AMPARANDO NO COLO

 

AMPARANDO NO COLO       

 

Vi numa dessas redes sociais agora pouco uma colega de profissão em recanto distante amparando no colo sua antiquíssima e debilitada mãezinha numa pose digna de escultura. Daí pensei : como são dignos os seres humanos que amparam no colo os idosos, passando a mão entre seus cabelos e os ajudando a lembrar de tempos melhores e distantes.

         Quanto mais avanço em idade mais me pergunto se fui generoso o suficiente para com os “meus” velhos e velhas e percebo a óbvia comparação entre a fragilidade da primeira infância  e a derradeira velhice. Se os pontos se ligam eu de fato não sei , mas sei que quanto mais vivo mais lembro da minha infância em lugares que não mais existem. Locais inclusive geograficamente destruídos ou alterados.  

         A colega que ampara no colo sua mãezinha, aqueles que tratam os que atravessam a velhice com padecimento, os que ouvem e de fato escutam o que idosos tem a dizer terão para sempre minha consideração que se não é grande coisa, mas , ao menos,  homenageia que cede lugar a  velhos  em ônibus, metrôs e lugares onde deveriam sempre ter prioridade.

         Sim, viver segue sendo perigoso, custoso, jornada fugaz que, quando vimos, já foi. Um lento fusquinha sendo ultrapassado e quase abalroado por carretas pesadas e velozes. Assim sendo me desperta profunda ternura quando vejo gente como a minha colega amanhecendo tendo no colo quem a gerou. O que era doce ainda não se acabou.

( 13/11/2024)   11 e 33

 

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