o índio munduruku e a má educação branca

O Salão de Idéias da Bienal do Livro de Rio Preto recebeu a visita ontem às 15 hs de Daniel Munduruku, escritor de origem indigena, autor de mais de 30 livros dedicados às crianças e um romance para adultos. O que era para ser uma celebração virou uma confusão no espaço grande do Salão de Idéias. Munduruku , sempre educado, fala mansa e baixa, tentou inúmeras vezes conseguir o silêncio da platéia que o ouvia evocando inclusive fábulas indígenas que falavam do silêncio. Eu , como mediador, pedi também inúmeras vezes que a platéia se comportasse em respeito ao visitante/palestrante. Como nem eu e nem Munduruku fomos ouvidos, uma hora após ele ter começado a falar e no meio ao caos onde ele tentava responder às perguntas, encerrei a sessão me desculpando pela falta de educação absoluta da maioria da platéia. Ranzinza eu ? pode ser ... até entendo que seja muito dificil manter a disciplina entre alunos na faixa etária dos 9 aos 14 anos . Mas que os educadores que deveriam zelar pela educação tambem sejam mal educados isso não posso entender. Professoras aos berros falavam nos celulares, riam da algazarra que seus alunos faziam e aos gritos chamavam os alunos para os ônibus de excursão que se aglomeravam do lado de fora. Um vexame completo protagonizado por alunos e educadores de uma escola particular de São José do Rio Preto . Os bagunceiros se postaram do lado esquerdo do palco e parte do lado direito, enquanto educados alunos de uma escola pública ficaram com a menor parte do lado direito do palco. Professores dessa escola pública protestaram (com razão) por eu ter encerrado a conversa antes da hora pois seus alunos que eram a minoria estavam interessados no que Munduruku dizia. Eu respondi aos professores que em nome da boa educação que ali não existia, em respeito ao convidado e até ao meu trabalho de mediador eu não via condições de continuar com a conversa. Fiquei chocado com até onde chega a falta de limite dos filhos da classe média. Com a passividade e má educação de alguns educadores . Por sorte isso tudo foi uma exceção e todos os demais encontros seguem proveitosos e com a presença de gente muito bem educada e interessada nos assuntos ali levantados. Engraçado, irônico até, é que Daniel Munduruku dizia em sua fala e numa entrevista que me concedeu depois que "as cidades cultivam os barulhos, os ruídos, enquanto a leitura nos devolve ao silêncio", essa dádiva que os povos da floresta sabem apreciar tão bem. Perdoe Munduruku pela péssima educação de alguns brasileiros e brasileiras que por sorte ainda parecem não ser a maioria...

Comentários

Sig Mundi disse…
A péssima educação começa dentro de casa. Quando somos menores seguimos os exemplos de nossos pais. Isso me faz pensar naquela frase: "uma maçã podre dentro de uma caixa afeta todas as outras". Deveria ser ao contrário! E o pior de tudo é que quem não tem educação não está nem aí, o outro que se dane. Se com isso aprendessem uma lição!
É, esse mundo tá difícil!!! Será que ainda tem jeito?
bjs, andrea
Artsy-Fartsy disse…
Parece-me que vivemos numa sociedade ego-excêntrica em que a faculdade de ouvir foi tolhida pelo desejo de falar. Como todos falam, é necessário, em meio à algaravia, berrar. Quem berra, normalmente, não é quem deva ser ouvido; e quem realmente deve ser ouvido fala baixo. Ouvidos não disacúsicos, mas perturbados pela azáfama ambiente, acabam não podendo escutar o que poderiam e quereriam. Alguém já perguntou: que país é este?
Eu também teria encerrado a palestra bem antes da hora. Ou talvez nem a houvesse começado.
Ricardo, imagino o tamanho de sua decepção e irritação. Não há nada mais irritante do que a falta de educação e o desrespeito!
O que me preocupa e chateia é que geralmente são esses idiotas filhos de classe média (salvo exceções) que têm as melhores oportunidades no mercado de trabalho e muitas vezes conseguem ocupar cargos importantes em vários setores do governo, inclusive na pasta da EDUCAÇÃO!
Não há desculpa para desrespeito!!!
Sinto pelos interessados (escola pública, de classes menos privilegiada e geralmente taxados como FAVELADOS, adjetivo comumente usado para definir gente mal educada)!
Apoio sua atitude!!
beijos
Anônimo disse…
Será que esses pequeninos imbecis e seus maus educadores assim se portariam se fosse um branco, e não um índio, ali na frente?
Até que ponto a falta de educação não estaria, também, ligada ao preconceito?
Lamentável, lamentável.
Imaginem essas criaturinhas no poder daqui a 20 anos...
É como eu sempre digo: tamu fudido...
leve solto disse…
Toda Pura, não acredito que a falta de educação se deva ao preconceito...

Exemplo é tudo, como disse Andréa.
Imagine, se os educadores estavam também rindo e comportando-se de forma inadequada, os alunos (ou seriam vândalos desvairados?) só poderiam se comportar da mesma forma ou pior!

Concordo mais uma vez com a Andréa, só que ao invés de maçãs, coloco batatas... que quando uma está podre as outras apodrecem muito mais rápido do que as maçãs!

Toda Pura,de qualquer forma, tenho lido os seus inteligentes comentários, e pela sua forma de falar, acredito que quase sei quem é....rsrrs
(O quase foi só pressão!!!! rs)

Ops, agora que lembrei do Ricardo..rs

Mesmo não gostando de shopping, vale a pena o tal restaurante pois é na entradinha do shopping, logo a direita...rsrs Sem stress... rsrs

bjs

Mara
leve solto disse…
Putz, voltei!!!

Hoje quando sai de casa vi um troller parecido com o seu, levei o maior susto... Mas chegando perto observei que era de um azul bem escuro. O seu é verde? É isso né?!
Imagine, numa rua sem saída, um troller (que não é comum) parado como quem não quer nada, até com gotículas de sereno (o que prova que dormiu ao relento)... Minha imaginação fértil já pensou ser um carro roubado...Infelizmente errei!! Mas continuo torcendo, afinal, como vc mesmo disse: a esperança é a última que morre.
Ricardo Soares disse…
andrea, filhota... por sorte vc recebeu boa educação dos seus pais o que a transformou numa pessoa meiga, simpática e compreensiva... bjs

mr. fart/ gostei do sociedade ego-excêntrica ! é isso mesmo... pequenos monstrinhos consumistas criados por papais consumistas crescem sem noção de limites... tamu fudido como diz a toda pura! abs

ana paula... posso te garantir que não foi satisfeito que tomei a tal atitude que inclusive me foi cobrada por professores que queriam continuar ouvindo o que o munduruku dizia...mas não me arrependo do que fiz!! obrigado pelo apoio...ahhhh o nome do colégio mal educado é SETA!!! guardem bem esse nome...

toda pura... os educadores e seus alunos eram tal mal educados que acredito que fariam balburdia com qualquer um que estivesse ali... jamais esquecerei a professora idiota que se levantou para abraçar o munduruku enquanto ele falava e posar sorrindo para uma fotografia de celular como se estivesse em um saguão de aeroporto e uma palestra não estivesse rolando...incrivel isso!
bjs

mara!!! vc sabe quem é a toda pura ??? então me diz quem é !!! não faço idéia de quem seja a criatura instigante...pelo sim , pelo não fico curioso em saber...quanto ao troller quiçá fosse o meu abandonado numa sossegada rua de são paulo!! acredito que ele já tenha virado farelo mas fico grato por sua torcida... se eu conseguir vencer minha resistência a shoppings vou conferir sua dica gastronomica em são josé...mas por enquanto o kiberama continua campeão !!! beijão
Anônimo disse…
Olha, mal consigo crer nisso que nosso todo prosa Ricardo nos conta...
Já estive em alguns salões de leitura, bienais e que tais, lidei com crianças e seus mestres e jamais vi algo semelhante. Ou melhor: já vi excitação, alguns gritinhos, conversas paralelas das crianças, normalidades infantis sempre que fora de seus habitats naturais (as jaulas....rsrs).
Estou abismada. Ficaria até triste, não fosse a minha já confessa descrença na raça humana.
Pobre Munduruku (Mundukuru? Nunca acerto esse nome!). Pobre Ricardo.
Qto à minha identidade...Não, Mara, não acredito que você me conheça. Infelizmente, pois já simpatizei com você.
O único que me conhece pessoalmente, mas nem desconfia, é o Ricardo.
A qualquer hora dessas eu me identifico pra ele.
E Mr. Fart já me "conhece" até mais que o Ricardo, faz parte do meu hall de queridos, mesmo que apenas virtualmente.
De qualquer forma, sinto-me honrada e agraciada com sua atenção.
bjs
Oi Ricardo, tudo bem???
As pessoas não tem educação mesmo... Se queriam ficar conversando e gritando porque foram assistir ao que Munduruku??? Eu teria feito todos sairem, com certeza...
Aliás, posso colocar a frase que o Munduruku disse a você na entrevista no meu blog de livros???
Bjos...
Dou aula para adolescentes de uma escola particular, aqui no Rio de Janeiro. A situação é assim mesmo, como o Ricardo coloca. Isso faz parte, justamente, dessa época paradoxal na qual vivemos. Sempre bato na tecla de que "liberdade" é um mito, porque existem momentos em que um tem que prevalecer. E não são poucos esses momentos...
O lance é que a tal da liberdade é cultuada como um Deus, hoje em dia, quando na verdade criança tem que aprender é limite. Ela vem ao mundo sem ele, e são os adultos (pais e professores) que têm que transmitir esses parâmetros. Quando se fala isso, neguinho vem logo dizer que tu é ditador..
Sinceramente, vamos lá. Sem papas na língua: as feiras de livro, na ótica dessa gente (que, ao contrário do Ricardo, acho ser a maioria), é lugar pra comprar livro, numa de entretenimento. Os eventos, nessa perspectiva, ganham significado de entretenimento e de palhaçada. Se a conversa começa a ganhar uma conotação reflexiva, se não surge nenhuma piada, as crianças perdem a já irrisória paciência, e começam a enxer o saco com suas risadas muitas vezes cínicas e preconceituosas..
Mas o que fazer, então, se não dá pra voltar ao tempo da palmatória (claro)? A coisa teria que passar por um movimento amplo de posicionamento dos agentes da educação, no intuito de equilibrar esse processo de degradação do respeito. Posições como a que o Ricardo tomou. E é exatamente isso que eu cobro, em algumas discussões, dos políticos do Brasil.
Agora, o índio tomar uma posição mais madura que a do homem branco não me causa espanto... Basta ler o Darcy Ribeiro, o Orlando Villas- Bôas e o próprio Levi-Strauss, pra perceber que a cultura urbana tipo Europa passa longe da ética indígena. É uma cultura do narcisismo e do egoísmo. E assim não se constrói sociedade. Sociedade se constrói com educação, saúde, limite e, depois disso tudo, arte. O resto tá fadao ao fracasso...
Então, pra terminar na rima, Abraço.
Anônimo disse…
infelismente a sociedade caminha para o abismmo !!!!

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