VALÊNCIO XAVIER, SUA VIÚVA E O TEMPLO BUDISTA


Desculpem a literatice de quimeras,quireras,pedaços de memórias deixadas a esmo por aí. É que tudo vira certo pretexto pra pacificação interna quando a gente quer se harmonizar um pouco mais com os que estão ao nosso redor nesse inacreditável formigueiro humano que é  o planeta Terra. O tempo, fim de ano, contribui para essa tentativa, sempre vã infelizmente, de apaziguamento interior. Pois se eu,inconscientemente, buscava pretexto pra isso acabei achando um bem bonito no tarde do dia 23 de dezembro quando arrastava os cansados pés de sandálias Crocs pelo chão consagrado do templo Zulai nas cercanias de São Paulo, bem perto de onde moro. Vez por outra zanzo por ali a beliscar um pouco da paisagem, do cardápio vegetariano ou da paz que o templo exala .Dessa vez tinha ido levar umas roupas usadas pra doação e pra comprar uns modestos presentinhos budistas aos poucos familiares que vieram passar o Natal comigo. Lojinha sossegada, caridade e paz de espírito , essa era a idéia. Eis que quando saio da nave principal do templo vejo vindo em minha direção uma senhora muito simpática que com forte sotaque paranaense dizia me conhecer.

---Me conhece como ?
--- Eu via seu programa de televisão ... você entrevistou meu marido uma vez!
--- E quem era seu marido ?
--- Era o Valêncio Xavier ! faz um ano que ele morreu!

Da morte do Valêncio, consternado, eu já soubera um ano antes. Mas achei muito significativo, especial, estar ali com a dona Luci ( o nome da viúva dele) naquela tarde abafada, pré -natalina a falar de um escritor pelo qual eu tinha especial predileção fosse por sua agilidade mental , fosse por sua inventividade, fosse por sua sempre fervilhante inquietação que a crueldade do destino foi minando justamente  com  o mal de Alzheimer a doença mais aterrorizante para os que escrevem. A própria dona Luci achou muito feliz nosso encontro ali naquele lugar "abençoado", um templo budista cujo cerne é voltado para a vida eterna, a ressurreição. Achei muito "abençoado" também dona Luci poder falar do Valêncio logo ali num lugar que ela nem conhecia posto que mora no Paraná e estava ali de passagem. Passagem paranaense que no caso do Valêncio durou "uns 500 anos" como ele dizia . Nasceu paulistano mas se mandou para a terra do Dalton Trevisan muito cedo.
O  especial  apreço que eu tinha pelo Valêncio ( o mais jovem escritor brasileiro em atividade como dizia o Joca Terron quando Valêncio tinha 70 anos) vinha não só pelo seu estilo "dentro do dia veloz" de falar mas por sua prosa única, nada linear , que desfilou por livros inquietantes como "O Mez da Grippe" , "O Minotauro", "Crimes à Moda Antiga" ,  'Minha Mãe Morrendo e o Menino Mentido' ou o derradeiro publicado que foi "Remembranças" e que dona Luci me conta ter sido muito triste presenciar a reação de Valêncio diante das definitivas provas impressas do livro mostradas a ele. Olhar vago, perdido, olhou para a filha e para a mulher e perguntou :

 --- Mas quem foi que escreveu esse livro ?

Valêncio, os livros se escrevem por si mesmos, somos apenas os "cavalos" nos quais a energia criativa se incorpora para dar luz a obras de arte ou não ? Olha, eu não sei a resposta não. Só sei que depois de prosear com sua viúva e me lembrar de você voltei para a entrada do Templo e peguei um daqueles papelotes com pílulas do Darma  que o Zulai distribue. O meu papelote era verde e ao desembrulhar li o seguinte :

"Se nossa fala não puder ser  benéfica aos demais, então devemos nos calar".

Juro Valêncio que fiquei pensando nisso. Aliás continuo pensando pois meu juízo crítico e citrico as vezes exagera e me pergunto se é melhor só falar e escrever as coisas do bem ou se devo continuar mantendo o espirito azedinho - doce... sabes me responder ? se souber me diga através das ondas criativas que ainda julgo ser capaz de captar. Feliz ano novo aos seus e aos meus porque eu continuo aqui , cheio de dívidas terrestres a retemperas dúvidas .

Comentários

Unknown disse…
Para escreves mesmices estão ai milhares de pessoas !!!

Continue desperto , atento sem medo de Pensar o que nos dias de hoje é tão raro

As pessoas optam por seguir a corrente e nem sempre isso leva a um bom lugar

As vezes é melhor sair do barco e ir para a margem e depois saber que aquele barco furou , quando tanta gente nem sequer imaginava isso

Pense ... Escreva ... esse é seu dom Não o desperdiçe

A vida não vale a pena se a gente não a disfrutar e ao mesmo tempo ver de frente o que esta errado e dizer isso com todas as letras

Mesmo que isso só seja entendido por poucos ou muitos anos depois
Brasil Empreende disse…
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