OS VERÍSSIMO

Eu ia falar do pai, Erico, mas o filho, Luis Fernando , se intrometeu. Tudo porque ao lembrar do pai também me chega à lembrança o filho que, ao contrário do que a propalada timidez poderia fazer supor, flagrei em momento de ternura e desinibição ao falar do pai na feira do livro de Ribeirão Preto em 2005 quando se comemorava o centenário de nascimento de Erico.
Luis Fernando estava na cidade acompanhado da mulher e da professora gaúcha Maria da Glória Bordini – especialista em Erico- e numa noite de casa cheia no belo Teatro São Pedro eu que mediava o concorrido encontro e mais centenas de espectadores enternecidos vimos Luis Fernando falando do pai de uma maneira que eu nunca havia presenciado ou lido.
Erico , a quem Luis Fernando se refere sempre como “o pai”. me pareceu nas palavras de seu filho o mesmo admirável homem e criador que aprendemos a admirar à par das homenagens oficiais e oba-obas globais. Uma criatura mais preocupada em dar vida e voz a seus personagens do que se enredar nos muitos desvãos das vaidades literárias e competições estilísticas. Erico sempre me pareceu ciente de sua competência, um senhor de seu oficio , um dos raros autores brasileiros que conseguia viver de sua ficção numa época em que não pululavam tantos escritores de auto ajuda que vivem muito bem doas seus "escritos".
Hoje lamento muito não ter tido tempo de ter conhecido ou mesmo entrevistado Erico Veríssimo pois ele morreu aos 70 anos em 1975 quando eu nem pensava em viver do que vivo. Ou melhor, pensava , até por influência dele que foi um dos autores que mais me marcaram a adolescência ,sobretudo após a leitura de “Incidente em Antares”, para mim um dos maiores livros da literatura brasileira de todos os tempos.
Tomei contato com a literatura de Erico muito cedo e através do romântico “Clarissa”. Não me recordo de ter lido “Olhai os Lírios do Campo” mas devorei ávido “O Tempo e o Vento”, “As aventuras de Tibicuera” e “O Senhor Embaixador” que li precocemente sem ter repertório pra entender as nuances da trama. Nunca havia lido contudo os dois volumes de “Solo de Clarineta” as memórias que Erico ainda teve tempo de fazer pouco antes de sua morte em 1975. Naquela época eu era estudante de segundo ano colegial do Colégio Regina Mundi, no Ipiranga, e me lembro perfeitamente de uma colega de classe chamada Lídia que se deleitava com a leitura de “Solo de Clarineta”. Lembro que ela me recomendava vivamente a leitura mas ou por não ter dinheiro para comprar os livros naquela ocasião ou por não ter tido interesse imediato deixei passar a oportunidade.
Só há poucos anos eu comprei os dois volumes de “Solo de Clarineta” no sebo do Messias na avenida brigadeiro Luiz Antonio. Os volumes impecáveis , embora com as paginas amarelecidas, estavam encadernados em azul marinho com lombadas vermelhas que se soprepunham à capa original. Adoro ficar imaginando a quem pertenceram livros antigos ainda mais quando estão bem tratados como esses. Pois há poucos dias eu redescobri esses volumes em minha estante e me entreguei finalmente à sua leitura. Agora , pasmo de novo com Erico, me pergunto como pude perder tanto tempo. Erico em suas memórias, e me perdoem o lugar comum, traz de volta seus velhos fantasmas e torna tudo mais vivo do que nunca. Seus fantasmas são frescos e vívidos e Erico parece mais vivo do que nunca embora esteja muiitas vezes narrando histórias que se passaram nos idos de 1920 na remota Cruz Alta onde hoje habita meu amigo Saulo Maragato, estancieiro anti-petista. Passei há três anos ao largo de Cruz Alta e me arrependo terrivelmente de não ter entrado na cidade e nem ter visitado o museu do Erico. O que lembro agora além de suas sobrancelhas espessas e sua literatura sem gorduras é do filho gordote, escritor e popularíssimo no palco do teatro São Pedro em Ribeirão Preto dizendo com os olhos brilhando atrás das grossas lentes como era especial ser filho do Erico.De certa forma entendemos Luis Fernando porque ao ler o seu pai todos nós nos sentimos seus irmãos.

Comentários

Anônimo disse…
PÕ! Ricardo não sou tão anti-petista assim, só não gosto do Lula, do Mantega, da equipe econômica, do Rosseto, do Mercadante, do Olivio Dutra, mas tenho alguma simpatia com o Dirceu, ainda acho o mais consistente de todos, o que tem um pouquinho mais de massa encefálica.
Também acho deplorável o gordo Berzoini e sua turma sindicalista avidos de grana, que anos exploram de maneira vil o operariado, mas é só isso. Tanto o Tempo e o Vento como principalmente o Incidente em Antares tem relação direta com Cruz Alta, os mortos vivos ainda andam pelas praças e clubes da cidade.
Abração.
Saulo o Maragato.
OBS. Discordo totalmente da politica econômica do Lula ultra ortodoxa e de direita total.
Edna Federico disse…
Érico Veríssimo é MARAVILHOSO!!!!!!
O Tempo e o Vento, é delicioso de se ler, a gente viaja mesmo.
Beijo
Alexandre Core disse…
O pai merece minha admiração e reconhecimento. Já o filho, além de inferior como escritor, desandou por um discurso torto defendendo o socialismo petista. Peguei bronca dele.
Anônimo disse…
Diante de suas colocações, devo dizer que, como vc, em meados de 1975, nem eu sabia o que seria nem faria... Porém, diante de tantos livros maçantes que éramos obrigados a ler na escola, um livro que me chamou à leitura como prazer foi "Olhai os lírios do campo"... que eu simplesmente resolví ler sem que nenhum professor "obrigasse"..rs
Foi o que me fez tomar gosto pela leitura.. modestamente, não como vc e seu vasto conhecimento... Mas, estou adorando suas dicas.
bjo
Anônimo disse…
Erico Veríssimo é uma de minhas grandes paixões desde os 12, 13 anos... Comecei pelo Ciclo Clarissa... depois O tempo e o Vento... Depois os livros de sua estadia fora do país... Para por fim chegar em Solo de Clarineta I e II...
Todo mundo hoje dia gosta de Luis Fernando... Acho que as pessoas se sentem mais "cults" gostando unanimemente dele... E não sabem nada de quem foi Erico Veríssimo...
Tive a sorte - e recomendo - de fazer o caminho inverso... E gosto dos dois... Mas paixão, paixão mesmo, eu sinto por Erico... Pelo Capitão Rodrigo, por Vasco Bruno, por Fernanda, por Olívia... :)
Em Solo de Clarineta tem uma passagem em que Erico relata que Luis Fernando hesitava sempre em contar aos outros que era filho dele... E que ele imaginava que talvez fosse difícil ser filho dele... Que bom que Luis Fernando, no fundo, acha maravilhoso.
Obrigada pelo texto, por dividir esse momento. :) Seu blog é ótimo, fora que é ton sur ton com o Cintaliga! ;)

Postagens mais visitadas