CLASSE MÉDIA E SEUS HORRORES

Definitivamente ter blog é bom por causa disso : dizer, escrever o que se pensa embora muitos na blogosfera não o façam. Só aqui poderia dizer o que vou escrever abaixo pois não seria conveniente - e nem me seria permitido- desenvolver o raciocínio a seguir em outra mídia.Corro o risco de vocês me chamarem de chato visceral, enfezado , sincero absoluto ou mesmo politicamente incorreto. Mas há dias - como hoje- que sinto um imenso, galático e incontrolável desprezo pela classe média ( mérdia?) a qual , infelizmente, eu pertenço . Motivos para isso não me faltam desde o momento em que você põe os pés pra fora da cama e percebe que a classe média contribui para destruir os poucos paraísos possíveis numa cidade como São Paulo . A saber ? a região da Cantareira e a região da Granja Viana que sequer pertence ao município de São Paulo mas está entre Cotia, Carapicuíba e Jandira, todas prefeituras ineptas e muitas vezes corruptas que mudam as suas leis de zoneamento e ocupação de acordo com as conveniências . Exemplo é que dentro do condomínio Fazendinha ( onde moro) até pouco tempo atrás não se podiam desdobrar lotes e hoje qualquer um deles é desdobrado . Ou seja,onde antes cabia uma boa e confortável residência com árvores e bichos agora cabem dezenas de conjuntos de sobrados que privilegiam tudo , menos a preservação da natureza. Vendem o sonho de vida verde e saudável na Granja e na Cantareira mas todos os dias vão destruindo o pouco que resta. Especulação imobiliária que vive às custas dos sonhos da classe média que acha chiquérrimo dizer que mora na Granja ou na Cantareira.Mas nesse desabafo não vou me ater apenas às questões que afligem a minha vizinhança como a construção de um shopping , os idiotas que correm dentro dos condomínios ou os sonhos de consumo dos pebas que aqui habitam. Meu desabafo vai além pois cada vez mais creio que todos os retrocessos vividos no Brasil e até no mundo ocidental capitalista devem-se à obtusa classe média. Sim, pois pobre está sempre fodido, nem conta, e os ricos andam de jatos particulares e de helicópteros . Sequer se preocupam com o que está ao rés do chão. Mas a cadeia apavorante da pirâmide social é que os ricos querem ser mais ricos, a classe média quer ser rica e os pobres querem tudo o que a classe média e os ricos tem. Ou seja, todos consumindo pois a lógica mundial triunfante é o "consumo logo existo".
A classe média paulista e paulistana foi por exemplo uma das desencadeadoras principais do golpe de 64 no Brasil , apoiou em sua grande maioria a ditadura militar, colocou Collor no Planalto, chama todo mundo que more do Rio de Janeiro pra cima de "nortista", advoga a tese de que não é racista mas ainda pronuncia barbaridades como "fulano é preto de alma branca" ou "é preto mas é limpinho". A classe média que passa a semana andando de carro com os vidros fechados e ar ligado, se estressa e se enfarta no trânsito, se devora e se odeia nos ambientes de trabalho e nos fins de semana desfilam suas obesidades e adiposidades cerebrais nos milhares de shoppings que pululam na cidade. A classe média que não pára em farol vermelho, que pára em fila dupla na frente das escolas dos filhos, que fura a fila com a maior cara de pau, que joga lixo pelas janelas dos seus carrões. A classe média que lota os pátios das concessionárias de automóveis nos fins de semana em patéticos passeios de domingo pela cidade devastada, a classe média que lê pouco e mal dando dinheiro para os picaretas da auto- ajuda e aos manipuladores das emoções baratas, a classe média que se fantasia de roupinha de domingo (camisa polo pra dentro da bermuda dos bundões) e vai tomar sorvete da Parmalat nas praças de alimentação, a patética classe média que não educa seus rebentos barulhentos e não lhes dá noção de limite, a classe média que deseduca ao dizer aos herdeiros de suas misérias que a gente tem que sempre levar vantagem em tudo, certo? Nesse contexto dos passeios mais deprimentes que você pode fazer em São Paulo está percorrer as calçadas da avenida Luis Carlos Berrini , avenida Paulista ou mesmo ali na avenida Francisco Matarazzo na hora do almoço. Você verá multidões de servos da estultice (que,quando lêem, acreditam piamente na revista Veja ou nos jornalões) indo ou vindo do pit - stop do meio dia às 14 hs conversando sobre aquilo que mais desejam, almejam, sonham. Na maioria dos casos bens de consumo, conquistas imobiliárias ou financeiras. Acham que eu exagero ? prescrutem umas conversas dessas e me darão razão. Não existe vida inteligente (salvo raríssimas exceções) naqueles corpos vestidos em terninhos ridículos e tailleurs risíveis , roupinhas sociais pra agradar o establishment. E são preconceituosos hein ? vá você colocar uma saia mais ousada ou uma camisa menos careta e será taxado de "muito louco meu ! ".
O festival de panzilões e panzilonas desfila pelas avenidas (camisa pra dentro da calça, panção indecente empinado!) e são tão feios quanto aquilo que almejam. A classe média brasileira é muito feia por dentro minha gente ! Eu sou feio, você que me lê é feio , tudo o que andamos fazendo é muito feio. Não é que ainda tenhamos conserto. Não temos não ! agora é tarde demais. Enquanto destroem a Granja Viana, a Cantareira ou qualquer traço de bucolismo e serenidade, a classe média amplia seus barulhos pois não consegue viver com seu próprio vazio interior. É uma classe insípida e inodora. Como tantas classes -médias do mundo . Tão vazia que não pára em pé mas paradoxalmente sustenta todo esse horror mundial. É só lembrar que o deplorável George W. Bush foi eleito também pela classe média americana e que no Brasil a nossa classe média torce o nariz para o Lula não pelas besteiras que ele fez e sim pelo dedo que não tem , pelo português mal colocado ou porque , mesmo maquiado, ele continua sendo um peão de fábrica que chegou de pau de arara em São Paulo. O poder pra essa gente é para os bundões que colocam a camisa pra dentro da calça nas calçadas que levam às bolsas de falsos valores que vivemos cultivando. Que horror a classe média !

Comentários

Anônimo disse…
Riquíssimo,
Para mim você é milionário, mesmo descontando aqueles 50 paus.
Um beijo do seu Pinto preferido.
leve solto disse…
"sou muito louca meu" !!!

Não conheço a granja, nem mesmo o que a classe média tem feito com ela... Tenho algum conhecimento sobre a serra e as atitudes que seus moradores têm tomado para preservá-la, visto que hoje o número de buffets lá estabelecidos é absurdo (sem registro)aumentando o movimento e literalmente estressando os animais que passeiam e nos encantam por lá; a tentativa de instalarem uma praça de pedágio na Fernão Dias próximo a cidade de Mairiporã (o que acarretaria um tráfego monstro por dentro da serra e assim afetando fauna e flora...); entre outros graves problemas... Enfim, existe uma frente em defesa da serra que está ativa e lutando (inclusive alguns encontros aconteceram condomínio da foto)...
Não moro lá, mas faço parte do grupo que quer proteger a Serra da Cantareira!
O número de pessoas que se preocupa é pequeno mas ainda acredito que a união faz a força!
Posso sonhar?

bjs

Mara
Anônimo disse…
perfeito, ricardo! assino embaixo! só faltou falar do ´bom gosto musical´ da classe mérdia, né? e da maneira como tratam mal as pessoas com ocupações supostamente ´menores'... é revoltante! tem um paredão disponível aí???
Anônimo disse…
Os ricos são tão pobres, mas tão pobres, que só tem dinheiro.
A classe média é medíocre de nascença, pequena em seu caráter e miserável em suas posições.
O teu texto reflete o meu pensamento.
Um texto que só você tem capacidade de escrever.
abraço
Anônimo disse…
Será que a obtusidade, a ignorância, a insensatez do consumo burro e desenfreado são características somente da classe média(que,aiás, tá precisando de muuuuita grana para se manter como tal),ou será que a classe média é a que mais "dá bandeira", a que se mais orgulha da própria miséria do senso e dos sentidos,desde que não a confundam com aquele pessoal "feio, sujo e malvado"? E que sonha,secretamente, em se livrar da própria casca, algum dia, para ressurgir resplandecente em pele nova, de seda boa, de griffe de luxo,mais idiota, burra e canalha do que nunca, e mais distante do pesadelo de descambar para a"classe D"(Deus me livre e guarde), que,por sua vez, sonha em trocar de pele e virar...
Este nosso mundo,ao se dividir em classes, é assim mesmo.Ou não? Acho que exagerei no vinho, desculpe.
abraço
Olivia
Aline T.H. disse…
Sem palavras, Ricardo. Acho que nunca li alguém descrever tão bem as mazelas com as quais convivemos diariamente e acabamos fazendo parte, cedo ou tarde. Não resumo à classe média, mas às famosas "capitais" do Brasil, seja em qualquer classe... Sei lá. Tem horas que penso em sair correndo mesmo daqui. Mas penso demais em quem vai ficar...

Beijos!
Edna Federico disse…
Não sei se é totalmente justo atribuir isso somente a classe média, Ricardo...conheço ricos, riquíssimo, tradicionais e que são tão ou mais medíocres do que a classe média.
Faço parte da classe média, mas não me reconheci em nenhum dos itens que você citou, ainda bem...e olha que sou bastante crítica, riso.
Como dizem por ai, não existe ninguém totalmente bom ou totalmente mau!
Beijo,

PS: sua filha não escreve mais?
Anônimo disse…
Ricardo

Salvador tornou-se um grande canteiro de obras.O momento é de retomada do ritmo de construções e vendas no setor imobiliário. Para se ter uma idéia, no ano passado, foram ofertadas 5.200 unidades habitacionais na Bahia e vendidas 4.850. Para este ano, a estimativa inicial era de 6 mil ofertas, mas as apostas já subiram para 7.500, um aumento de 44,2%.

Há quem diga que o setor experimenta um boom. O presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), Luiz Augusto Amoedo, prefere definir como uma nova fase do mercado imobiliário.

“O número é bastante expressivo quando comparado ao ano passado, mas o mercado imobiliário baiano, na década de 80, trabalhava com 10 mil unidades por ano. Ainda estamos longe de atingir o nível do passado”, compara Luiz Amoedo.

A distância fica ainda maior quando considerado o déficit imobiliário no Estado. Naquela época, a população era um pouco acima de 1,5 milhão de pessoas, metade da atual. E, hoje, o déficit habitacional na Bahia é calculado em 700 mil habitações.

Outro aspecto importante para entender o cenário é que o déficit está concentrado na oferta de imóveis para baixa renda, enquanto que o volume maior de construções é voltado para a população de classe média para cima.E haja destruição do resto de MATA ATLÂNTICA na Bahia. Não é mesmo Condomínio Alphavile???

Fontes da ADEMI.

ABRAÇO!
Ricardo Soares disse…
prezados comentadores classe média ... vamos por partes

1. pinto / seu beijo me comove ... ainda mais sabendo ser vc fãzoca do ciro- megalô... olha que eu revelo sua identidade secreta hein?

2. mara leve e solta...a união faz a força...sucede que às vezes a gente faz uma força danada pra não fazer nada né ??? beijos e proteja seu território !

3. bem lembrado marcinho... o gosto musical da classe mérdia é um post a parte...e o desprezo com que tratam os empregados idem... abs

4. angelo , adorei o que vc escreveu : "A classe média é medíocre de nascença, pequena em seu caráter e miserável em suas posições". é isso aí ... abs

5.olivia...adorei o seu exagero etílico ! mas é evidente que não é só a classe média que pisa no tomate... o post até frisa isso... mas que ela é de lascar isso é ! abs

6. Aline... também penso em fugir... mas quando penso que não tenho pra onde fugir me conformo em ficar! triste sina ??? kiss

7.Edna ...como eu disse pra olivia sei bem que não é só classe média que está entalada na boçalidade! mas ela se supera né não ? e ainda bem que vc não se enquadra em nenhum dos itens...bj
ps.a andréa anda com uma preguiça danada de escrever no blog dela e do arthur... acho que eles enjoaram do brinquedo... é preciso gostar de escrever todo dia como nós né não ?

8. elisabete ... adorei suas palavras !! mostra que tanto aí como no rio e em sp a esbornia é a mesma !!! o tal alphaville também estará aqui na granja viana devastando o pouco que ainda sobra de mata nativa aqui... verdadeira praga que vende o sonho de vida tranquila criando condominios que infernizam os vizinhos... é a classe mérdia alta bombando... bj
Tatiana disse…
Adorei o texto ele reflete bem a 'sociedade brasileira'.

Bjus

PS. estou te linkando lá no Baboseiras
Anônimo disse…
Ricardo
Desancar a classe média é uma postura algo parcial, porque o sonho dourado das classes "baixas" é virar classe média, oras. E aí irão se comportar exatamente igual. Ou será que a " sabedoria" popular e a " humirdade" vão direcionar para outros objetivos de vida, a grana que vai chegar?
E quanto às zé-lites, well, já foram classe média e carregaram prá cima toda escrotice, só que agora com muito mais bufunfa no bolso, o que provoca um crescimento exponencial da estupidez .
Ou seja, nós da classe média medianamente esclarecida e que deploramos o Sr. Presidente, não por suas origens, mas por ser o rei do 171, estamos fudidos. E muito mal pagos.
Ricardo, você detalhou a classe média com a paciência dos gigantes.. Achei ótimo quando escreveu sobre o barulho que produzem (produzimos) por não conseguir conviver com o silêncio..muito bom..
Acho que o capitalismo anda de mãos dadas com a existência da classe média. São os escravos que sustentam o senhor, como diria Hegel. Portanto, é fundamental que exista esse sem-número de sem-nada-na-cabeça, lutando pelas migalhas que caem dos queixos dos ricos, para que se sustente a riqueza dos mesmos. Não há muito o que fazer, há não ser a catarse diária de rir de tão patético quadro.. no qual estamos esquizofrenicamente aprisionados.

Grande abraço e parabéns pelo texto.
Carol Rocha disse…
O único problema é que a classe média é bem mal definida. Eu sou classe média porque tenho casa (com banheiro), carro e nível superior e minha renda familiar é maior que dois salários mínimos. Enquanto o cara que ganha R$ 15 mil/mês e mora num duplex em Moema, na teoria, é classe média também.
Não me identifiquei com o seu post. Eu acordo às 5h30 para trabalhar, paguei a faculdade com um puta esforço, gasto todo meu salário para bancar carro, educação e convênio médico (e tudo isso, hoje em dia, não é luxo).

Acho que atualmente, no Brasil, há classe média da teoria e a classe média da prática, entende? E uma é beeeem diferente da outra.

beijo!
Karina disse…
Concordo em parte com a Carol (porque não acho que seja o único problema). Não paguei faculdade porque por uma bênção dos deuses ingressei em uma pública, mesmo tendo estudado a vida inteira em escola municipal e estadual. Ingressei no Judiciário no menor cargo, nível fundamental, que incrivelmente paga mais do que se eu trabalhasse na área da minha formação. Não consigo fazer uma boa pós porque pública é de tarde, privada é cara demais pra mim. Pago contas suando, sustento um pai que nem conseguiu se aposentar, viajo uma vez por ano pra passar três dias acampando no litoral paulista, mal me sobra pro lazer e surpresa!!! Sou classe média!!! Eu sei que há muita gente em situação bem pior do que a minha, eu já vivi situação bem pior, mas é impossível me imaginar como alguém da classe média.

Isso que você escreveu é ao mesmo tempo tão horrível e tão real! No prédio onde trabalho, nós, a turma da ralé que trabalha no segundo andar, foi proibida por um desembargador de utilizar os elevadores. E vejo todo dia coisas que me enojam, que me levaram à terapia, e não adiantou, me levaram à acupuntura, e não resolveu, me levaram ao prozac e nada muda. Pergunto: o que podemos fazer pra mudar isso?

Um grande beijo e parabéns pelo blog!
P.S. desnecessário: parei aqui ao clicar em quem gostava de Dead Can Dance.

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