A TERNURA EMBUTIDA

Urge uma explicação para a poesia/post logo abaixo. Essa madrugada lendo os lindos e sinceros comentários no meu post "Outras palavras escritas", que fala sobre a má interpretação que muitos e-mails podem gerar, dei de cara com um belo e terno comentário da leitora "Toda Pura" que insiste em não se identificar mas que se transformou numa leitora-imã. E o que vem a ser isso ? Simples . É a derivação de um conceito criado pelo meu amigo, o falecido escritor Caio Fernando Abreu, que dizia que haviam escritores-imãs que ao escreverem certos textos nos inspiravam imediatamente a produzirem outros. "Toda Pura" ao declarar que prefere me escrevendo com ternura deixou um lindo recado num momento especial quando eu estava particularmente tocado após a semana dificil que atravessei no trabalho.E assim provocou a poesia que lhes deixo abaixo. Obrigado "Toda Pura", leitora imã.
A TERNURA EMBUTIDA

Minha ternura é assim oblíqua, inexata
Muitas vezes metafórica

É uma ternura de tintura
Mal pintada nas paredes da memória

Minha ternura tem história
Tem olhos de manteiga
Barriga de palhaço

Minha ternura é um desenho inexato
Do tempo que eu furava o dedo com o compasso

Minha ternura mais que química é física
Matematicamente distribuída em hora errada

Minha ternura se perdeu num desvão da escada
Massacrada pela tirania da palavra
Minha ternura ficou escrava de um momento
Para existir é necessário provocar um acontecimento
Dentro de mim mesmo

Minha ternura é envergonhada
Difícil de ser laçada
Uma ternura complicada
Que para existir é preciso ser provocada

Mas por vezes minha ternura é aluvião
Chuva de verão, ronco de trovão
Vem do silêncio da alma
Ou do tropel do coração


***
Ricardo Soares/ madrugada de 16 de maio de 2009

Comentários

Udi disse…
...e eu que fico com a responsa de ser a primeira a comentar?

Já te falei como a tua escrita flui... agora, assim, plena de ternura?!
Você, com certeza já foi tocado por essa emoção lendo Pessoa, Gullart, Bandeira, Drummond?
Só assim consigo te explicar como toca o seu poema... essa ternura embutida.

(sobre a leitora-imã: porque não poderia ser chamada de musa?)
Tania Celidonio disse…
Gosto quando você é ternura aluvião e deixa escapar, do coração, o urso carinhoso que passeia pela sua memória.
Gostei muito da observação da Toda Pura. E ela realmente foi uma escritora/leitora imã.
Sobre a palavra escrita, quantas histórias de desentendimento....
Lindo poema,Ric!
beijim
Ricardo Soares disse…
Udi e Tania , lindas...mesmo que o poema seja ruim merecer comentários tão bonitos como esses já valeu a pena ter escrito...thanks... vocês tornaram melhor meu inicio de sábado...beijos
Kiara Guedes disse…
é a danada da existência, sempre nos cobrando coragem, e eu gosto das suas, as duas.
bj
Patty Diphusa disse…
Ternura escapada, tocante. Bela poesia.


Bjs
leve solto disse…
Demonstrações de ternura sempre são lindas!

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