NOITE E DIA COM ANTONIO MARIA

Estou a reler,a esmo,sem respeitar ordem das páginas a biografia “Um homem chamado Maria” escrita por Joaquim Ferreira dos Santos em uma edição da Objetiva (foto acima) que acresce fatos e fotos em relação à edição anterior que li inteira publicada pela Relume Dumará e publicada na coleção “Perfis do Rio” em meados dos anos 90.
Se me alimento da suave (nem sempre) melancolia de Maria não é sem uma certa sensação de masoquismo no sentido de sofrer por tempos idos e não vividos por mim mas vividos intensamente por uma geração que se ombreou em restaurantes e bares da belle époque carioca transformando a ainda hoje cidade maravilhosa em cidade dos sonhos, cidade imperdível , cidade apenas romanticamente partida numa era pré-apocalipse de milicias, falácias , traficantes e policiais imundamente corruptos.
Mas cá não estou pra tergiversar sobre espaço social urbano do Rio mas pra saudar a sempre bem vinda lembrança de Antonio Maria, ele só um gênero literário inteiro e completo como o foram Rubem Braga, Paulo Mendes Campos e Carlinhos de Oliveira não por coincidência os maiores cronistas de nossa literatura e que desfrutaram do Rio quase que nas mesmas épocas.
Ler Maria ou ler sobre Maria é ter de volta um Rio sepultado por tsunamis de futilidades , globalidades e celebridades, é sentir um cheiro de maresia que ainda não trazia misturada os fétidos odores dos novos tempos incluso aí os esgotos produzidos pelos ricos ao redor da Lagoa Rodrigo de Freitas. Mas acima de tudo ler sobre Maria ou ler Maria é ter a certeza de que já vivemos um tempo onde a boa escrita era mais valorizada e onde não se incensava assim por nada analfabetos do vernáculo como se fossem gênios da raça. E antes que eu comece aqui a evocar a parte “heavy metal” da melancolia de Maria (“Ninguém me ama, ninguém me quer”) vou mergulhar em questões mais práticas e dolorosas como dar satisfações ao fisco .Isso sim é um fiasco e em nada combina com a estética do Maria.

Comentários

Patricia Palumbo disse…
Ricardo, compartilho dessa paixão por Antonio Maria. Tenhos os diários e as crônicas, amo as letras das canções e vou procurar essa biografia.
boa lembrança.
um beijo,
Patricia
Jaime Guimarães disse…
Pois é, há uns 2 meses eu comprei, sem conhecer, o livrinho "Seja feliz e faça os outros felizes", do Antônio Maria. A organização dessas crônicas ficou a cargo do mesmo Joaquim Ferreira.

É um livro delicioso, leve, bem humorado - e isso do homem que compôs canções que foram sucesso entre aqueles que já passaram por uma dor de cotovelo ou fossa amorosa rs.

Um dos nossos grandes cronistas e por vezes esquecido - como João do Rio.

Quanto ao fisco, boa sorte. Melhor ficar com esta melancolia do que com a rebeldia de um Thoreau...se bem que dá vontade, né?

Abs!

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