BIRTHDAY PAULO COELHO

Ontem acabou a 20º Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Entre os debates que mediei nesse domingo um deles foi com o escritor e jornalista Fernando Morais que tem viajado pra cima e pra baixo pra divulgar " O Mago", a biografia de Paulo Coelho. Aliás ontem foi aniversário de Paulo Coelho segundo nos revelou o Fernando que tem uma opinião peculiar sobre o sucesso planetário dos livros do autor de "Brida" entre outros tantos sucessos : "O Paulo escreve pra quem tem fé". Essa opinião seria a mesma de Umberto Eco que gosta de alguns livros de Paulo Coelho e desgosta de outros. Esse mês a revista "Rolling Stone" brasileira tem na capa uma longa reportagem com nosso mago. Isso me remonta há muitos anos quando eu teria sido um dos primeiros ( senão o primeiro) a fazer uma grande reportagem com Paulo Coelho quando ele lançava "Diario de um Mago" por uma pequena editora esotérica do Rio de Janeiro. Conversamos uma tarde inteira no bar Ritz em São Paulo e dia seguinte lá estava Paulo na capa do caderno 2 , um das muitas dezenas de capas de cadernos culturais que ele ilustrou esses anos todos pelo mundo.Na mesma semana eu o levava ao Metropolis da Tv Cultura ( então um programa que estava nascendo) onde ele concedeu uma peculiar entrevista que não deve constar nos arquivos da emissora, só na minha cabeça. Esses encontros foram muito no início de toda a saga do Paulo que ainda morava num charmoso e modesto apartamento no andar térreo de um prédio em Copacabana. Tempos depois fiz com ele uma capa de revista TRIP ( onde sua mão aparecia segurando uma espada)e se não nos tornamos amigos ficamos muito próximos a ponto de no começo dos anos 90 eu ter sido o adaptador ( junto com Dagomir Marquezi)do livro "Diario de um Mago" para uma minissérie da Tv Manchete que jamais foi produzida por motivos que nem mais cabem aqui ser relatados. O mundo e as circunstâncias me afastaram de Paulo Coelho que se tornou uma celebridade mundial. Encontrei-o outras vezes em circunstâncias profissionais e sempre achei muito esquisito que a deferência de outrora tenha se transformado em indiferença. Não o tinha como amigo mas podem acreditar que dividimos muitas e muitas conversas e inúmeras afinidades . Ele esteve muito próximo a nós durante o período que escrevíamos a minissérie que nunca foi produzida e nos apresentou ( e entrevistamos) vários de seus discipulos. Por que conto tudo isso agora ? por que toco num assunto que nunca toquei ? simples... é que fiquei sabendo que meu amigo Ricardinho Franca Cruz ( que esteve com o Paulo em Paris para fazer a capa da Rolling Stone desse mês) me contou que o Paulo fez uma menção elogiosa a meu respeito mas disse que eu teria ficado chateado com ele por conta de uma malograda adaptação de histórias em quadrinhos dos seus livros. Fiquei estupefato pois eu jamais tive nada a ver com adaptações pra história em quadrinhos dos livros do Paulo. Não sei de onde ele tirou essa informação. Fato é que me lembrei do assunto pois ontem citei um trecho da entrevista do Paulo para a Rolling Stone para fazer uma pequena provocação ao Fernando Morais. Aproveito o ensejo pra dizer ao Paulo Coelho, onde quer que ele esteja, que nunca fiquei magoado com coisa alguma a respeito dele . Ele não me deve nada . Nem a omissão do Fernando no livro a respeito de que teria sido eu o primeiro a fazer uma primeira grande reportagem de capa com o Paulo. Isso não tem a menor importância visto que com ou sem minha reportagem Paulo teria sido o sucesso que é pois deve falar com o inconsciente coletivo. Fernando quando concebia a biografia chegou a me mandar uns e-mails sobre o assunto mas nunca mais falou nada nem escreveu nada a respeito nem dessa reportagem nem da minissérie que nunca foi produzida . Eu não estava esperado essa menção do escritor/biografo talentoso repleto de amigos importantes visto que não tenho importância alguma a ponto de durante muitos anos Fernando me chamar ora de Ricardo Soares ora de Cadão Volpato fundindo em um só dois dos jurassicos apresentadores do programa Metrópolis.

Se nada esperava do Fernando por que esperaria do Paulo Coelho ? juro que digo isso sem mágoas mas quando vejo a trajetória de ambos, biografo e biografado , penso numa frase : "Muitas pessoas não tem amigos , tem interesses". Por isso se do alto dos meus 30 anos de janela profissional eu tiver que dar conselho pra os profissionais mais jovens eu só digo uma coisa : não se iludam por estarem próximos à fama. Muitos personagens famosos nos cortejam por conveniência. Porque podemos amplificar a fama que já tem ou ajuda-los a fazer a fama com que almejam. Muitos desses personagens lhe tratarão muito bem conforme o cargo que vocês ocupam em determinado veículo e em determinada época. Mas vocês só conhecerão de fato os que estão livres de interesse a seu respeito quando alguns desses personagens lhe tratarem do mesmo jeito quando você estiver no Estadão , Globo , Abril ou na Gazeta de Pirituba. Assim é a vida, assim é a mídia. Assim é o show bizz. Isso eu já sabia muitos anos antes de ter cabelos brancos. Por isso contemplar a imagem do deserto lá de cima ( que tanto evoca o Paulo Coelho) é muito mais salutar do que pensar na selva midiatica repleta de marketing pessoal, releases ocos e interesses/mimos medidos em espaço nos jornais. Os que querem ser célebres estão no papel deles. Resta a nós conhecer o nosso papel e não nos atribuirmos uma importância que não temos visto que eles próprios não são tão importantes quanto parecem.

Comentários

Carol Rocha disse…
Eu tomei gosto pela leitura com os livros do Paulo Coelho. Mas depois de algum tempo, você se torna mais exigente. rs

E isso me fez lembrar de outra escritora que, pelo menos no Brasil, está sempre na lista dos mais vendidos: Zibia Gasparetto.

Tenho uma amiga que trabalhou com ela e família e que comprovou o que eu já suspeitava: sabe aquela coisa do 'faça o que eu falo mas não faça o que eu faço'? É bem por aí. Farsa total. Para vender bem, basta escrever o que o povo gosta de ler. Independentemente de ser bom, verdadeiro ou útil.

beijo!
ARMANDO MAYNARD disse…
O que se pode esperar do homem que faz chover...Um abraço,Armando (lygiaprudente.blogspot.com)armavi
Anônimo disse…
Ricardo
Não cheguei a ser muito íntimo, mas tive também um certo grau de relacionamento com o P. Coelho. Inúmeras vezes estive no apartamento térreo de Copacana por motivos vários bem como nas festas de São José que ele (promovia?) anualmente. Na última festa ele se entusiasmou e brincou com minha mulher à época porque ela estava grávida e "em todas as festas que ele promovia, aparecia sempre uma mulher grávida".
Depois..... bom, depois não interessa, né?
Situação completamente diferente da sua. É só um registro.
Anônimo disse…
sempre me intrigou o incrível sucesso internacional do paulo coelho... até que, outro dia, 'fonte fidedigna' me deu a pista: pc possui um excepcional tradutor francês, que teria praticamente re-escrito seus livros, transformando aquela baboseira em algo interessante; e a partir da tradução francesa, foram feitas todas as versões para as outras línguas. alguma informação a respeito, ricardo?
leve solto disse…
Ric, não vou falar do Paulo Coelho, porém a "biografia" O Mago eu até pensei em ler... não sei, ainda estou em dúvida...

Tô passando por aqui para dizer que gostei muito do programa de ontem na TV Brasil (17 horas) sobre a Bienal. Créditos a quem? Ricardo Soares ou Geraldo Iglesias? rs
Não importa!! bjs pros dois

Mara
Aline T.H. disse…
Eu tenho de idade o que você tem de carreira, Ricardo - e não digo isso a fim de chacota ou nada, só para mostrar o quanto ainda tenho a aprender - mas concordo com você em tudo, quanto à parte profissional. Não lido com uma esfera tão glamourizada quando a que você lida, mas já vivi na pele essa coisa da fama instantânea dentro do meio de trabalho, e é mesmo assim: você vira confidente e bom papo quanto é interessante aos olhos de quem quer 'chegar lá'.

Quanto ao Paulo Coelho... Bem, se ele escreve pra quem tem fé, eu não sei. Tenho uma fé inabalável e só minha, tentei ler Brida e parei antes da vigésima página. Não me agrada. Nem a Zíbia, que foi ciatada pela Carol... Posso ser exceção, sim. Mas acho muito barulho por nada em cima da 'magia' do cara. Quanto ao sucesso, é evidente, ele o tem, ninguém pode negar. Mas que seja só esse o analizado, ao meu ver.

Beijos!
Anônimo disse…
Meu caro,
agradeço o comentário simpático no blog da Maroca.

Nunca li nada desse cara, mas até que gostava das letras que ele fazia para Raul Seixas. Deve ser ignorância mesmo, já que também não reconheci nenhum dos ilustres nomes citados no post sobre literatura feminina atual, no Brasil. Mas esse último assunto passou a me interessar, recentemente. O que você recomendaria como leitura obrigatória?

Ah, belo texto sobre o riacho-esgoto em Sampa, realidade tão comum na maioria das cidades brasileiras...
Anônimo disse…
Interessante esse aspecto que o Marcio levantou, seria isso?

Provavelmente antes dessa tua matéria do Caderno 2,vi uma entrevista dele num programa que passava de madrugada na Band, com aquela jornalista ( esqueci o nome, hoje apenas mãe do Gabriel , o pensador (?)).
Ele apareceu de capa preta, olhar místico e espada na mão e dizendo que fazia ventar. Pensei "enlouqueceu de vez" e corri atrás do livro, que ainda não havia chegado às livrarias. Divertido, no mínimo lançou a moda do caminho de São Thiago em determinados círculos. O Fernando Morais aprofundou pouco essa parte mística do PC na biografia, numa contradição com o título do livro.
Emy Neto disse…
Quer dizer então que você gosta de Albert Camus??????
Anônimo disse…
Paulo Coelho, traduzido em javanês, é o maior gênio da literatura universal!!!!
Anônimo disse…
Ah, Ricardo, você fez e faz um trabalho de tanta qualidade, reconhecido por tanta gente boa e séria, pra que confessar sua participação, mesmo que pequena,na construção do sucesso desse picareta?E,só pra saber:você esperava mesmo honestidade do piolho de cobra Moraes?
abraço
olivia
Maira Parula disse…
ricardo, permita-me responder ao marcio gaspar: sim, a informação procede. eu também soube o mesmo de fonte confiável, intra muros.
mas penso que nem isso explica o sucesso internacional. afinal até livros bem escritos caem no ostracismo. tenho uma amiga que diz que ele deve ter feito algum pacto faustiano. que seja feliz, longe de mim.

abração, ricardo

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