BERLIM FOREVER


                Em julho de 1989 eu tinha acabado de fazer 30 anos e cheguei em Berlim vindo de Paris em longa e fascinante viagem de carro acompanhado de minha ex-mulher , um amigo e sua companheira e mais uma amiga alemã. O amigo em questão é o Tadeu Nogueira, então residente em Paris - que hoje trabalha no departamento de arte de VEJA- com quem recordei a viagem há duas semanas num almoço aqui em casa. Chegamos em Berlim nos estertores do muro que dividia a cidade. Estávamos tão próximos de uma página da história que seria virada- a queda do Muro- mas não nos demos conta disso. Nem eu, nem ele, nem a Dinah, nem a Vera, minha ex-mulher, nem Suzane, nossa amiga alemã, residente em Hannover, que nos acompanhava e nos servia de intérprete durante a viagem.          
    Lembramos nesse almoço aqui em casa do tempo , quase um dia inteiro, que levamos para atravessar a fronteira entre as duas Alemanhas imersos na burocracia e nas inúmeras revistas que nós e o carro tomamos para entrar na parte oriental. Mesmo há quatro meses da queda do muro todo o aparato repressivo/burocrático estava intacto e lembro-me nitidamente de ter perguntado pra Suzane se um dia ela acreditava que o muro pudesse cair visto que ainda em fevereiro de 1989 um jovem tinha sido morto ao tentar passar para o lado ocidental. Suzane, cética, não arriscava previsões do fim daquela muralha que ainda dividia o mundo em duas bandas aparentemente inconciliáveis.
    Passamos quase um dia todo em Berlim oriental chocados com a diferença que havia entre os dois lados. Dos carros aos edificios, das ruas às roupas,um contraste entre o soturno e o exuberante. Me recordo que passear pelo lado oriental era como voltar aos anos 50 . Terminamos a tarde nos empanturrando de comida e bebida num restaurante tcheco pois tínhamos que gastar todo o dinheiro oriental antes de voltar a Berlim ocidental . Mas , por que , me recordo de tudo isso ? Porque ontem em Berlim foi inaugurada uma belíssima obra da artista coreana Eun Sook ( foto acima) que recria parte do muro com luzes e tecidos. Uma intervenção poética e ludica que pode até simbolizar com certa eficiência o que foi aquele muro. Mas jamais vai conseguir reproduzir a dureza, o impacto que era ter encravado em uma cidade um gigantesco muro que mais do que dividir homens e idéias dividia a humanidade. Eu estava dando com a cara na história . Só não sabia que ela ia mudar tão rápido... para pior ???

Comentários

Anônimo disse…
seu post me trouxe imediatamente à lembrança, o filme 'adeus lênin'. não tive a oportunidade de conhecer berlim antes da queda do muro, mas estive lá duas vezes depois disso e adorei a cidade; agora, fiquei super afim de conhecer a obra da coreana.
Muito legal teu post e teu blog! Vim retribuir a visita que fizeste ao meu! Não conheço Berlim nem antes e nem depois...fiquei com vontade de conhecer!!
beijos:)
Alex Senna disse…
aê mano, no lance da copa, ganhamos por W.O!
SM disse…
Curioso que dia desses assisti a um documentário mostrando os bunkers que ainda existem no subsolo de Berlim... Passado triste aquele... Se mudou para melhor? Só um berlinense que sobreviveu àquilo tudo pode responder, né?

Abraços e bom feriado!
Ricardo, uma viagem no tempo na companhia de amigos queridos é boa! Merci por colocar a gente nesse post!Pois é, estávamos tão perto de uma virada na página da história das duas 'Berlins'!
E me lembro sempre daquele mercado em que entramos e comprei um tubo de pasta Colgate e um pacote de absorvente que parecia feito com papel de embrulhar pão, daqueles que ainda existem nas Minas Gerais (sim, tudo tinha cara de anos 50) e fiquei impressionada ao ver aquele mundo sem propaganda e exageros de consumo. Como não lembrar do filme 'Adeus Lênin"? (seu amigo MGaspar também pensou nisso). E da Suzanne e de nós. E de nós...que éramos felizes e sabíamos! beijo, Dinah

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