Celebrização da babaquice- Wagner Moura

O bom ator Wagner Moura escreveu hoje um bom texto na página dois do "Segundo Caderno" do Globo sobre a celebrização da babaquice que vem tomando conta de nossa mídia. Wagner narra um lamentável episódio do qual foi vítima recentemente. Um "repórter" de um desses programas que sacaneiam as pessoas passou gel-meleca no seu cabelo e ainda tentou invadir o táxi no qual Wagner entrava na tentativa ( vã) de que o ator se irritasse e isso rendesse um "barraco" legal para o programa. No texto de hoje no Globo intitulado "Meleca no ator" Wagner pergunta qual será o próximo passo nessa busca desenfreada em devassar a intimidade alheia : " tacar cocô nas pessoas ? atingir os incautos com pedaços de pau para o deleite do sorridente telespectador ?". Wagner vai adiante e diz que seus colegas atores Lázaro Ramos e Du Moscovis também já escreveram sobre o tema e que tem que haver, sim, alguma reação "dos que não estão a fim de alimentar essa palhaçada". Acrescenta : "Há , sim , gente que pensa diferente. E exigimos, no mínimo, não sermos melecados". O sincero protesto de Wagner Moura vem a calhar. Mas, por outro lado, é preciso refletir que essa indústria da celebridade é um tácito conluio entre jornalistas do baixo clero com atores medíocres e celebridades instantâneas. Todos lucrando fácil com a palhaçada em prejuízo aos atores e jornalistas de boa vontade que não compactuam com esse lixo todo. Nenhum profissional decente de jornalismo também se vê a vontade ao ser retratado como idiota na tv correndo atrás de big brothers ou caçando autográfos das celebridades baratas que entrevista. Tá faltando é muita gente se dar ao respeito.

Comentários

leve solto disse…
Sei que a grande maioria adora tais programas.. Eu fico irritada com a forma que os "entrevistadores metidos a engraçados" abordam as pessoas (sejam celebridades ou não).
Pior quando ainda pegam algum desavisado que está passando e humilham a pessoa.
Invasão de privacidade é o fim, sejam as pessoas envolvidas públicas ou não.
Anônimo disse…
eu acho isso a degradação da profissão de jornalista. é o fim.
Este comentário foi removido pelo autor.
Uma vez ouvi no rádio uma coisa triste e deprimente: um certo programa de "humor" colocava a faxineira e o motorista (semi-analfabetos) para lerem manchetes de jornais, no início do programa.Como eles não dominavam a leitura, obviamente liam tudo errado.E eles então caíam naa gargalhada. Fiquei "injuriada" com tanta humilhação! Minha filha, ainda pequena, me disse:
- Tadinha da moça, mãe! Estão rindo dela porque ela não sabe ler direito.

Então, mandei um e-mail para a diretoria da rádio expondo minha indignação com a abordagem utilizada por eles. Disse que o fato de existirem pessoas anafalbetas (ou "semi") não é nada engraçado, e sim muito triste. É o retrato da desigualdade que impera neste país.
Alguém te respondeu?? Porque a mim não responderam até hoje! E isso deve ter sido há uns 8 anos atrás.

Também não entendo como tais "profissionais" se prestam a esse papel deprimente! Muito me entristece quando penso que uma pessoa passou, no mínimo, 4 anos em uma universidade, gastou dinheiro(muitas vezes dos pais) para depois se sujeitarem a fazer tais "matérias". Será mesmo que vale a pena jogar no lixo a chance de ser um formador de opinião que poderia contribuir para um país mais decente?
Por isso fico cada vez mais frustrada!! Quanto pior, melhor colocado no mercado de trabalho!!!
abraços
Ricardo Soares disse…
é gente !! é mesmo a triste época do arrivismo, do alpinismo social, do quanto pior melhor. o triunfo da boçalidade onde qualquer ignorante pode ter um programa de televisão para divulgar suas visões atrofiadas e simplistas de realidade. O triste país onde as nulidades triunfam e onde o jornalismo e o entretenimento está a serviço do mercado, do lucro, do Ibope. Tenho vergonha da minha profissão todos os dias...
Anônimo disse…
Esse tipo de programa deve ser apreciado pelos que defendem o Deus-mercado como dono e senhor da razão e da sensibilidade humana.
Esses programas criam preconceitos de classe e aviltam a dignidade humana, inclusive à formação física do indivíduo.
Há quem goste e mereça.
Concordo, Ricardo.
Agora, o próprio fato de a novela ter a importância que tem no Brasil abre precedentes inevitáveis desse contexto.
O fato é que a mídia brasileira no geral tem assumido uma postura bem americanóide, que lhe rende exatamente esses exageros. Parte do dinheiro e da notoriedade que o Wagner Moura ganha é em função desses exageros. Então, eu diria, ele tá num mato sem cachorro. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Em outras palavras: ou a lógica muda em peso, ou não vai adiantar nada reclamar.. Se a mesma TV que sustenta uma comunicação voltada a criar massas acéfalas cria um ou outro programa de qualidade, não dá pra exigir que essas mesmas massas pensem e revejam sua tietagem escrota.
É complicado...
Abraço
Anônimo disse…
Ricardo
O problema não é da midia ou, sei lá qualquer outra desculpa.È a tal natureza humana.( Me aposentei com tempo de serviço e idade mínima, com vencimentos insuficientes,porque a vergonha de minha profissão é tal que me impede exercê-la-medicina,rede publica pub).A questão é ética, humana, ou, desumana.

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