O "ILUSTRADO" JORNALISMO CULTURAL


Ainda está para ser contada, com isenção, a história do jornalismo cultural brasileiro. Bom mote para falar nisso nos dá o jornalista Marcos Augusto Gonçalves, editor do caderno "Ilustrada" , da Folha de S. Paulo. Ela acaba de publicar o livro “Pós-tudo – 50 anos de cultura na Ilustrada” (Publifolha, 368 págs., R$ 59,90).Gonçalves, editor do caderno em dois momentos, na década de 80 e hoje em dia,levanta a trajetória da “Ilustrada” por meio de entrevistas com mais de 20 jornalistas além de reproduzir artigos polêmicos como o embate (intelectual ou pessoal ?) entre Caetano Veloso e Paulo Francis. Não vi nem li o livro . Estou comprando o peixe conforme me venderam. Não tenho vontade de perder meu tempo com ele não por má vontade em relação ao Marcos ( raro exemplar de bom texto no jornalismo cultural contemporâneo e na "Ilustrada" em particular)mas sim pelo livro partir do pressuposto que a história do jornalismo cultural brasileiro começa e termina na "Ilustrada" o que não é o caso mesmo se levando em conta que o caderno tem 50 anos de idade , sendo assim o mais antigo da imprensa brasileira.
Essa semana li um texto de um repórter do IG ( que passou pela Ilustrada)tecendo loas ao livro . Afirma ele "O resultado é uma simpática – e fartamente ilustrada – celebração em torno de um dos mais importantes cadernos culturais da imprensa nacional, cujo alcance e influência, especialmente na década de 80, ajudaram a “Folha” a se consolidar como o maior jornal do país". Não sei se foi uma tentativa não velada de bajular seus antigos colegas mas a afirmação do repórter é , no mínimo, polêmica. A época mais criativa e influente da "Ilustrada" não me parece ter sido aquela em que estiveram à frente do caderno os "golden boys" do Otávio Frias Filho ( dono do jornal), responsáveis pela implantação do jornalismo de resultados do "Projeto Folha". Esses rapazes ( por coincidência um deles preside o IG que dá emprego ao repórter que tece loas à Ilustrada) deixaram tudo muito mais pragmático , afinaram o jornalismo cultural com o mercado e com as "mudernidades" (sejam elas boas ou más) mas tiraram o charme e o conteúdo da "Ilustrada" que me parecia, isso sim , muito mais charmosa e bem escrita sob a égide de Helô Pinheiro /Tarso de Castro em fins dos anos 70 e começo dos 80. Textos redondos, pautas sem preconceitos desfilavam diante do coro de contentes e descontentes e levavam as assinaturas competentes de Sérgio Augusto, Isa Cambará, Ligia Sanches (onde andam elas ?), Dirceu Soares e assim por diante . Era a época que a mesma Folha publicava o instigante e histórico " Folhetim" sobre o qual prometo escrever dia desses.
Enfim, para concluir : o livro do Marcos pode ajudar a entender um pouco o jornalismo cultural brasileiro mas não é seu testamento definitivo. Os jornalistas competentes da área precisam encarar o desafio de escrever essa história olhando para os lados. E o Caderno B ? do Jornal do Brasil ? e a fundação do Caderno 2 do Estadão ? Ao menos o livro do Marcos parece ter um objetivo claro . Não quer enganar ninguém ao que parece . Quer contar a história da Ilustrada mesmo que ele ache que o caderno é o "must" do jornalismo cultural brazuca. Melhor do que um janotinha do Estadão que em anos passados escreveu um livreco ( ruim a beça por sinal) onde escrevia a história do jornalismo cultural a partir da perspectiva de sua "revolucionária" trajetória pessoal no segmento. Bleargh !!!!!

Comentários

Anônimo disse…
a Ilustrada dos anos 80 não era aquele jornaleco que dava matéria de capa pra qualquer banda de garagem do suburbio de londres e uma nota de pé de página para um novo lançamento de chico buarque? sei...
Verbo Feminino disse…
Ricardo,
não creio ser o caso de considerar um livro como esse uma publicação "definitiva" sobre jornalismo cultural no país.

Mas não podemos, também, descartar os 50 anos de Ilustrada como se valessem pouco. Ou como se não valessem um livro.

Pelo menos trata-se de um livro com muita ilustração! rsrsrs
Anônimo disse…
Ricardo ,o referido presidente do IG é aquele que censurou o Paulo Henrique Amorim, inclusive tirando até o site do ar.

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