AMO SÃO PAULO COM TODO MEU ÓDIO


A frase que dá título ao post é do falecido frasista, cavalheiro e publicitário Carlito Maia, um dos poucos a merecerem o epíteto de "uma flor de pessoa" não só pelo lindo hábito que tinha de mandar flores para todos aqueles que lançavam livros e estreavam peças de teatro em Sp como pela habilidade de ter sempre uma frase certa na hora adequada como vocês podem ver nesse link. Cliquem aqui os curiosos.

Pois sempre me lembro da frase do Carlito nessa minha atual fase de encantamento com o Rio de Janeiro ( onde fui concebido)e suas maravilhas e uma grossa decepção com São Paulo onde nasci e me criei. Mas a decepção sempre desaba por terra em tardes como a de hoje quando passeio ali pelo centro velho de minha cidade e dou de cara ( por exemplo) como a sempre deslumbrante arquitetura do Martinelli e a beleza das formas do viaduto Santa Ifigênia. Almocei hoje no belíssimo "Salve Jorge" ali na praça Antonio Prado, em frente à Bolsa de Valores, do lado do Martinelli, em companhia do meu velho amigo Fernando Costa Neto ( Dandão), um dos donos do boteco, e do meu filho. Entre samba paulista de fundo, chopp bem tirado, boas risadas, calor e fraternidade descemos até a praça onde Tuca e Denise Vieira Pinto, outras amigas, rodavam cenas de um curta- metragem que estão dirigindo. Intercedi a favor delas junto ao Dandão para que ele emprestasse o "Salve Jorge" para algumas cenas que serão rodadas amanhã.
Esse despretensioso relato sobre São Paulo e essa ação entre amigos é uma maneira pueril de eu dizer que muitas vezes a cidade que tanto considero inóspita, agressiva, pouco amigável, pode ainda numa tarde mormacenta de fim de fevereiro se transformar num local aprazível. Amei São Paulo hoje de tarde, de novo, com todo o meu amor. O mesmo amor que eu devotava à cidade na minha adolescência quando escrevi inúmeras crônicas sobre ela publicadas em jornais como o Metrô News. O mesmo amor que me fez inventar um telejornal nos anos 90 ( Gazeta Paulista) cujo tema do primeiro bloco, todos os dias, eram crônicas e histórias sobre São Paulo. O mesmo amor que transformou minha cidade em temas de outras tantas crônicas perdidas e esquecidas que foram publicadas no jornal O Estado de S.Paulo de 1993 a 1998. Enfim... vejo que meu amor por minha cidade continua intocável sob a capa de tanta má vontade quando volto a ter vontade de escrever crônicas sobre ela. Aliás é a única cidade sobre a qual eu posso escrever crônicas entranhadas. Porque por mais que meu amor geminiano se divida entre Rio e São Paulo não tenho a vivência carioca que me permita escrever crônicas entranhadas sobre a cidade. Ali não me sinto estrangeiro mas também não me sinto um passista genuíno daquela escola de samba. Aqui , túmulo do bom senso, ouço Adoniran e Vanzolini , batuco na mesa, atravesso no ritmo, queimo a faixa de segurança e mesmo com todo o meu estranhamento estou em casa. Repito : hoje amei São Paulo com todo meu amor.

Comentários

jb disse…
Ricardo,
Necessário mencionar que o Salve Jorge é realmente lindo e ponto. Nada além disso (e talvez já seja o suficiente!). Porquê a comida é terrível. Terrível.
Abração!

Ah! Já linquei seu blogue ao meu.
Ricardo Soares disse…
Julio...deixei uma resposta pra vc no seu blog... e linkei o seu ao meu tb... é para deixar meus leitores com água na boca... e vê se dá o endereço do seu restaurante ô caboclo!! pelo menos no seu blog
abraço
Oi Ricardo, orbigada por ter visitado o meu blog, fico lisonjeada de ter um comentário de um jornalista de tamanha experiência como a sua. Estou cursando o 6° semestre de Jornalismo na UFRB, e o blog para mim é um laborátorio onde estou tentando treinar todos os dias minha capacidade de pensar e escrever.
Adorei seu texto sobre São Paulo, tenho a maior vontade de conhecer essa cidade.
Mas a gente nunca deixa de amar nossa cidade natal né? Tem sempre aquelas caracteristicas, que parecem estar na gente também, por isso acho dificil não admirar e guardar dentro do peito as recordações, tanto boas como ruins. Minha cidade mesmo (Feira de Santana - BA), muitos falam mal dela, mas eu gosto, gosto bastante.
Um grande abraço!
carol disse…
Ricardo,
São Paulo consegue ter essa sutileza...amor e ódio intensos...sugiro um giro pelo sítio:

http://www.fototucavieira.com.br/

e seja bem vindo no meu "figura decorativa..."
beijos
Adriana Hanna disse…
"Porque por mais que meu amor geminiano se divida entre Rio e São Paulo não tenho a vivência carioca que me permita escrever crônicas entranhadas sobre a cidade."

Que lindo isso.
Que texto lindo!
No meu caso, meu amor ariano por São Paulo pulsa visceralmente, porque os mistérios de cada beco dessa cidade ainda alimentam a minha incansável busca por emoções.
Depois de Beirute, só São Paulo.

Um abraço, Ricardo.
carol disse…
P.S.: Falando em acaso...
Parece que vc conhece meu marido (o Angeli). Ele manda um abraço!
Anônimo disse…
Tenho saudades de SP, mesmo morando há 10 anos em Salvador...não é estranho? Alguns me dizem "É doido. Mora no paraíso e tem saudade do inferno que é SP? Aí você tem a visão do mar em 5 minutos...aqui você tinha a visão do Tietê".

Mas sei lá...Sampa é isso que você falou: agressiva, inóspita, mas ao mesmo tempo consegue ser apaixonante. Amor e ódio. É isso.

abs!
james disse…
Olha isso.
Agora,além de tratar bem minhas papilas gustativas e meu estômago com o "papo de boteco" e o Sinhá,passo a abrir (muito)mais meus olhos e rechear(muito bem) meu cérebro com teus escritos,Ricardo.

Grande abraço e enorme prazer ter te descoberto.
Udi disse…
Faço coro com você e com o maravilhoso-saudoso Carlito Maia na declaração de amor e ódio a São Paulo.
Ricardo, gostei do post!!

Como moro aqui na Bahia, sempre tive o interesse de vijar pelos 4 cantos do país, menos São Paulo.
Mas a vida é engraçada e vive fazendo umas coisas pra gente ser contraditório...

Está eu "trabalhando", fazendo umas fotografias em um festa bastante famosa aqui na Bahia, aí fotografei um paulista, e namoro com ele hoje...

Eu também tenho todos os motivos pra amar São Paulo e sempre que der aparecer por aí...

Saudações
Adoro seu blog!
Parabéns!
:)
A-MO São-São-Paulo-Meu-Amor com outro tipo de divisão: a sagitariana.
Tenho um prazer animalesco de ir aí visitar o MAM no Ibirapuera, o MASP, o Tomie Ohtake, a Pinacoteca, os amigos leais que SEMPRE nos brindam com alguma "ação" solidária e papos deliciosos.
Tenho um prazer humano de ter saudades gostosas (pois sei que vou voltar, por exemplo em outubro, para ver o Matisse, e os mesmos e novos amigos) daqui do Rio.
Daí, gosto até do metrô cheio...rsrsrsrs
Obrigada por aplaudir o melhor de Sampa por mim : a Cultura e as pessoas!
Anônimo disse…
É dificil para nós que não moramos em São Paulo afirmar algum "gostar" da cidade, quando se vai até ela se vê apenas trânsito, trânsito e trânsito, mesmo quando se está transitando a luxuosos hoteis, maravilhosos museus como o do ipiranga e parques como o ibirapuera, se vê trânsito intenso, e demais problemas de uma capital.
Uma Nova York reduzida mas com problemas e qualidades idens, ganhando São Paulo na minha opnião.
O caso é que eu sempre vou a São Paulo e é justamente o trânsito, é justamente o frenesi, e tudo o mais que a cidade oferece que me fascina. Amo São Paulo, só não irei morar lá por que pretendo cursar jornalismo no Rio, mas sou encantado, apaixonado por aquela cidade.... Oscar Freire... Freguesia do Ó... Ibirapuera... Moema... São Paulo é demais, jutamente com suas cidades agregadas...! Por falar em comida Ricardo, recomendo que vá ao Vivano, se não me engano, fica em São Caetano.

abraços,
la critique
Anônimo disse…
PS: já que o assunto é comida ricardo, experimente este blog: http://cinarasplace.blogspot.com/

é uma delícia esse blog! haha

abraçois
Danitza disse…
Ê delícia que é amar nossa cidade!!!!
Recentemente falei sobre esse amor que temos por nossa terrinha (no meu caso as montanhas de Minas). Mas tenho sofrido do mesmo, amar o Rio ao extremo.
Ainda, o melhor de tudo é poder sempre descobrir e redescobrir coisas...
Abraços e delícia de texto.
Anônimo disse…
A suavidade ou a fluência de seu texto merece (mais uma vez) um comentário, uma visitinha básica.

abraço
Anônimo disse…
Feijoada, that's me, El Paraibinha!
Quanta honra por você ter me visitado lá no meu blog de 7 leitores! Andei em férias, evitando ao máximo o teclado por conta de uma tendinite!
Meu velho parecia indestrutível há uns 10 anos, e agora virou uma criança. Sempre tenho vontade de escrever sobre ele, é como se me visse num espelho daqui a uns poucos anos...
Graaaaaaaaande abraço!!!

J.
Gabriela Angeli disse…
Ricardo, gostei muito deste texto...

Beijos!
Gabi.
Lunna disse…
Cheguei até aqui através de uma pesquisa no google, você fez uso de uma frase que há anos representa o que as vezes sinto por essa cidade de pedra (é fato que já me cansei dessa expressão). Enfim, "Amo São Paulo com todo meu ódio" ficou se repetindo em minha mente e percebi que na verdade não é a cidade, esse elemento raro, cheio de possibilidades, em sua maioria são as pessoas com seus gestos desagradáveis que "violentam" a cidade repetidamente e geram crimes, descasos, agressões, abandonos.... Coisas que alguns de nós não suportam. Veja o centro velho e toda sua singular história, deveria ser como os grandes centros europeus para onde nos dirigimos para curtir a história que cada prédio guarda, os detalhes de nós mesmos que tantas vezes passamos por ali e nada vemos...
Enfim, os humanos são limitados, logo é melhor transcender a capacidade de limitação. rs
Foi um prazer encontrar seu blog. Grande abraço

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