última nos 65- entrando na rota 66

        

  Última nos 65- entrando na rota 66

66 é um número especial. Místico, lendário, cabalístico ? Talvez nada disso ou, talvez, tudo isso. 66 é o número da lendária rota americana que fez a cabeça (e corações e mentes) de toda uma geração e que ainda hoje inspira os abonados , ou nem tanto, a alugarem um Mustang para percorrer os seus meandros, muitos dos quais quase esquecidos. Representa, ainda que toscamente, a procura de toda uma era. E veja só o que achamos...melhor deixar pra lá.

         66 com mais um 6 dá 666 que é dito e havido em culturas ancestrais (e na pop também) como o número do demo e seus tentadores convites às transgressões de toda ordem. É possível que seja uma referência a Nero, imperador romano que perseguia cristãos e tinha o seu nome representado por 666 na escrita hebraica.

         Pelo sim, pelo não, em nome da cultura pop ou da religião, começo daqui a pouco a percorrer minha própria rota 66 e ao fim dela espero estar aqui com vocês no ano que vem para ver o que se deu em suas margens, acostamentos e desvios –com ou sem saída-   em mais um ano velhice adentro.

         Até agora, 65, imaginei como a tal envelhescência, ainda mais próximo dos 50 do que dos 70. Mas, a partir de agora, é velhice mesmo com seus dissabores e apreensões e não adianta suavizar o tema.  Envelhecer é osso, é foda, é desagregador, é um período cheio de balanços e melancolias por mais que a gente fuja disso.

         Bom , não quero mais “morar na filosofia” acerca dos 60+, até porque o tema do etarismo anda infestando todas as mídias sem que nada ( ou muito pouco) se faça de efetivo para acabar com o preconceito além dos bônus track de bilhetes gratuitos de transporte ou vagas para idosos ( aliás, nunca respeitadas) nos estacionamentos da vida.

         Sim , envelheço e não me conformo. Envelheço e não estou pronto e há sempre aquele horizonte que ficou pra trás, a sensação de que o melhor já passou. Mas, morar na melancolia não vai ajudar mesmo com a acachapante impressão de que envelhecemos mais depois da pandemia e o tempo passou muito mais depressa.

         No meu caso perdi dois dentes definitivos e frontais nos meus 65 sendo que não esperava por isso ainda mais provocado por acidentes alimentares como morder torresmo ou pão italiano à maneira de um garotão de 15.  Com o tempo morder a vida vai ficando mais difícil e as perspectivas vão se afunilando.

         Perdi amigos mais novos do que eu. Se foram para outras dimensões, cansados dessa. Com o coração enfartado e ainda firmão sigo a letra da canção de que “nada será como antes amanhã”. Não mesmo. Mas, desculpem pelo lugar comum, enquanto há vida há esperança. E que a rota 66 venha porque não dá mesmo para fugir dela.  Que venha com bons mirantes pelo caminho, paradas para café e risadas ( e com algum vinho para segurar o rojão)  e muita poesia. Se a poesia auxilia há a enxada. E a enxada não só cava a sepultura. E se a segunda é chuvosa como a cova eu faço a feira pois a feira é de segunda.

 

Ricardo Soares, 7 de junho de 2025, 11 hs e 57 minutos

Comentários

Anônimo disse…
Sei que cheguei tarde, mas...Parabéns! Chegou onde estou há 3 meses. 66. Envelhecer é fácil, é o que a vida nos impõe. O difícil é conviver com a decadência física e ascenção da mente. Agora, com 66 anos bem vividos, sinto que o mundo me impõe uma ladeira que só desce. Não vou ceder. Tento burlar a decadência física com a mente sempre muito atenta. Bom saber que você, com uma trajetória de vida tão diferente da minha, sente, como eu, o passar dos anos. Tanto em comum, mas muito distantes.
Novo mundo, digital. É
isso. Parabéns.






Ricardo Soares disse…
pena que os recursos agora limitados não permitam eu saber quem é o "desconhecido" em questão agradeço o comentário legal ...da mesma geração...sigamos...abraço!

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