O CRIME DO RESTAURANTE CHINÊS

Ditadura getulista do Estado Novo, copa do mundo na França, nazismo avançando, quarta- feira de cinzas do ano de 1938. Pela manhã,um funcionário abre a porta de um restaurante chinês no centro de São Paulo e se depara com um cenário aterrador. Seus patrões e mais dois garçons jazem mortos com crânios esfacelados e a notícia se propaga pela cidade e pelo país transformando o crime numa lenda urbana que chega aos nossos dias devidamente dissecada pelo talento do históriador e escritor Boris Fausto. No livro "O Crime do Restaurante Chinês" ele conduz toda a trama (do assassinato ao pós -julgamento do suspeito)como se fosse uma obra de ficção, condimentando dados , perfis e cenários de maneira muito atrativa. Quando o leitor acha que vai dar alguns bocejos quando Fausto se atém a detalhes processuais ele rapidamente muda o foco e não dá tempo ao tédio. Fiquei sabendo mais do livro e tive minha curiosidade despertada por um artigo que Contardo Calligaris escreveu na Folha. Fosse pela péssima entrevista que Jô Soares fez com Boris Fausto eu não teria lido o livro. Mas esses são outros quinhentos. Interessa é que se o leitor de dispuser a ler as quase 250 páginas desse livro vai passar por momentos muito agradáveis. Boris é um craque como historiador e narrador. Lembro que há alguns anos quando o entrevistei para o programa "Literatura" sai menos ignorante do diálogo. Boris nos dá prazer em mergulhar na história ou no conceito de micro-história que a grosso modo reduz a escala de observação do historiador que a partir de fatos marcantes ou "menores" de um período pode radiografar as ações maiores daquele mesmo contexto.

Comentários

Jaime Guimarães disse…
Eu já ouvi falar muito do Boris Fausto, mas nunca li nenhuma obra dele. Mas pela resenha aí parece ser uma boa iniciar pelo "crime do restaurante chinês". Valeu!
Poh, para mim nada mais apropriado!

Estou desenvolvendo um trabalho sobre a estadia dos chineses na 25 de março.
Com certeza auxiliará no projeto de pesquisa; ainda mais se situar o chinês no contexto imigratório do Brasil.

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