editores dos segundos cadernos não pautam agora um repórter para ficar 24 hs seguidas diante do que nos oferecem as time -lines, reels, stories e quejandos que passam diante dos nossos olhos num amplo festival de estultices e barbáries , burrice ostentação e estupidez que oferecem as tais "redes sociais"substitutas diretas do que foi um dia a "influência" das tvs abertas nas nossas vidas. 

    O que vi como jovem repórter submetido a 24 horas de martírios diante da tv aberta em meados dos anos 80 é nada diante do desfile da barbaridades que passam pelos nossos olhos todos os dias nas "redes sociais".  De anões sodomitas escandalosos a ninfas influencers de unhas compridas e imundas , passando por pregações apocalípticas de pastores evanjegues, ex- craques contando casos escabrosos dos vestiários da vida , mulheres com expressões equinas e caras de cães pequineses submetidas a procedimentos de inchaço facial e vaginal temos de tudo isso um pouco e muito mais. A lista é tão longa quanto desoladora e alguém com um bom humor que não tenho (será Tom Cardoso?) deitaria e rolaria diante desse circo de horrores muito embora nem o circo e nem os horrores dos filmes b mereçam tal comparação. Equiparar 24 horas de martírios televisivos  há quase 40 anos é um nada diante da tsunami de dejetos que passam pelos nossos olhos em 24 horas de redes sociais. Como pioramos minha gente.