MAPA DA DESPROPORÇÃO


Se o cínico jornalista(???)Salomão Schwartzman (ver  comentários abaixo) não acha desproporção o que Israel faz com os palestinos ofereçamos a ele esse mapa pra reflexão. Clique em cima para enxergar melhor. É ver pra crer.

Comentários

Carlos Walker disse…
Excelente, Ricardo! Parabéns pelo belo blog. Voce, o Bourdoukan, o Azenha e alguns estão fazendo o papel que uma ONU não mais faz. Sou músico, e gostaria de enviar meu novo cd para voce. Como faço?
meu blog: www.blig.ig.com.br/afrozen

abraços!Carlos Walker
Ricardo, peguei o mapa e o aviso da manifestação contra os ataques em Gaza emprestados, para passar a reflexão adiante.

Abraços
Anônimo disse…
Ricardo

estes mapas merecem o historico da palestina:

Uma guerra ilegítima.

Entrevista especial com Arlene Clemesha (Professora de História e Cultura Árabe da USP e membro do Conselho do Instituto da Cultura Árabe)

Três semanas de um conflito que, na verdade, é antigo, complexo
pelas diferenças culturais e de interesses. “É uma situação
extremamente complexa, que envolve três gerações que passam por
conflitos criados por motivos políticos que podem ser resolvidos, mas necessitam do envolvimento de pessoas de consciência no mundo todo, da
pressão de Estados no mundo todo”, diz a professora Arlene Clemesha.

A IHU On-Line conversou com ela, por telefone, sobre as origens do
conflito, uma vez que muitos juízos de valores são feitos sem que se compreenda como o conflito iniciou e como ele se desenvolveu ao longo dos anos. Assim, ela nos explica que Hamas e Fatah são, antes de tudo, partidos políticos e, por isso, precisamos entender como eles se envolvem nesse dilema a região vive. “Em 2006, quando o Hamas venceu as eleições aconteceu essa situação inaceitável, ou seja, o Estado de Israel, junto com os Estados Unidos e a Europa, não reconheceram ao vitória do Hamas. Então, o povo palestino elegeu, democraticamente, um
governo e o mundo não reconheceu esse governo e o derrubou. Isso sim é um exercício do autoritarismo e da ingerência”, relata Clemesha.

Na entrevista que segue, a especialista em questões judaicas e
palestinas analisa as origens da guerra estabelecida entre o Estado de Israel e a Palestina, contextualiza o Hamas e o Fatah, as diferenças culturais não compreendidas. Ela reflete também sobre a atuação da ONU e de outros países e diz que a América Latina pode ter um papel fundamental no conflito. “Os latino-americanos não podem permitir que os Estados Unidos sigam sendo o grande e, praticamente, único negociador entre as duas partes, até porque os Estados Unidos não são isentos, pois tomam o partido de Israel desde a criação do seu Estado.
Favorecem, portanto, em qualquer negociação o Estado de Israel e é
chegada a hora de o mundo fazer alguma coisa a respeito”, enfatiza.

Arlene Clemesha é historiadora pela Universidade de São Paulo
(USP), com mestrado e doutorado em História Econômica, também pela
USP, onde, atualmente, é professora no Departamento de Línguas Orientais da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas. É também membro do comitê do United Nations International Coordinating Network on Palestine e do Instituto da Cultura Árabe. Está desenvolvendo uma pesquisa intitulada Cultura e Política na Formação na Nacionalidade Palestina no século XX. Escreveu diversos livros que nos remetem ao tema deste conflito, tais como Marxismo e judaísmo.
História de uma relação difícil. (São Paulo: Boitempo/Xamã, 1998), 25 de Outubro de 1917: A Revolução Russa. (São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005) e Palestina 1948 – 2008 (Teerã: Defc, 2008).

Confira a entrevista

IHU On-Line – Professora, a senhora pode nos contar como esse
conflito começou e porque ele se intensifica de tempos em tempos?

Arlene Clemesha – O conflito começou a partir da imigração
sionista [1] para a Palestina, ou seja, a imigração de judeus da
Europa Oriental que foram levados para a Palestina pelo movimento
sionista. Havia, então, na Europa Oriental uma grande população
judaica, aliás a maior população judaica do mundo estava concentrada, entre o final do século XIX e início do XX, nesta região. Era uma população, em grande medida, pobre, vivendo em péssimas condições e vivendo perseguições do regime czarista [2]. Era uma população que
buscou várias formas de escapar dessa condição de miséria e
perseguição. Muitas das formas significaram a adesão de parte dessa população ao Movimento Revolucionário Russo [3], mas também surgiu ali
(e não época não era tão importante quanto iria se tornar depois da II Guerra Mundial) o Movimento Sionista. Esse movimento propunha, como solução para o problema da perseguição dos judeus, a criação de um Estado na Palestina.

IHU On-Line – Por que a Palestina?

Arlene Clemesha – Inicialmente, não tinha de ser a Palestina.
Chegaram a pensar em outros lugares, como Argentina, Uganda, mas a ala religiosa do movimento insistiu que deveria ser a Palestina porque ali
(nessa região, aproximada e vagamente) tinha havido dois Estados
judeus na Antiguidade: o Estado de Israel e o Estado de Judá. Esses
foram Estados que existiram antes da época de Cristo. Israel já não
existia na época de Cristo e o de Judá foi destruído pela ocupação
romana no primeiro século da era de Cristo. Então, com base nessa
história longínqua é que a ala religiosa do Movimento Sionista disse
que a única região do mundo em que conseguiriam justificar uma
imigração, uma criação de um Estado Nacional e, assim, convencer as
pessoas a se dirigirem até lá, é essa região próxima da Palestina. Foi
assim que passaram a trabalhar em cima disso. O movimento Sionista
começou a promover a imigração de judeus da Europa Oriental para a
palestina.

Bom, essa imigração começou a crescer e, publicamente,
afirmavam que estavam migrando para a criação de um Estado nacional. E
isso se tornou público e inquestionável a partir de 1917 quando a
Grã-Bretanha emitiu a Declaração Balfour [4], que dizia que a
Inglaterra apoiaria a criação de um lar nacional judeu na Palestina.

IHU On-Line – Por que a Inglaterra pôde fazer isso?

Arlene Clemesha – Não podia, mas ela governava a Palestina como
potência colonial. Ela era a vitoriosa na I Guerra Mundial, juntamente
com a França, e, assim, acabaram dividindo entre si as regiões do
Oriente Médio, que era, até essa guerra, parte do Império Otomano [5].
Com isso, Inglaterra e França passaram a governar na forma de mandatos
da Liga das Nações, ou seja, Inglaterra e França conseguiram da Liga
das Nações (uma organização antecessora da ONU) uma espécie de aval
para governar essas regiões por determinado período de tempo. A Liga
das Nações dizia que Inglaterra e França governariam essas regiões até
que tivessem condições de governarem a si mesmas. Quando o Império
Otomano perdeu a I Guerra Mundial, os vencedores dividiram as regiões
e, desta forma, a França governou a Síria e o Líbano e a Inglaterra
governou Palestina, Transjordânia (que depois virou Jordânia), Iraque,
continuou governando, de diferentes formas, o Egito e teve muita
influência na Arábia Saudita também. A Palestina estava sob o controle
da Inglaterra que estava promovendo a imigração judaica sionista para
lá. Por isso, colocou em carta pública em 1917.

Em 1922, quando saiu oficialmente o mandato britânico sobre a
Palestina, quando a Liga das Nações oficialmente aprovou esse mandato,
a carta de aprovação reiterava que a Inglaterra governaria a Palestina
e um dos objetivos seria favorecer a criação de um lar nacional judeu
na Palestina. Esse era o termo: “lar nacional judeu”. Não se falava em
Estado, mas estava muito claro que isso significava a criação ali de
alguma coisa parecida com Estado.

E a população Palestina-Árabe, vivendo ali há séculos, se
revoltou contra essa imigração com esse objetivo. Não tinha problemas
com a imigração judaica, não tinha problemas com a convivência com
judeus, tanto é que havia judeus morando há muito tempo na
Palestina-Árabe. Eram judeus que falavam árabe, que tinha uma cultura
muito enraizada. Eles eram algo como 10% da população de Jerusalém,
talvez 5% de toda população da Palestina. Nada a ver com essa
população judaica sionista da Europa Ocidental. Então, essa imigração
massiva, com o objetivo de criar um lar nacional judeu, é o que vai
dar origem ao conflito.

Essa imigração, em 30 anos, multiplicou por dez a população
judaica da Palestina. Isso causou um impacto muito grande e a revolta
árabe. Antes da criação do Estado de Israel, em 1948, a revolta árabe
já estava instalada, os árabes-palestinos já não estavam aceitando a
perspectiva de ter a sua terra tomada para criação de um Estado judeu.
Essa é a origem do conflito. Ele se acirra, evidentemente, a partir de
1948 com a criação do Estado de Israel.

IHU On-Line – Quem é o Hamas e o que ele representa para Israel
e a Palestina?

Arlene Clemesha – O Hamas é um partido político. Como tantos
outros partidos políticos, o Hamas tem um caráter religioso-islâmico,
mas a sua vitória em janeiro de 2006 não se deve a esse caráter. A
população que votou no Hamas não defende a criação de um Estado
islâmico, como diz a carta do Hamas. Sequer o Hamas está defendendo a
criação de um Estado islâmico. Aliás, a verdade dessa tensão é que o
Hamas não teve, desde que venceu as eleições, sequer condições de
mostrar a que veio, porque não deixaram o Hamas governar. Então, o
Hamas é um partido político que ganhou as eleições em janeiro de 2006,
a população Palestina votou no Hamas porque estava descontente com
duas características fundamentais do Fatah [6]: muitas denúncias de
corrupção e o fato de não estar conseguindo fazer avançar a
implementação das reivindicações do povo palestino, ou seja, a
implementação de um Estado em todos os territórios palestinos ocupados
que, tecnicamente, são a Faixa de Gaza e a Cisjordânia com fronteira
na chamada Linha Verde [7] (linha de armistícia da Guerra de 1949).

Isso significa que Israel teria de retirar todos os
assentamentos. São hoje 400 mil colonos judeus vivendo em
assentamentos dentro da Cisjordânia. São assentamentos que ocupam,
fisicamente, territórios palestinos na Cisjordânia, que usam de 80% a
95% da água dessa região. Enfim, são bairros de ocupação. Além disso,
é preciso tirar as estradas exclusivas, pois a Cisjordânia é toda
cortada por estradas exclusivas israelenses, onde o palestino não pode
circular. É um regime de apartheid, de segregação racial que vigora na
região. Se formos resumir as reivindicações em três grandes itens, são:

1º - O estabelecimento de um Estado soberano e autônomo em toda
a Cisjordânia e Faixa de Gaza;
2º - Estabelecer e, principalmente, reconhecer o direito ao
retorno dos Palestinos refugiados, descendentes daqueles 800 mil que
foram expulsos por métodos de aterrorizamento e incitação à fuga em
1948;
3º - Jerusalém oriental ser devolvida à Palestina, como dizem
as resoluções da ONU.

Agora, o Fatah não estava levando adiante essas reivindicações,
estava imerso em condições desfavoráveis e, aos olhos da população,
aceitando migalhas em troca de imensas concessões sem que Israel
reconhecesse o Estado Palestino. Era isso que o Fatah vinha fazendo.
Com isso, surge o Hamas, na década de 1980, com o apoio financeiro e
de armas do Estado de Israel porque significava uma oposição ao Fatah.
Na época, o Fatah era visto como inimigo, como terrorista, ou seja,
tudo o que fazem hoje com o Hamas. Por isso, Israel ajudou no
crescimento do Hamas para fazer oposição. Mas hoje a situação chegou
ao ponto de o Fatah não ser considerado o grande inimigo e ser um
partido bastante manejado por Israel e o Hamas, então, fazendo
oposição firme a Israel, passa a ser tratado como o terrorista inimigo
que deve ser liquidado, com o qual não se deve dialogar.

O Hamas diz, há muito tempo, que quer negociar com Israel, o
que já indica que ele reconhece o Estado de Israel. Inclusive, a
partir do momento em que o Hamas participa de eleições dentro da
Palestina, ele já reconhece o Estado de Israel. Portanto, as eleições
existem a partir de acordos que significaram toda uma série de
reconhecimentos e normas, entre elas o do Estado de Israel. Então, o
Hamas reconhece Israel, quer negociar, mas não a qualquer custo,
principalmente não ao custo de Israel continuar dizendo que não
reconhece o direito do Estado Palestino. Em 2006, quando o Hamas
venceu as eleições, aconteceu essa situação inaceitável, ou seja, o
Estado de Israel, junto com os Estados Unidos e a Europa, não
reconheceram ao vitória do Hamas. Então, o povo palestino elegeu,
democraticamente, um governo e o mundo não reconheceu esse governo e o
derrubou. Isso sim é um exercício do autoritarismo e da ingerência. É
assim que colocam o Hamas como um grupo terrorista, e não um partido
político legítimo, por causa dessa oposição que ele oferece a Israel.

IHU On-Line - Por que a ONU entregou a Israel terras dos
palestinos e por que Israel não concorda com a divisão da ONU?

Arlene Clemesha – Realmente, precisamos levantar a questão: que
legitimidade existe nessa partilha da Palestina? Como ONU entrega a um
movimento sionista uma terra que tem dono, que tem população, que tem
cultura, que tem passado, enfim?. Inclusive, o Estado de Israel não
reconhece e não implementa nenhuma resolução da ONU. Uma centena de
resoluções importantes da ONU foram passadas para a Palestina e Israel
desde 1948, mas Israel não as implementou. Será que não é mesmo hora
de nós questionarmos a validade da resolução que criou essa partilha
da Palestina? Agora, veja, eu não estou dizendo que vamos eliminar o
Estado de Israel e jogar os judeus no mar. Isso seria um absurdo e um
crime.

O que estou dizendo é que a condição atual chegou a tal ponto
que a história toda precisa ser rigorosamente analisada para conseguir
tentar se chegar a soluções de justiça que possam levar a paz.
Rapidamente, olhando para o passado: como a ONU executou essa
partilha? Em termos práticos, executou a partilha porque a região era
uma colônia, se não o fosse não teria como executar essa partilha. O
povo palestino árabe era dominado, não tinha autonomia na sua própria
terra, e a Inglaterra estava enfrentando uma grande dificuldade de
manter o seu governo colonial, porque a revolta árabe era imensa. O
movimento sionista começou a executar atentados a bombas, atentados
terroristas porque já não interessava mais para o movimento que a
Inglaterra permanecesse governando a região. Os sionistas já tinham
criados as instituições, as bases para poder decretar o seu Estado
próprio e a permanência da Inglaterra só estava atrapalhando. O apoio
que a Inglaterra estava dando nas décadas anteriores já não era mais
necessário após a II Guerra Mundial para o movimento sionista.

Ao forçar a saída da Inglaterra, através desses atentados, o
movimento nacionalista árabe-palestino executou grandes revoltas e,
assim, a Inglaterra entregou o mandato à ONU, cerca de dez anos antes
do prazo estipulado, dizendo que não tinha condições de manter a ordem
na região. Assim, a ONU precisou analisar soluções para essa questão.
Havia duas soluções em pauta: uma seria dividir o território,
entregando uma parte para o sionismo criar o Estado de Israel a outra
para a criação do Estado palestino. A outra proposta, que foi
derrotada, era a de formação de um estado único onde conviveriam
judeus e árabes, tanto cristão quanto islâmicos. Essa proposta foi
derrotada diante de um grande trabalho de bastidores durante a reunião
da ONU.

Osvaldo Aranha [8], diplomata brasileiro, presidindo a sessão
da ONU, teve um papel importante. O Brasil tem sua grande taxa de
responsabilidade nessa solução tão desastrosa que foi dada. Não
podemos achar que foi uma solução justa entregar metade do território
de uma população para a criação de um Estado alheio e, ainda por cima,
para um Estado que se diz apenas de uma população, um Estado judeu.
Esse Estado não está disposto sequer a incorporar, no mesmo nível de
igualdade, judeus e árabes. Daí vem a expulsão de 800 mil árabes desse
território. Hoje, os árabes-palestinos que vivem dentro de Israel não
têm o mesmo nível de cidadania garantida aos judeus, ou seja, suas
escolas recebem menos fundos, eles tem menos garantia de saúde e
acesso à hospitais, eles não podem servir ao exército e, por isso,
perdem uma série de direitos. Então, não é possível dizer que Israel
trata da mesma forma sua população judaica e árabe. Só o fato de
Israel não permitir o retorno de árabes que ali viviam até 1948 e
continuam tendo os títulos de propriedades das suas terras já indica
que é um Estado fundado sob a base da exclusão da população original.

É uma situação extremamente complexa, que envolve três gerações
que passam por conflitos criados por motivos políticos que podem ser
resolvidos, mas necessitam do envolvimento de pessoas de consciência
no mundo todo, da pressão de Estados no mundo todo. Nesse sentido, a
América Latina tem um papel muito importante. Os latino-americanos não
podem permitir que os Estados Unidos sigam sendo o grande e,
praticamente, único negociador entre as duas partes, até porque os
Estados Unidos não são isentos, pois tomam o partido de Israel desde a
criação do seu Estado. Favorecem, portanto, em qualquer negociação o
Estado de Israel. Portanto, é chegada a hora de o mundo fazer alguma
coisa a respeito, levar esse problema para todas as instancias
possíveis.

IHU On-Line – O controle da Faixa de Gaza é objetivo dessa
invasão militar?

Arlene Clemesha – Sim, o controle da Faixa de Gaza, mas não a
ocupação física. A Faixa de Gaza tem uma população de 1,5 milhão de
habitantes, num território extremamente pequeno. É a maior densidade
populacional do mundo. Israel não quer estar dentro da Faixa de Gaza.
Deve estar tentando calcular como deve se retirar, mas o controle da
Faixa de Gaza é o objetivo dessa operação. Agora, o objetivo de fundo
são as eleições no Estado de Israel. O candidato Benjamin Netanyahu
[9] vinha crescendo nas pesquisas e tem um discurso mais de direita do
que o Tzipi Livni [10]. Esse ataque à Faixa de Gaza é para derrubar o
Hamas, mas vemos que o Hamas vai sair fortalecido, por isso não
sabemos como isso vai ajudar na vitória do partido Likud (de Benjamin).

Essa operação tinha como objetivo de fundo, claramente, o
regate, pelo partido Kadima (de Tzipi), a sua possibilidade de vencer
as eleições. Porque hoje, em Israel, quanto mais radical, linha dura,
enfático contra a população palestina, mais chances o candidato tem de
vencer as eleições. Claro que o discurso israelense não diz isso, diz
apenas que é contra o Hamas. O discurso é: contra o perigo palestino,
a segurança israelense. Agora, o maior perigo à segurança israelense é
a própria agressão israelense ao povo palestino. Se Israel se
retirasse completamente dos territórios palestinos e permitisse a
criação de um Estado Palestino, essa ação de conflito tinha todas as
condições de terminar e se avançar rumo a uma nova realidade no local
de convivência.

IHU On-Line – Como a senhora vê a atuação de outros países
nesse conflito entre os israelenses e palestinos?

Arlene Clemesha – Tem sido lamentável que a comunidade
internacional não tenha pressionado para obter a implementação das
resoluções da ONU. Era só isso que precisava ser feito.

IHU On-Line – Há diferenças culturais que a imprensa ocidental
não compreende ao produzir notícias sobre o conflito?

Arlene Clemesha – A imprensa internacional vem há décadas,
principalmente depois do 11 de setembro, reproduzindo um discurso
lançados pelos Estados Unidos na sua guerra ao terror que cria uma
identificação quase automática entre árabe e terroristas, entre
islâmico e terrorista. Isso precisa ser entendido pelas pessoas e
tentar abordar toda essa situação de uma maneira uma pouco mais
histórica e aprofundada para evitar estereótipos, evitar as matérias
rasas e superficiais que deturpam a situação. Ou seja, quando falamos
do conflito em Gaza temos de pensar no motivo de fundo: a ocupação
israelense dos territórios palestinos. Então, quando se fala em ciclo
de violência, é uma forma de deturpar, de não favorecer a compreensão
da realidade.

Existem ataques dos dois lados? Existem! No entanto, primeiro,
os ataques palestinos praticamente não causam mortos em relação aos
ataques israelenses. Segundo, existe um motivo de fundo para essa
violência. Então, vamos buscar o motivo de fundo. Isso precisa ser
feito. A partir dessa situação que estou descrevendo, também vem à
tona todas deturpações culturais, a não compreensão das diferenças
culturais. Agora, sequer pode-se exigir que a imprensa mundial
compreenda situações culturais, às vezes, extremamente complexas. Uma
coisa podemos exigir: que a imprensa respeite diferenças culturais e
não ache que seja certo reproduzir o discurso estadunidense do direito
à ingerência externa.

Notas:

[1] Sionista é um movimento político que defende o direito à
autodeterminação do povo judeu e à existência de um Estado Judaico,

por isso sendo também chamado de nacionalismo judaico. Ele se
desenvolveu a partir da segunda metade do século XIX, em especial
entre os Judeus da Europa central e da Europa de Leste, sobre a
pressão de pogroms e do anti-semitismo crónico destas regiões, mas
também na Europa ocidental, no seguimento do choque causado pelo caso
Dreyfus.

[2] Czar era o título usado pelos monarcas da Rússia Imperial
entre 1546 e 1917.

[3] Em outubro de 1905, para tentar remediar a situação, o Czar
Nicolau II relutantemente lançou o famoso Manifesto de Outubro, que
permitiu a criação de uma Duma (parlamento) nacional e a existência de
partidos políticos, destacando-se o Partido Social-Democrata, que se
havia dividido em 1903, dando origem ao Partido Menchevique, em
minoria, mais moderado e que defendia uma reforma gradual com o apoio
da burguesia, e o Partido Bolchevique, que detinha a maioria, era mais
radical e defendia uma ação revolucionária. Estas medidas surtiram
escasso efeito, visto que os partidos eram sistematicamente vigiados e
a Duma era controlada pela aristocracia e pelo czar, que podia
dissolvê-la a qualquer momento. Os grupos moderados se satisfizeram,
mas os socialistas rejeitaram as concessões como insuficientes e
tentaram organizar novas greves. Ao fim de 1905, os reformadores
estavam lutando entre si. Graças a essas divergências, o Czar teve sua
posição relativamente fortalecida.

[4] A Declaração de Balfour é uma carta escrita em 2 de
novembro de 1917 pelo então secretário britânico dos Assuntos
Estrangeiros, Arthur James Balfour, enviado ao Lord Rothschild sobre
sua vontade de conceder ao povo judeu uma facilitação de povoação da
Terra de Israel caso a Inglaterra conseguisse derrotar o Império
Otomano, que, até então, dominava aquela região. A França e a Itália,
aliadas de Londres na Primeira Guerra Mundial, ratificam
espontaneamente a Declaração de Balfour, prevenindo-se de deixar o
Oriente sob administração exclusiva do Império Britânico. Os Estados
Unidos aprovaram-na em agosto de 1918.

[5] O Império Otomano foi um Estado que existiu entre 1299 e
1922 e que no seu auge compreendia a Anatólia, o Médio Oriente, parte
do norte de África e do sudeste europeu. Foi estabelecido por uma
tribo de turcos oguzes no oeste da Anatólia e era governado pela
dinastia Osmanli. Fundado por Osman, nos séculos XVI e XVII, o império
constava entre as principais potências políticas da Europa e vários
países europeus temiam os avanços otomanos nos Balcãs. No seu auge, no
século XVII, o território otomano compreendia uma área de 11.955.000
km² e estendia-se desde o estreito de Gibraltar, a oeste, até o mar
Cáspio e o golfo Pérsico, a leste, e desde a fronteira com as atuais
Áustria e Eslovênia, no norte, até os atuais Sudão e Iêmen, no sul. O
Império Otomano foi a única potência muçulmana a desafiar o crescente
poderio da Europa Ocidental entre os séculos XV e XIX. Declinou
marcadamente ao longo do século XIX e terminou por ser dissolvido após
sua derrota na Primeira Guerra Mundial. Ao final do conflito, o
governo otomano desmoronou e o seu território foi partilhado.

[6] Fatah é um acrónimo reverso do nome Árabe Harakat al-Tahrir
al-Watani al-Filastini (tradução literal: Movimento de Libertação
Nacional da Palestina). É uma organização política e militar, fundada
em 1964 pelo engenheiro Yasser Arafat e Khalil al-Wazir (Abu Jihad),
juntamente com a criação da OLP. Os membros desse grupo defendiam a
luta armada para expulsar Israel dos territórios ocupados. O Fatah
ocupou o Conselho Revolucionário da OLP, atuando como seu braço
armado. Atualmente possui o presidente da Palestina, Mahmoud Abbas.

[7] Linha Verde, fronteira entre Israel e os países vizinhos
(Egito, Jordânia, Líbano e Síria), definidas no Armistício
árabe-israelense de 1949, no final da Guerra árabe-israelense de 1948.

[8] Osvaldo Euclides de Sousa Aranha foi um político e
diplomata brasileiro. Amigo e aliado de Getúlio Vargas, foi o grande
articulador da campanha da Aliança Liberal nas eleições, agindo nos
bastidores para organizar o levante armado que depôs Washington Luís e
tornou realidade a Revolução de 1930. No processo de envolvimento
brasileiro à Segunda Guerra Mundial, Aranha teve papel fundamental,
representando no governo a ala pan-americanista, defendendo uma
aliança com os Estados Unidos sempre em oposicão aos chefes militares,
capitaneados, principalmente pelo ministro da Guerra Eurico Gaspar
Dutra, que eram partidários de uma aproximação com a Alemanha. Em 1947
foi chefe da delegação brasileira na recém-criada Organização das
Nações Unidas (ONU). Presidiu a II Assembléia Geral da ONU que votou
pela partilha da Palestina.

[9] Benjamin Netanyahu é um político de Israel,
ex-primeiro-ministro de Israel e atual chefe do partido Likud. Foi
primeiro-ministro entre os anos de 1996 e 1998. Sucedeu Yitzhak Rabin
e foi precedido por Ehud Barak.

[10] Tzipora Malka "Tzipi" Livni é uma jurista e política
israelense, atualmente exercendo o cargo de ministra de Relações
Exteriores de Israel, e designada recentemente primeira-ministra em
exercício do país. Em 17 de setembro de 2008, Tzipi Livni foi eleita
líder do partido Kadima, o que lhe deu a oportunidade de procurar
formar um governo que ganhasse o apoio da maioria na Knesset, o
parlamento israelense.
Claudia Ka disse…
Meu gato xixizeia na minha sala por querer, às vezes. Tem 70m² de jardim mais a rua inteira prá tal. Mas na sala é mais legal. Se ele me expulsasse de casa por isso seria engraçado. Eu me consolo e limpo. Mas se ele escolhesse outro lugar, como sobre a cama ou mesa, provavelmente a cena seria outra. Gato preto, homem branco: quem paga a comida sou eu.

(Pequenas variações sobre um mesmo tema)
Anônimo disse…
Isso não é um blog, é um panfleto anti-semita! Jornalismo sério e imparcial?? aonde?

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