O CONGRESSO NACIONAL É UM CIRCO


Logo a edição brazuca da Rolling Stone completa um ano mas eu ainda continuo sendo honrado com a reprodução desse artigo publicado na número 1 ( capa Gisele Bundchen) em vários blogs desse Brasil varonil. De certa forma culpo os blogueiros pelo surgimento de mais blogueiros. Sem eles eu não teria me animado a usar este estimulante meio de comunicação para lançar garrafas nessa tsunami de informação. E como infelizmente nosso Congresso continua sendo o lixo habitual o meu artigo continua atual.



O CONGRESSO NACIONAL É UM CIRCO

Faz tempo que deixei de ser da turma que se emociona até com bumbo de banda . Portanto foi duro agüentar o day after pseudo –cívico do primeiro turno das eleições 2006 com todo aquela malta de jornalistas engravatados, cientistas políticos redundantes, historiadoras equivocadas e analistas entediantes usando chavões como “festa da democracia”, “festa patriótica “ e outros bolodórios para definir as eleições de 1 de outubro.

Não foi festa de nada até porque não temos o que comemorar em meio ao caos , violência , desesperança e as assustadoras cifras de sempre que nos colocam no pódio da desigualdade social do mundo. Isso não é discurso ideológico , não é demagogia . É realidade. . E se Rolling Stone quer ver pedras rolando no meio do tédio burocratizante do bom mocismo da mídia nacional é bom dizer que não foi bonita festa nenhuma até porque se muitos picaretas não foram reeleitos outros tantos continuam aí firmes e fortes .

A nova escalação do congresso nacional é medonha, enfadonha, tristonha Tão pobre como essa rima pobre que cunhei. A engravatada mídia nacional assim como “festejou” a “festa cívica” e comemorou a realização de um segundo turno deixou de dizer quanto tivemos de votos nulos . Não convém ao bom mocismo dizer que voto nulo bem aplicado é higiênico pois se em grande número revela que todos nós estamos de saco inflado de tantas falsas promessas e medonhas premissas na política nacional .

Chega da tese do “não tem tu , vai tu mesmo”. Chega de votar por votar. Um movimento sério pelo voto nulo talvez fizesse com que eles enxergassem que o balde já transbordou . Mas as pedras rolam, a água derrama e eu desvio o assunto sedento que estou em dar pedradas em tantos manés. Podemos tratar assim , a pedradas as vossas excelências ? sujeitos zelosos de seus espaços , dos pronomes de tratamento , dos tratamentos diferenciados e dos mimos que se oferecem ao poder , seja ele qual for .

Podemos insulta-los por insultarem tanto as nossas inteligências ? podemos fazer com que nos ouçam de verdade e não se protejam no tosco corporativismo que inventaram ? Acho que podemos , mas muitos acham que não devemos. O brasileiro adora venerar uma “otoridade”. A eterna síndrome da “Casa Grande & Senzala” que está enraizada no imaginário nacional e apesar do ocaso de velhos coronéis como ACM e de neo coronéis como Tasso Jereissati ainda atribui superpoderes aos que chegam aos oráculos de Brasília.

Brasília é o que somos. O congresso é o que somos. O povo não é sábio, o povo é manipulado e manipulável e a mídia não diz isso por hipocrisia total. Assim vamos desafinar o coro dos contentes ( viva o santo poeta Torquato Neto !) e lembremos que bons profissionais de mídia e marketing são bem pagos a preço de platina pra dar novo lustro às caras de pau de muitos de nossos novos (!!!???) governadores, deputados federais , senadores. Tudo pra levar no bico o tal “povo sábio e soberano”.

A pergunta que sempre se faz depois de uma nova eleição é que país sae das urnas. É outro dos velhos chavões da mídia engravatada sempre ávida por nos dar respostas que eles mesmos não tem . Talvez a resposta mais triste seja a mais clara : sempre temos mais lixo não reciclável do que qualquer outro material orgânico que se aproveite em nossa representação parlamentar. Eu tenho vergonha dos deputados do meu país. Eu tenho vergonha dos senadores do meu país. Eu tenho vergonha do meu país pelo salário que eles recebem , pelo desrespeito com que nos tratam , pelo pouco que fazem por nós.

Obvio seria aqui apenas destrinchar a lista dos questionáveis novos deputados e senadores que chegam ou voltam a Brasília a bordo de milhares de votos. Pouco óbvio seria dizer que na verdade tudo fica igual embora pareça diferente. E não estou falando apenas dos mensaleiros, sanguessugas e outras pragas que retornam como se nunca tivessem feito nada de errado e nunca tivessem sequer partido.

Estou falando também de novos (!!!!!????) governadores como José Roberto Arruda, agora à frente do Distrito Federal depois de ter usado suas múltiplas mãos na violação do painel do Senado numa peça tocada em parceria com o “painho” Antonio Carlos Magalhães. Na ocasião do delito o elemento ( perdão excelência ) chorou e jurou pelos filhos que nada tinha a ver com aquilo tudo. Mas é lógico que tinha.

Só que o eleitor de Brasília se esqueceu disso. No fim o Arruda chorão fez muitas reuniões com grupos de pessoas pra explicar que violação do painel não é um pecado tão grande assim . Ele não foi ético. Mas e daí ??? o que virou a ética no país do Paulo Betti e do Wagner Tiso? Para essa gente tudo vale a pena quando a alma se apequena.

Ética virou artigo de luxo e a falta dela não impede ninguém de ser eleito. Vejam por exemplo o caso do sr. Fernando Collor que depois de ter estado à frente de um dos mais vexaminosos governos que este país já teve vai para o senado nos braços do povo de Alagoas. Muitos anos mais velho mas nem por isso mais humilde e ainda ávido de poder, pompa e circunstância vai desfilar suas madeixas tingidas pelos restaurantes chiques de Brasília pois boa parte da tal mídia engravatada a qual já me referi aqui acha que o ex-presidente já pagou por seus pecados. Aliás nosso próprio presidente , o “ético” Luis Inácio Pernambuco Lula da Silva acha o mesmo.

Collor foi ao inferno e por ter provado das chamas do capeta está apto a voltar. Voltar pra que cara pálida ? Para algum projeto de salvação nacional? Alguém acredita mesmo que ele voltou para o combater o bom combate ?Combatente nada combalido nas hostes da política pátria volta também o eterno Paulo Maluf . O caso mais retumbante de cara de pau da nossa história republicana que ainda não livre dos ácaros que lhe grudaram na cutis na cela da Policia Federal vai retomar assento na Câmara para renovar sua pele política com mais uma dose de poderzinho de quatro anos.

Tal qual um vampiro da rua Costa Rica, jardim América , São Paulo, o eterno Maluf reaparece na calada da noite para assombrar nossos sonhos de um parlamento melhor. Um parlamento que também não estará melhor com a presença do votadérrimo ( lembra quando falei da manipulação e dos manipuladores da patuléia ?) Ciro Gomes o político que leva ao pé da letra uma frase de Glauber Rocha. O cineasta, pra clarear nossa memória , dizia assim : “aos artistas não se deve cobrar coerência “.

Bem , Ciro Gomes que já esteve em todos os partidos políticos possíveis e tem delírios de grandeza não tem qualquer coerência política e está há anos luz de ter qualquer talento artístico a não ser o ilusionismo cujo instrumento é sua oratória de rábula provinciano da qual faz uso para defender suas plataformas de interesses políticos que beneficiem sobretudo sua família e amigos. Aos inimigos esse eterno aprendiz de Carlos Lacerda quer , lógico, que se aplique a lei.

Pois a lei ainda não alcançou mensaleiros famosos como João Paulo Cunha ( como é lindo ver o dito cujo fazendo beicinho de vítima) Vadão Gomes, Paulo Rocha, Valdemar Costa Neto, Pedro Henry, Sandro Mabel e José Mentor e sanguessugas como Marcondes Gadelha. Todos de volta. Sorridentes e felizes. E se a lei não os alcançou a consciência pesada também não os atinge. Querem o bem- bom de novo. Salários e mordomias pagos por nosotros. No quesito ausência de consciência pesada ao menos devemos dar um crédito ao performer Paulo Maluf. Ele é de certa forma um patriarca, um pioneiro dos múltiplos artifícios do qual pode lançar mão um cara de pau profissional.

Maluf, reconheçamos, é um mestre . E aí nem ele nem seus colegas políticos estão sozinhos. Querem cara de pau maior que os executivos dos institutos de pesquisas que no day after das eleições ? Eles “elogiavam” o grau de acerto deles próprios quando todos viram erros intergalácticos como não preverem a vitória de Jacques Wagner na Bahia ou a primeira colocação de Yeda Crusius no Rio Grande do Sul. Talvez a cara de pau deles seja proporcional ao tamanho do preço que cobram por pesquisas tão furadas.

Isso posto o resto é circo. Como ficar aqui indignado porque o forrozeiro Frank Aguiar , o “defensor público” Celso Russomano ou o caricato defensor púbico ( eu disse púbico) Clodovil agora estejam em Brasília nos representando ? Nós os colocamos lá . Assim como colocamos o aprendiz de Mussolini “meu nome é Enéas “ e o recordista de escândalos Jader Barbalho de volta ao Planalto Central. E agora temos mais quatro anos para nos lamentar novamente.

Ah , por falar nisso lembram do José Genoíno e do Palocci ? Pois é . Estão de novo em Brasília para o bem de todos e a felicidade geral da nação. Como Dom Pedro eles ficam; para eles todo dia é dia de Fico. É por essas e outras que não sou mesmo da turma que se emociona com bumbo de banda em festa de 7 de setembro . Festa cívica a essa altura é pura hipocrisia, chavão de jornalista engravatado. Temos mais é que fazer a Bastilha cair. Pedras e cabeças rolando em nome da ética. Rolling Stone.

Comentários

Blogildo disse…
Eu li esse artigo no primeiro número da Rolling Stone e achei-o bom demais. Foi um dos artigos que me animaram de continuar comprando a revista!

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