LOURENÇO DIAFÉRIA

O assunto escolhido para servir de post para o final de semana seria outro, mais ameno e salubre. Mas daí soube pelo blog do meu amigo Dagomir Marquezi ( aqui linkado)que morreu de enfarte nessa terça- feira o inesquecível cronista Lourenço Diaféria, um sinônimo de paulistanidade tal qual Adoniran Barbosa e Paulo Vanzolini. Como bem lembra o Dagô o Diaféria foi dos escritores mais dignos e honestos que conheci a ponto de conter os arroubos de vaidade que todo criador tem em nome de discussão séria por uma causa comum. Um espécime raro hoje em dia. De escrita simples e saborosa como uma pizza muzarella de padaria ou um pão na chapa de boteco Diaféria encantou multidões sobretudo em meados dos anos 70 quando assinava uma prestiagiada crônica no jornal Folha de S. Paulo. Uma delas serviu de motivo pra uma crise institucional e sua prisão quando para homenagear um sargento ( Hollembach , nunca esqueço ) que morreu para salvar crianças de um fosso de ariranhas no zoo de Brasília ele acabou criticando os heroís de pedestal do exército brasileiro. No caso ironizava uma estátua do Duque de Caxias que fica na praça Princesa Isabel , centro de São Paulo. Dizia que as pessoas urinam nos heroís de pedestal e que os verdadeiros heróis são tipos como Hollembach. Qual!!!! vocês não imaginam na época a balbúrdia que isso causou ! a Folha chegou a deixar em branco ( por imposição da censura) o espaço onde sairia a crônica do Diaféria.
Durante muito tempo ele foi festejado, homenageado, sempre lembrado como um grande cronista brasileiro e alinhavam o seu nome ao lado de gigantes do gênero como Rubem Braga e Paulo Mendes Campos. Com o tempo perdeu espaço e prestígio e passaram a tratá-lo como um cronista datado . Eu , evidentemente, não concordo e recomendo que quem não conheça seus escritos corra atrás urgentemente. Há páginas que escreveu que são exemplo de lirismo, humanismo e poesia . Diaféria foi um dos responsáveis pelo meu vivo interesse desde sempre pela crônica e quando eu as escrevia na Tv ou mesmo em jornais como " O Estado de S. Paulo" mais de uma vez eu o mencionei e lembrei. Estivemos muitas vezes juntos em entrevistas, encontros, conversas. A primeira quando eu tinha 17 anos e ele foi visitar a mim e outros jovens petizes metidos a escritores ali na biblioteca Monteiro Lobato na rua General Jardim onde funcionava uma Academia Juvenil de Letras. Nunca esqueci sua simplicidade , despojamento e generosidade ao conversar conosco. Meu último encontro ,creio, foi para gravar uma entrevista com ele pra o programa "Literatura". Continuava acreditando no poder da palavra. Espero que nesse país sem memória a boa palavra de Diaféria permaneça.

Comentários

Anônimo disse…
realmente grande, o diaféria... e me lembro que a folha, na época, posou de 'censurada' e de 'vítima', mas assim que o cronista saiu da prisão, sua primeira atitude foi demiti-lo. a folha, pra quem não sabe, foi aliada de 1a hora do golpe de 64; apesar de não gostar deles, reconheço que os mesquita (do estadão) tiveram postura infinitamente mais digna naqueles tempos... e pra aliviar o fim de semana, tem 'musa'lá no quasepouco, ricardo!
Anônimo disse…
hehe, e eu não sabia que o diaféria tinha 'conehead'...
Anônimo disse…
Meu Caro Ricardo,
O desespero bateu à porta do Ciro Megalô!Ele está promovendo um jantar adesão para arrecadar dinheiro prá campanha da Tassítria,digo,Patrícia.
Estão comentando por aui que vai sair uma pesquisa em que a Pat Marionete-Tasso-Cirista caiu para 12% e a Ruinziane subiu para 49%.Infelizmente os candidatos a Prefeito aqui em Fortaleza são prá lá de fracos e é por isso que essa petista porra-louca vai se reeleger.Uma lástima para nossa Fortaleza "requenguela" e esburacada.
Grande abraço.
Deoclécio Feitosa Fachinne
PS:O Ciro Megalô foi num programa de radio por aqui e falou um monte de mentiras sobre o governo do Lúcio Alcântara,aí o Lúcio Alcânatara foi no mesmo programa e com elegância e dados incontestáveis desmentiu o Ciro Megalô,que mais uma vez confirmou a fama de mentiroso e falastrâo.
Anônimo disse…
Pois é, grande Diaféria."Datado", não é mesmo? Por isso, a tristeza é maior.Junta-se ao luto o desânimo.Mas é lembrar do Lourenço Diaféria para lembrar que desesperança não vale...
abraço
Olivia
ana. disse…
Desconcierta la muerte. Siempre.
La muerte de un escritor es la muerte de su palabra que es también, muchas veces, la palabra de los otros, aquellos que no tienen voz.
No obstante, entiendo la escritura como una forma de trascendencia, una voz presente,eterna,aún despues de la muerte.
Un abrazo.
Pedro Nastri disse…
Sua pena era ágil no humor, por exemplo, quando criticou os altos preços que estavam sendo praticados nas feiras livres e se saiu com essa, em contrapartida ao Rei Pepino o Breve, o xuxú o longo. Sua pena era ao mesmo tempo amena e contundente. Deixa uma grande saudade em todos nós, seus fãs.
Karina disse…
Obrigada pela visita ao meu blog! Senti-me honrada com suas palavras! Não acho que você escreveu coisas pesadas; o pessoal por aí é que escreve coisas leves demais sobre a sociedade.
Também gostei muito do seu blog; posso "linká-lo"? Saiba que sou fã do Metrópolis, assisto-o desde os treze anos, rsrs...
O Diaféria foi mesmo uma grande perda; lembro-me de ler seus textos no jornal bem novinha. Sempre fui apaixonada por crônicas, mais ainda aquelas que tratam de São Paulo, essa cidade que sozinha daria assunto pra todas as crônicas do mundo...

Um grande beijo!

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